César Lattes, o brasileiro cuja descoberta foi premiada com Nobel

Cientista brasileiro, sete vezes indicado ao prêmio, estava na equipe que o recebeu em 1950

Por Caio Santana

Crédito: Divulgação

Se o prêmio Nobel não fosse concedido somente ao líder da equipe vencedora, o Brasil teria o seu desde 1950, quando a descoberta do brasileiro César Lattes levou a láurea de Física, recebida por Cecil Powell, comandante do laboratório inglês onde foram desenvolvidos métodos fotográficos para registro dos mésons – o brasileiro foi ainda indicado ao Nobel por sete anos consecutivos, de 1950 a 1956. 

Césare Mansueto Giulio Lattes, ou somente César Lattes, nasceu em Curitiba. Filho de italianos, mudou-se para São Paulo e, aos 19 anos, formou-se em Física e Matemática pela USP, na turma de 1943.

Quatro anos depois, em 1947, seria o responsável pela descoberta da partícula subatômica “méson pi”, hoje conhecida como píon, cuja função é manter prótons e nêutrons juntos no núcleo dos átomos.

Em busca de respostas

Com bacharelado na mão, o jovem cientista continuou sua pesquisa. A primeira grande descoberta veio em conjunto com o professor Giuseppe Occhialini, italiano e docente da USP, e o cientista inglês Cecil Powell, chefe do grupo de pesquisa do laboratório H. H. Wills, da Universidade de Bristol, Inglaterra.

A equipe de Powell estudava a desintegração de partículas subatômicas utilizando placas fotográficas. Ao estudar os raios cósmicos, o brasileiro havia imaginado que, ao entrarem na atmosfera terrestre, estes geravam partículas. Para comprovar sua tese, Lattes leva placas aos Pirineus franceses, cerca de 2.500 metros de altitude. Ao revelar os registros, obteve as primeiras evidências da existência do méson pi.

Buscando mais precisão, Lattes introduziu o elemento químico boro na composição das placas. Ele acreditava que, além do boro, o dobro de altitude poderia permitir registrar ainda mais mésons pi. O laboratório de Bristol custeia sua ida ao Rio de Janeiro junto com os equipamentos, mas a partir dali ele teria que seguir e chegar ao destino sozinho: o Monte Chacaltaya, na Bolívia.

Hipótese estava correta

Do alto dos Andes o físico capturaria mais mésons pi, levando-os de volta à Bristol. Os resultados foram publicados imediatamente na revista científica britânica Nature, em outubro de 1947, com César Lattes constando como autor principal, seguido de outros nomes, como seus parceiros Occhialini e Powell – na premiação do Nobel, em 1950, o chefe da equipe, como era regra, recebeu o prêmio.

De volta ao Brasil, escreveu ao também físico José Leite Lopes talvez sua declaração mais famosa: “Prefiro ajudar a construir a ciência no Brasil do que ganhar um Nobel”.

Foi docente na USP, na UFRJ e se transferiu para a recém criada Unicamp, em 1967, onde se aposentaria. Faleceu em 2005, aos 80 anos. Em sua homenagem, a mais importante plataforma de referência acadêmica e científica no Brasil leva seu nome – a Plataforma Lattes – criada em 1999.