Depressão e esporte: entre a causa e a cura (Parte 2)

Apesar dos benefícios que vão dos títulos À saúde, os atletas sofrem: eles têm maior taxa de depressão e ansiedade

Por André Netto

Créditos: Bruna Rodrigues da Silva/ Jornal do Campus

Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol, ou em competir numa Olimpíada? Mas o caminho, além de longo, pode ser bem perigoso. A pressão de disputar em alto nível e de entregar resultados, as derrotas e as lesões podem levar os atletas a um caminho bem comum: a depressão.

Um dos casos mais famosos no Brasil é o de Pedrinho, ex-jogador do Vasco da Gama e com passagens por diversos outros clubes brasileiros. O próprio jogador já comentou em várias entrevistas que chegou a ser diagnosticado com depressão profunda, principalmente devido às lesões no joelho que o impediam de jogar futebol e à pressão por resultados.

Conhecida como a patologia do século 21, a depressão está muito mais presente no esporte do que as pessoas imaginam: um estudo feito em 2015 pela FIFPro (Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol) apontou que 38% dos atletas tinham sintomas de depressão ou ansiedade. Foram entrevistados mais de 600 jogadores na pesquisa.

A porcentagem de casos em atletas é bem maior do que a média global. No Brasil, um dos países com mais casos de depressão, 6% da população sofrem com a doença. A estimativa da Organização Mundial da Saúde é que, até 2020, ela seja a mais incapacitante do mundo.

Mas por que os números no esporte são tão mais elevados? De acordo com a professora Katia Rubio, coordenadora do Observatório de Psicologia do Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da USP, há “uma grande negligência quando se fala em saúde mental no esporte, principalmente no Brasil”.

Quando algo tão crucial como a saúde mental dos atletas não têm a devida atenção, basta uma sequência ruim de resultados e tudo pode ir por água abaixo, com perda de patrocínio, de rendimento ou mesmo do contrato competitivo. Como explica a professora, “a obrigação do atleta não é apenas treinar e fazer a sua função, mas ele se vê obrigado a ganhar a qualquer preço. A derrota deixa de ser algo que faz parte da vida do atleta e do esporte para virar o que tem que ser evitado a qualquer custo”.

No Brasil, são poucos os clubes que têm esse cuidado com o estado mental de seus atletas. Em 2017, apenas seis dos 20 clubes do Brasileirão possuíam um psicólogo dedicado exclusivamente ao time profissional. Isso se deve “porque ainda prevalece entre os clubes brasileiros a representação social de que a psicologia é um trabalho para loucos, e então não seria algo necessário para os atletas”, afirma Katia. 

A professora também destacou a crescente importância que grandes potências esportivas, como os Estados Unidos, vêm dando para o psicológico de seus atletas. “Seria muito importante que esse tema fosse tratado com mais carinho e responsabilidade dentro do esporte. A gente tem visto isso principalmente nos Estados Unidos, como isso tem sido cada vez mais cuidado e que, no Brasil, ainda não recebe a mesma atenção, o que mostra o quanto o esporte aqui ainda é amador”.

Apesar de fenômeno global, a questão da depressão entre os atletas em território brasileiro projeta-se a níveis muito mais preocupantes, onde pressão por eficiência não caminham juntas à infraestrutura e auxílio à saúde dos esportistas de alto rendimento.