Vidas secas: água continua acabando no prédio de Letras

Quando a água acaba, algumas aulas continuam, outras são canceladas; e já faz tempo

Por Ligia Andrade

Para Raquel, Vidas Secas não se limita à obra de Graciliano Ramos. Crédito: João Pedro Malar

Em 21 de agosto deste ano, alunos das Faculdades de Ciências Sociais, Filosofia e Letras foram avisados pelo Serviço de Comunicação Social da FFLCH que suas aulas, nos períodos vespertino e noturno, seriam canceladas pela falta de água. O motivo seria a interrupção do abastecimento, causada por uma manutenção realizada pela Sabesp. Relatos apontam, porém, que o problema é corriqueiro, e que a falta de água atrapalha o prédio da Letras há anos.

Raquel Malagoli, 22, decidiu entrar na USP para frequentar o curso de Letras em coreano. Entre finais de semestre e estudos literários, às vezes se depara com a estranha situação de não poder encher sua garrafa no bebedouro ou ir ao banheiro. Em quase dois anos frequentando a faculdade, presenciou a falta de água no prédio cerca de seis vezes, enquanto seu namorado, estudante da Escola Politécnica da USP há quase quatro anos, nunca presenciou algo assim em seu curso.  

Para sempre provisório

“Sempre falaram que o Prédio da Letras, desde que saiu da Maria Antonia, era um prédio provisório”, relata Raquel. Além da falta de água, a infraestrutura do prédio também parece preocupar os alunos. Infiltrações podem ser percebidas nos tetos e, quase semanalmente, cabines dos banheiros são interditadas para manutenção.

Livian Pereira Santos, 20, do terceiro ano do curso de Letras em russo, revela que presenciou diversas vezes a queda de partes do teto, feitas de um material frágil “como isopor”, em cima de alunos, por conta da infiltração. Quando não falta água, revela que sua cor é esbranquiçada, com alta concentração de cloro. Quando falta, geralmente por períodos de dois a três dias, muitas vezes as aulas não são canceladas, e os alunos precisam se locomover a outros prédios para poderem utilizar bebedouros e banheiros. 

No último dia 21, quem enfrentou essa situação foram os funcionários, professores e alunos do período matutino, que não tiveram suas aulas canceladas. A plataforma oficial de comunicação da FFLCH aconselhou àqueles que enfrentassem a falta de água em seus prédios, como o da Letras, a utilizarem os banheiros e bebedouros do Edifício Eurípedes Simões de Paula, dos cursos de Geografia e História. A distância entre o Prédio da Letras e o Edifício é de 300 metros, ou quatro minutos a pé.