A comunidade biológica do campus é uma das mais ricas da região

O que sabemos sobre a fauna e flora que nos rodeiam

Por Ana Gabriela Zangari Dompieri

Foto: Matheus Januário

Matheus Januário, que é mestre em ecologia pela USP, dá um parecer sobre como chegamos até a configuração atual: “Originalmente a região do campus era de Mata Atlântica com pequenos fragmentos de Cerrado. Depois disso ela virou uma fazenda”. Por conta do desmatamento, só restaram 10 hectares da vegetação original, o que corresponde a pouco mais de 1% da área do campus. “Posteriormente a fazenda foi doada ao governo do estado, que então decidiu construir a cidade universitária aqui”. 

Nos anos 60 houve plantios que trouxeram plantas como a tipuana, que hoje é predominante no campus e pode facilmente ser encontrada na avenida da raia olímpica. Essa espécie é originária da Bolívia e do Norte da Argentina, o que exemplifica a postura do reflorestamento como apenas um plantio de espécies, sem a recomposição da comunidade desmatada ali. 

“Na área que cerca o Instituto de Biociências há uma mata na qual muitas espécies foram parar. Algumas dessas plantas são nativas e outras não são originárias daqui. Hoje elas compõem uma pequena reserva florestal na USP.”

Atualmente o campus é uma das manchas verdes da cidade de São Paulo. “Elas estão parcialmente conectadas, trocando espécies, famílias genealógicas de plantas através da dispersão própria delas e também da ação humana”.  

A flora do campus é, segundo Matheus, “um mosaico”, porque “algumas espécies são de fato daqui, como alguns tipos de palmeiras, mas várias são plantas de paisagismo, ou ornamentais, e que vêm de outras regiões do mundo como México, Europa e Austrália.” 

Quanto a essas espécies exóticas, o mais importante dos casos é o da palmeira australiana (Archontophoenix cunninghamiana). “Uma espécie invasora é, resumidamente, uma que não veio dessa região do mundo e, além disso, está prejudicando o crescimento das espécies nativas. Ou ela cresce muito mais rápido, ou é uma melhor competidora, ou ela pode até mesmo matar outras espécies de uma forma mais direta. Essa palmeira invasora foi e é um problema ambiental aqui no campus”. 

O problema das espécies invasoras é que elas podem gerar uma redução na biodiversidade local. “Ela acaba dominando a paisagem, pois interage majoritariamente com espécies que não tiveram uma história evolutiva de convivência com ela.”

Apesar disso, para o ecólogo, o espaço da cidade universitária “tem coisas muito legais, como mais de 30 espécies de epífitas, que são essas plantas que vivem sobre os troncos das árvores. Também há uma grande variedade de musgos e de angiospermas, que são as plantas com flores. Há uma diversidade muito alta aqui, principalmente se comparada ao resto da cidade de São Paulo.”

Apenas animais que não precisam de uma grande extensão de mata ao seu redor conseguem viver no campus. Mas mesmo com essa restrição, eles se somam formando uma biodiversidade privilegiada, inclusive para pesquisas. “A USP é um dos melhores locais para a observação de pássaros na região oeste. Tem até tucanos aqui dentro. E em determinadas épocas do ano aves migratórias param aqui para descansar. Tem também toda uma diversidade alta de de seres pequenos como insetos ou fungos, e que as pessoas raramente se dão conta que sequer existem. Mas eles estão aqui, nos fazendo companhia quase todo dia”. Matheus citou também saguis, lagartos, gambás e até cobras inofensivas na cidade universitária.

Além desses organismos, o JC coletou fotos para expor outros componentes da fauna uspiana encontrados em diferentes situações pelo campus. 


As lagartas formam um casulo para passar pela metamorfose e se tornarem borboletas e mariposas e algumas vezes esse casulo é uma verdadeira escultura. Foto: Matheus Januário
Esta pequena aranha (além de mimetizar bem uma formiga), estava dentro de uma das bromélias do campus, cuidando dos seus ovos contra possíveis invasores. Ela fica atenta ao perigo até a sua prole emergir. Foto: John A. Uribe

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: John A. Uribe
O sapo cururu é uma das espécies mais comuns da cidade universitária. Esse aqui estava fazendo esse olhar misterioso no Instituto de Biociências. Foto: Matheus Januário
Fungos vão muito além dos bolores que normalmente vemos e frequentemente apresentam as formas mais curiosas da natureza. Esse fungo estava num tronco de árvore velho e era mais ou menos do tamanho de uma bola de ping-pong. Foto: Matheus Januário
Os tucanuçus são vistos cada vez mais na Cidade Universitária. Eles comem muitos tipos de comida, encarando de pequenos frutos a pássaros menores. Foto: Matheus Januário
A bananeira pertence a um grupo de plantas com uma anatomia particular. Por exemplo, o que muitos chamariam de “caule” (e que termina nesta linda flor) é, na verdade, feito das folhas da planta, que possuem mais de 1,5 m de comprimento. Foto: Ana Gabriela Zangari Dompieri