Pesquisas continuam no Museu do Ipiranga

Mesmo com reforma, acervo do Museu Paulista da USP está sendo usado; novas peças são adquiridas

Por Maria Eduarda Nogueira

O Museu Paulista está em reformas. Crédito: Maria Eduarda Nogueira 

Ao entrar no Museu Paulista (MP), o cenário se assemelha a um canteiro de obras, ainda sem o movimento corriqueiro de engenheiros e construtores. As obras, oficialmente inauguradas no simbólico 7 de setembro, ainda não começaram. 

O Museu do Ipiranga é um marco no imaginário brasileiro e também na paisagem urbana de São Paulo. É um marco também para a Universidade de São Paulo, que além de ser responsável pelo local, realiza pesquisas no acervo. Mesmo fechado há seis anos, o Ipiranga continua contribuindo para a formação de alunos e professores. E, curiosamente, continua adquirindo novas peças.

É o que revela a dissertação de mestrado feita por Leonardo da Silva Vieira, que investiga a política de aquisição de acervo de 1990 a 2015. Desde o fechamento do museu, em 2013, as obras adquiridas foram transferidas para a reserva técnica, junto com as antigas. 

O crescimento do acervo é uma das justificativas para as reformas, afirma Cecília Helena de Salles, docente sênior e diretora do Museu até fevereiro de 2012. “A medida em que avançamos no tempo, o museu precisa recolher coleções e registros para a posteridade”.

A reforma é discutida há algum tempo. Desde 1990, fala-se sobre a necessidade de restauração do prédio, que completa 124 anos. Além de melhoria da infraestrutura, é preciso pensar em novas demandas, como acessibilidade.

Do modo como está hoje, o Ipiranga não atende pessoas com mobilidade reduzida ou com deficiência visual, o que contrasta com outros espaços culturais da cidade de São Paulo. 

Mudanças ocorrerão no entorno do prédio. Apesar de proporem alterações “modernizadoras”, como a inclusão de escadas rolantes e um saguão de entrada um tanto quanto futurista, Cecília acredita que isto não terá impacto negativo na identidade do museu. “O Museu não vai perder a identidade dele nunca. O prédio do museu faz parte da cidade de SP e do imaginário brasileiro. A intervenção não vai descaracterizar de maneira nenhuma. Ao contrário, vai permitir que maior número de pessoas tenha acesso ao prédio.”

Como andam as pesquisas

Apesar da interdição das visitas por causa da reforma, ainda é possível desenvolver projetos com o acervo. Atualmente, os interessados em pesquisar os arquivos textuais ou iconográficos devem agendar a visita a um dos espaços de reserva técnica, nas proximidades do prédio. 

Leonardo Vieira, que fez sua dissertação entre os anos de 2016 e 2018, usou exclusivamente a documentação do Ipiranga. Todo o acervo é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), embora muitas peças adquiridas ainda na década passada não tenham recebido seu registro de tombamento. 

Para Cecília, que acompanhava as previsões de uma grande intervenção no prédio, “se não mantivermos as atividades, o acervo não vai ser cuidado e também nós não daremos continuidade aos projetos de pesquisa de cada professor e de seus respectivos alunos.”

As pesquisas são um jeito de zelar pelo Museu.

Infográfico: Isabella Velleda