Quem te viu, quem TV USP

JC encontra parte do acervo numa sala da Rádio USP sem as condições mínimas de conservação

Por André Netto e João Vitor Ferreira

Acervo da extinta TV USP, em depósito impróprio no prédio da Rádio USP. Créditos: André Netto

A USP possui diversos meios de comunicação que buscam levar um pouco do conhecimento produzido na universidade para a sociedade. A partir daí, surgiram veículos como a Rádio USP, o Jornal da USP, a Agência USP e a TV USP. O problema é que, com o passar do tempo, a situação se tornou financeiramente insustentável.

O resultado disso foi uma fusão ao redor do Jornal da USP, que resultou no fim da Agência USP em 2016 e em uma redução expressiva da TV USP, que perdeu funcionários e equipamentos. Todo o acervo do canal, contendo centenas de programas e conhecimento produzido ao longo de décadas, está esquecido e inacessível.

O Superintendente da Secretaria de Comunicação Social da USP (SCS), Luiz Roberto Serrano, contou que a TV USP foi desativada durante a transição para o meio digital, e que pouco a pouco a programação está retornando. “Na verdade nós repusemos em funcionamento. Não achamos necessário fazer uma transmissão como era antigamente, televisão. Nós achamos que o Youtube hoje é o canal que dá mais vazão em vídeo, então a TV USP está voltando ao ar via Youtube”, explicou

Onde estão?

Quando se imagina um acervo de um veículo como a TV USP, é de se esperar que toda a produção esteja organizada e sob os devidos cuidados para sua preservação. Porém, o que temos são duas salas pequenas repleta de caixas de papelão empilhadas e alguns equipamentos jogados pelos cantos.

As duas salinhas ficam no prédio onde atualmente funciona a Rádio USP. O local funciona como um depósito, não é apropriado para guarda do acervo. As fitas contendo os programas e documentários filmados pela extinta TV estão todas empilhadas umas sobre as outras, dentro de caixas. No mesmo ambiente também se encontram monitores e equipamentos de iluminação, que não podemos identificar se ainda teriam alguma serventia. 

George Campos, WebDeveloper da SCS confirma que “o acervo está em caixas armazenadas na Rádio USP. Ainda não é o local ideal, a gente gostaria de ter um projeto de digitalização, mas ainda não temos condições para fazer esse tipo de serviço. Parte deste conteúdo está em fitas e precisa ser digitalizado e tratado para que seja disponibilizado, e a gente ainda não recursos nem mão de obra, é bem complicado”.

Campos também apontou para a importância de digitalizar o acervo, tanto pela preservação do material, quanto pelo conteúdo guardado nas fitas. Para ele, “assim como parte da produção do que foi feito pelo Jornal da USP está em livros impressos guardados, seria importante ter a digitalização de tudo, mas isso precisaria ser um grande projeto”.

Djalma Ferreira, técnico de audiovisual do departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP e ex funcionário da TV, disse que desde o seu desligamento, há aproximadamente 5 anos, o material está sendo guardado dessa maneira. O técnico também lembrou que, quando ainda trabalhava lá, houve uma tentativa de digitalização do acervo, ideia descartada pelo alto custo.

Ao ser perguntado sobre uma possível restauração das fitas, Djalma acredita que dificilmente elas possam ser recuperadas. Devido ao estado de conservação, ele supõe que os materiais devem estar embolorados.

Os equipamentos

Em uma das duas salas da Rádio USP que contém o acervo, há também vários equipamentos como monitores, peças de televisões e tripés que estão largados no recinto. Eles não foram reaproveitados pela própria SCS e, atualmente, estão obsoletos, mas poderiam ter sido utilizados por outros institutos logo que a TV USP foi desativada. 

George Campos explicou que alguns equipamentos foram doados no início deste ano para a ECA, depois de um longo período sem nenhuma utilização. Ainda assim, uma boa parte segue sem ser aproveitada ou sem ter o descarte adequado. “Se houvesse um interesse de alguém na universidade nisso a gente faria a doação numa boa. A gente mesmo já foi lá no CEDIR para fazer doações de equipamentos de informática, tecnológicos”, disse.

 

Como deveria ser

Para fazer um comparativo, visitamos o acervo de fitas cassete da biblioteca da ECA, localizada no prédio central da Escola de Comunicação e Artes. O que encontramos foi um cenário completamente diferente: todo o material estava devidamente organizado em prateleiras metálicas, com as fitas na vertical. A sala, embora pequena, possui ar condicionado e desumidificador, para evitar que fungos se propaguem pelas fitas.

A funcionária responsável pelos acervos da biblioteca, Marina Macambyra foi quem nos mostrou o local, e ela ainda ressaltou: “Nossas condições estão longe de serem ideais, mas o que temos aqui é o mínimo que se precisa para armazenar fitas magnéticas.” Como citamos, o material da TV, ao invés de prateleiras, está em caixas; a salinha não possui desumidificador e o único equipamento, que preenche os requisitos mínimos, encontrado foi um ar condicionado.