Árvores que choram

Gotas que caem das árvores são excretas de insetos; substância é composta de água e açúcar, mas sua ingestão não é recomendada

Por Ana Gabriela Zangari Dompieri

Foto: Eduardo Passos/ Jornal do Campus

Em algumas épocas os frequentadores do campus podem ver e até sentir muitas gotas caindo de árvores, um fenômeno às vezes tão intenso que parece estar chovendo embaixo delas. Matheus Januário explica o que gera esse curioso gotejamento.

Apesar de vermos normalmente no campus as gotas caírem de tipuanas, porque elas são as mais comuns nos espaços de circulação, várias espécies de árvores podem passar pelo processo que causa os pingos, resultado de uma relação de parasitismo. “O que cai, na verdade, é uma excreta que vários insetos soltam”. Esses insetos são, principalmente, os hemípteros, parentes das colchonilhas, dos percevejos e dos pulgões. “Eles se alimentam da seiva das árvores, que é por onde correm os nutrientes das plantas”. 

Então, por mais que pareça e que a utilizada expressão “árvores que choram” leve a crer que são as árvores que pingam, não é isso que acontece. Matheus justifica a dúvida: “parece que são elas, porque esses insetos são muito pequenos, então é difícil vê-los. Além disso, como não conseguem furar a casca das árvores, eles ficam nos ramos mais novos e altos”. 

“Árvores que choram” puderam ser vistas em muitos pontos da cidade universitária. Foto: Caio Santana/ Jornal do Campus

A seiva é composta à base de água, açúcar e outras substâncias como aminoácidos, mas são principalmente essas outras substâncias que interessam para os insetos. “Eles estão sugando essa seiva, absorvendo os compostos nitrogenados e expelindo o açúcar e água em excesso”. Os insetos vão soltando essa substância até que elas se agregam e pingam, não das árvores, mas deles. 

A maior parte do líquido com que entramos em contato é uma inofensiva mistura de água com açúcar, mas ainda assim é uma excreta, então não se recomenda beber.

Observamos melhor esse fenômeno na primavera e verão, porque no calor os insetos crescem mais rápido e se reproduzem mais intensamente. Matheus acredita que se o processo estivesse prejudicando fortemente as árvores elas apresentariam fraqueza visível. 

As árvores excretam substâncias também, principalmente na forma de resina (que em alguns casos se torna âmbar), mas normalmente não é com essa substância que temos contato na USP.

Os insetos chegam às árvores sozinhos ou carregados por algumas espécies de formigas, que têm o comportamento de carregá-los e defendê-los, esperando para usufruírem do produto açucarado do parasitismo.