Rede colaborativa ajuda alunos vulneráveis da Poli

Mesmo sem vínculo formal, ex-alunos e empresas contribuem com know-how, mentoria e doações em suporte a estudantes carentes que se destacam

Por Eduardo Passos

Créditos: Cecília Bastos/ USP Imagens

Se os recentes contingenciamentos da área educacional causaram incertezas aos estudantes que dependem de bolsas e auxílios, os alunos da Escola Politécnica contam com uma opção de ajuda social que vai além do dinheiro. O Programa Retribua concede bolsas e mentorias a graduandos dos cursos de engenharia — tudo financiado e operado por ex-estudantes e empresas que, através de doações e trabalho voluntário, procuram retornar parte do que a USP os proporcionou.

O programa é mantido pela Associação dos Engenheiros Politécnicos, uma organização que representa os formados pela Poli. De acordo com Dario Gramorelli, diretor-geral da AEP, as doações vão de quantias da ordem de dezenas a dezenas de milhares de reais. “O fato do trabalho ser perene, porém, torna necessário estarmos sempre em busca de doações”, destaca. 

Mantido por fundos particulares, as recentes políticas governamentais não provocaram mudanças diretas na oferta, mas a situação do país, indiretamente, dificulta o trabalho. “A limitação econômica que muitas pessoas estão tendo é um impeditivo para gente. Sem dúvida aumenta nosso trabalho na busca de doadores”, lamenta o engenheiro mecânico. 

Diminuição

Por conta da escassez de doações, o valor do benefício foi reduzido, em 2017, de um salário mínimo para R$ 600. Porém, de acordo com o diretor, um dos motivos do corte foi atender um maior número de solicitantes.

A relação entre o Retribua e órgãos estatais se limita quase exclusivamente à cessão, por parte da USP, de dados que ajudem a classificar os estudantes na concorrência dos serviços. Os números fornecidos também servem à certificação de que os beneficiados mantenham o mérito acadêmico, justificando os benefícios.

O diretor ressalta que esses critérios são necessários pois a AEP não tem condição de sustentar todos os candidatos: 80% dos auxílios se destinam aos alunos dos dois primeiros anos de curso, que possuem maior dificuldade em trabalhar e ainda não possuem bagagem técnica para se tornarem estagiários. Além disso, há a intenção de se valorizar o bom desempenho escolar.

Mentoria

Em paralelo ao auxílio financeiro, os bolsistas podem ser mentorados por ex-alunos da comunidade politécnica a fim de ajudá-los na evolução acadêmica. “A ideia não é ser um tutor escolar, mas uma pessoa com mais experiência de vida e profissão que ajude esse aluno — muitas vezes prejudicado pelo trauma da carência social e frequentando um curso difícil — nas questões de adaptação à escola e ao mercado”.

Todo processo é acompanhado por psicólogos e por uma metodologia que garanta a eficiência, respeito e satisfação dos envolvidos. Apesar das dificuldades, Dario é ambicioso e pretende não só ampliar a oferta de bolsas, mas também propor soluções que abranjam alunos da pós-graduação e que envolvam ainda mais a comunidade. “Felizmente estamos juntando cada vez mais pessoas nesse ideal e acho que temos um futuro legal pela frente”, finaliza, positivo.