Quem assume a universidade pública?

Por Laura Scofield

Muros de vidro sem dono, projetos bancados pelos alunos, e atletas que, mesmo sem estrutura, não param de treinar. A universidade pública é formada por uma mistura de negligência, esforço e paixão, cada qual proveniente de um de seus atores – às vezes, de dois ou mais. 

Charge: Beatriz Cristina

É fácil assumir o inquestionável, e a institucionalidade – que afirmo, não é nossa inimiga – busca fazê-lo. A descoberta de César Lattes, o possível Nobel, os eventos acadêmicos cheios de jovens, as grandes personalidades literárias, as medalhas do esporte. A universidade em seus três pilares: ensino, cultura e extensão. 

Assumiremos nossas pesquisas mesmo em meio à tenebrosa CPI das Universidades. Figuras antes conservadoras agora postulam contra atitudes do governo, vide a presença dos reitores das estaduais paulistas em evento a defender a autonomia financeira universitária. Fizeram bem. Mas e o menos óbvio? Quem assume?

Quem assume a festa, elitista ou não, no centro da cidade? O atleta lesionado que não obteve auxílio no CEPE? As opressões e faltas dentro do Crusp? A moradia estudantil, que só chega no Largo pelo trabalho do Centro Acadêmico? Por fim, quem assume, ou ao menos cita, o muro de vidro da USP? Quais são nossas responsabilidades?

É necessário pensar sobre o que assumiremos e, principalmente, como defender a universidade sem assumir o pacote inteiro. Não assumimos o gasto de milhões em obras de vidro em aço. Isso porque assumimos a necessidade do aumento das bolsas estudantis – ninguém vive com 400 reais em São Paulo. 

O problema é quando a improbidade administrativa pode virar justificativa para a abertura ao setor privado. Como criticar a universidade por dentro quando as maiores ameaças vêm de fora? Como defender sem se perder na emoção? 

Não existe uma única resposta. Mas, entre as dúvidas, existe uma certeza: por meio da informação. E é por isso que falaremos de novo dos erros, da faltas e excessos. Da importância de se saber sobre, de se pensar criticamente e, em casa ou na sala de aula, pensar: “o que eu assumo? E por quê?”