As lutas para entrar, estudar e se formar na USP (parte 1)

Clara Magalhães, a um passo da universidade, quer estudar na Faculdade de Direito da USP

Por Mariah Lollato

Foto: Arquivo pessoal

Existem ao menos cem cursinhos populares em São Paulo. Eles recebem por volta de 15 mil estudantes todos os anos, segundo levantamento da Frente de Cursinhos Populares – Clara Magalhães é uma delas. Ela tem 20 anos e estuda em um pré-vestibular organizado por alunos da Faculdade de Medicina da USP, o MedEnsina. Seu sonho é ser aluna de Direito na São Francisco.

A mãe de Clara, antes assistente de saúde bucal, hoje vende Yakult, e o pai, caminhoneiro, faz bicos para ajudar nas despesas, não consegue emprego na área. Quem paga pelo transporte de Clara é a tia, a única da família a ter feito faculdade. Uma hora na ida, e uma e meia na volta — para Clara, é “relativamente perto”.

Como o restante do cursinho é gratuito, a ajuda da tia cobre a principal despesa. Ela diz que não é assim para todo mundo: “eu tenho muitos amigos que saíram por não conseguir pagar a passagem ou que alternam os dias em que assistem aulas, justamente por não ter dinheiro para o transporte”.

Clara na pegada

Enquanto isso, Clara está estudando para passar em Direito. Nos últimos dois finais de semana, ela prestou o Enem. “O primeiro dia foi mais tranquilo. Eu fui muito, muito bem. Consegui fazer tudo, deu tempo de tudo. Segundo dia sempre é mais complicado porque tem Matemática, e eu sou a negação em Matemática”, diz risonha.

Talvez não seja uma negação. O fato é que disciplinas da área de Exatas, como Física, Química e Matemática são as que menos têm professores nas escolas públicas. Essas disciplinas também dependem de laboratórios para melhor assimilação da teoria, mas eles não são comuns nem em escolas particulares.

Enem, Fuvest

Clara conta que, ao longo do ano, manteve uma expectativa boa sobre a Fuvest, e ainda a mantém. “Se você perguntar agora, depois do segundo dia de Enem, sempre estaremos mais cabisbaixos. Mas espero conseguir responder o número suficiente de questões da Fuvest para passar para a segunda fase, e entrar na faculdade.” 

A Fuvest é uma prova mais conteudista na opinião de Clara, o que gera pontos positivos e negativos. É bom porque “ou você sabe ou não sabe”, mas ruim porque muitas pessoas não têm acesso ao conteúdo.

Os pais de Clara estão empolgados e dando muito apoio a ela e ao irmão, que faz cursinho na Poli, e quer ser designer de games. “Eles estão tentando animar, tanto eu quanto meu irmão, para mais um dia de prova.”

Sobre o final desse percurso, ela diz: “vai ser o meu maior sonho, a coisa que eu mais quero. Depois que eu passar na faculdade, vai passar essa agonia. Eu vou me sentir realizada em mais uma coisa. E aí, sei que os planos continuam.”