Novo sistema de ingresso na USP continua favorecendo privilegiados

Maioria dos selecionados são de colégios particulares, institutos federais, escolas técnicas e de aplicação

Por Maria Eduarda Nogueira

Créditos: Marcos Santos/ USP Imagens

Em agosto, alunos medalhistas em olimpíadas de conhecimento, como de Matemática e Física, entraram pela primeira vez na USP sem passar pelo vestibular, aproveitando resultados obtidos em competições nacionais e internacionais. O novo sistema privilegia quem se sobressai no Ensino Médio.

Dos 81 ingressantes, o JC apurou que 53 são provenientes de escolas particulares. Dos 28 de escolas públicas, 18 vem de institutos federais, escolas técnicas ou colégios de aplicação. Pelo menos na primeira tentativa, o novo sistema privilegia aqueles que já tinham as portas mais abertas para a universidade.

Segundo o pró-reitor de Graduação, Edmund Chada Bacarat, o objetivo é “possibilitar o ingresso de estudantes medalhistas”. A seleção feita por meio dos vestibulares como Fuvest e ENEM exige domínio de múltiplas habilidades. É preciso ser bom em diversas áreas de conhecimento, controlar o nervosismo nas provas e, ainda por cima, se sobressair em relação a pessoas que cumprem todos os requisitos anteriores.

Excludente

Mayumi Liz, aluno do IFSP, foi aprovada no curso de Engenharia Ambiental. A Escola Politécnica é a que exige as maiores pontuações: são necessários cinco pontos para ingressar em qualquer um dos cursos. Isso significa que o aluno deve ter medalha de ouro em duas olimpíadas brasileiras ou em uma olimpíada internacional. 

Outras combinações também são possíveis, conforme a tabela de pontuação que acompanha esta reportagem, mas um fator é determinante: é preciso que o aluno tenha estrutura escolar e familiar para se preparar para esse tipo de competição. 

Liz conta que começou a se interessar graças ao incentivo de sua escola desde o Ensino Fundamental, uma escola particular. No Ensino Médio, uma professora montou um grupo de estudos para os alunos que participariam da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Liz participou e obteve a medalha de bronze. Essa e mais algumas outras medalhas lhe garantiram a vaga na Poli. 

Para ela, o sistema implantado pela USP é excludente. “É algo que pensei desde o começo: não se levou em consideração as disparidades entre escolas públicas e privadas. Esse tipo de método raramente leva.” Com vaga garantida, ela prestará Fuvest no fim do ano para o curso de Física Médica. 

Desvalorização das humanas 

Até agora, 21 competições são aceitas. Cada unidade determina quais e o número de pontos necessários. Neste ano, foram 113 vagas, 81 preenchidas. A maioria de cursos de Exatas e Biológicas, salvo algumas exceções em cursos como Design e Gestão de Políticas Públicas.

A Unicamp adotou sistema semelhante no ano passado, disponibilizando 114 vagas através de 20 olimpíadas, entre elas a Olimpíada Nacional em História do Brasil. Em Campinas, o ouro nesta competição garante o ingresso no curso de História.

Na USP, para quem pretende algum curso da área de humanidades, resta estudar disciplinas de exatas e biológicas e enfrentar o vestibular da Fuvest.