Projeto Sabiá quer continuar voando

Iniciativa que leva música para alunos da rede pública enfrenta dificuldades

Por Guilherme Roque

O Projeto Sabiá realiza diversas atividades com alunos da rede pública de ensino. Crédito: Projeto Sabiá/ Divulgação

O projeto Sabiá Laranjeira, que leva música clássica gratuita a escolas públicas corre o risco de – em linguagem administrativa – “ser descontinuado”.

Criado em 2016 por três alunos e um professor de música da ECA, os idealizadores temem pela continuidade da iniciativa porque os recursos do edital de ajuda de custo acabam no começo de 2020 e ninguém sabe de onde tirar o dinheiro depois disso.

A ideia do Sabiá Laranjeira é simples e, ao mesmo tempo, transformadora: reúne alunos e convidados para pequenos concertos em escolas públicas com aulas sobre o instrumento e o universo musical. Os encontros incluem o conhecido “abre pras perguntas”. 

“As perguntas são as mais variadas e sensacionais. Uma aluna perguntou uma vez se era possível tocar funk no Cajón, instrumento de percussão. Ao longo do tempo a gente nota que há uma evolução no interesse dos alunos com os concertos. No começo eles ficam fazendo piadas e falando bastante, mas depois passam a prestar atenção e fazer perguntas pertinentes”, conta Fábio, um dos idealizadores.

Num país tão desigual quanto o Brasil, diversas crianças sequer viram um instrumento musical ao vivo, menos ainda aprenderam sobre música e nem vamos perguntar quantos ouviram as melodias de Beethoven. Porém, o quase inalcançável tem se tornado realidade graças ao Projeto Sabiá Laranjeira.

Pedra no meio do caminho

Após inúmeras tentativas de obter auxílio financeiro através de editais, os organizadores finalmente conseguiram, neste ano, ajuda de custo para banners, folhetos e o transporte dos músicos. O projeto conta com 26 alunos que realizam as apresentações nas escolas, contemplados com bolsas do Programa Unificado de Bolsas de Estudos para Apoio e Formação de Estudantes de Graduação (PUB-USP).

Apesar do apoio conseguido cobrir custos de transporte e material impresso – e as bolsas ajudarem com os gastos pessoais dos alunos – o projeto não tem nenhum auxílio no que diz respeito aos instrumentos musicais. Como conta Fábio, por muita das vezes esses equipamentos são empréstimos de amigos ou conhecidos, e quase nunca são os ideais para as apresentações. 

“A gente coloca lá no grupo do WhatsApp ‘quem tem uma caixa de som para emprestar em tal dia’. E aí se alguém tiver ou conhecer alguém que tenha nós pegamos e usamos – a mesma coisa para os instrumentos. Já teve caso de termos uma apresentação frustrada por causa disso: era um concerto para turma EJA, e estava lotado. Estavam se apresentando um grupo com um violão, e na parte solo do violão, a partir da terceira fileira já não dava para escutar nada”, relata.

O projeto está crescendo e diversas escolas entram em contato com os organizadores para marcar apresentações, porém o custo não permite que o Sabiá Laranjeira atenda muito mais do que as cinco escolas atuais.