Inseguranças vividas e anunciadas

Nesta análise, começo por destacar o crescimento das visualidades. A matéria especial sobre segurança na universidade é aberta com uma reportagem visual em quadrinhos sobre “O grande furto da ECA”. Seguem-se mais três páginas com fotos e infográficos. A imagem da chamada de capa, que teve a inserção de elementos, não é de fácil apreensão, o que talvez pode combinar com a legenda que aponta “inseguranças que nem todos enxergam”.

Dulcilia Buitoni. Crédito: Arquivo Pessoal

Torna-se necessária uma certa busca para descobrir as várias formas de insegurança que foram incluídas na montagem. Porém, a dimensão da imagem denota a importância da matéria, que, em quatro páginas, trouxe muita informação. As imagens das páginas 8 e 9 são um pouco pequenas e por vezes não remetem ao tema. As fotos do ato em frente à UNESP na matéria “Contra o desmonte da educação” estão numa diagramação que traduz a ideia de movimento e realmente apresentam o que chamo de “embrião narrativo”. São fotos mais “jornalísticas”. No entanto, a foto que mostra o texto de protesto formado por caixas está muito pequena.

Por outro lado, o texto da matéria não faz nenhuma referência à manifestação de estudantes, funcionários e professores, nem menciona a data em que houve a manifestação tão bem documentada em fotos.

Por sua importância, a possibilidade da reformulação de departamentos na UNESP e de fusões de cursos – propostas que talvez sejam adotadas pela USP e pela UNICAMP – mereceria uma chamada na capa. Temas pertinentes e sensíveis foram bem explorados: a questão dos suicídios, pós-doutores dando aulas, a agência que substituiu o Sistema Integrado de Bibliotecas (SIB), falta de água na Letras, Eliel Benites, o professor indígena, a sobrevivência do museu do Ipiranga para pesquisas etc. A matéria sobre os dois jovens inocentes presos durante 29 dias é muito boa, transmite a vida e a vivência de Ytalo e Arlailson. Senti algumas faltas: as idades deles, onde estudam, o que fazem seus pais. Pequenos detalhes que acrescentariam ainda mais proximidade com essas injustiças estruturais tão recorrentes em nossos dias.

Dulcilia Buitoni, jornalista, pesquisadora e ex-professora da ECA