Bota a cara no Sol

Por Tamara Nassif

Num Brasil cujo presidente já declarou que filho “meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele”, ser e estar são verbos de ordem. No microcosmos da Universidade de São Paulo – que pensamos ser tão inclusiva e prafrentex –, não é diferente. 

Não que ela não seja inclusiva e prafrentex, muito pelo contrário: aqui se respira coletivos feministas, negros e LGBTs, comissões de acolhimento e anti-opressões, escritos em banheiros de “liste aqui os boys machistas” e “cota não é esmola”. Nós uspianos vivemos em um antro de segurança e liberdade, em que a ameaça de um “homem de boné vermelho” gera assembleias, panfletos de alerta, mensagens encaminhadas em grupos no WhatsApp.

Fora dos portões, o homem de boné vermelho pode ser qualquer um. Se bobear, ele é até chamado de comunista. A insegurança é latente, o medo estampa o rosto, a vulnerabilidade é regra. 

Mas, e para os trans?

Charge: Beatriz Askashita

A insegurança é latente, o medo estampa o rosto, a vulnerabilidade é regra – dentro e fora dos portões. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, isso não é segredo. A Universidade de São Paulo é hostil, o próprio Jornal do Campus denunciou no meio deste ano. 

Isso ainda é um segredo? O que tem sido feito? Nós ainda discutimos questões tão básicas quanto nome social e banheiros adaptados quando deveríamos ser referência para escolas e outras universidades, como somos em tantos outros aspectos.

Claro, avanços existem. A UFABC, por exemplo, reservou cotas para pessoas trans por meio do Sisu. A história de Jesus personificada por uma trans, na peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, com certeza fez a família tradicional brasileira, da moral e dos bons costumes, ter uma síncope. Quando incomoda essa galera é porque algo de certo foi feito.

Existem avanços e são importantes, mas em números são pequenos e deixam claro que ainda há muito a ser feito. E isso vale para todas as minorias. Saiamos dos armários, da cozinha, da costura, das caixinhas binárias de gênero. 

O ano é 2019, o presidente é um boçal e já passou da hora de termos nossos lugares assegurados, por lei ou por luta.