Buquê de flores

Por Larissa Silva

Arte: Beatriz Cristina Garcia

Estou encucada com a afirmação sobre o amor ser eterno. Não duvido do amor, muito pelo contrário, prego com louvor o amor Eros, Ágape e Philos. A questão que me aflige é a tentativa de compactar a grandeza desses amores em uma única frase ou objeto, e como isso só é possível (e belo) na literatura. 

Era Dia dos Namorados e, para alguém que anseia a vastidão dos mares, esse é o momento ideal para analisar o estado do barco em que se encontra. Para os navegantes ambiciosos é mais viável se desapegar de paus de madeira e traçar um plano para ultrapassar as ondas do mar, do que apenas brincar no raso da praia. 

Eu estava como dama de companhia da minha irmã na casa do então namorado dela. Minha presença se restringia a lhe dar apoio quando a família dele a cercava, e degustar do excelente almoço de domingo. 

Aquele dia foi de extremo calor e havia algo tenso no ar. Se na época eu conhecesse o filme Faça a Coisa Certa, de Spike Lee, eu desconfiaria daquela sensação de estar dentro de uma panela de pressão pronta para explodir. Hoje eu sei que minha irmã sentia o mesmo e não fez qualquer esforço para apagar a chama. 

Em certo momento seu namorado disse que tinha uma surpresa e saiu para pegar. Como sou curiosa, me aconcheguei em um bom lugar para aproveitar a cena. Se a máxima “amor eterno” carrega, possivelmente, a plenitude da eternidade, o quanto é possível a um mísero buquê de flores sustentar o peso da palavra “decepção”?

 Ao retornar com um pequeno buquê de rosinhas vermelhas de plástico acompanhadas de um cartão de poucas palavras, pude testemunhar na expressão da minha irmã a petrificação da certeza que era hora de abandonar o barco. O presente foi a substituição do pulsar da vida por uma casca imitadora. Era um evidente naufrágio.  

Pobre buquê, tão pequeno e já precisa enfrentar a rejeição alheia, pois carrega em sua beleza passageira o peso da frustração do desejo de se sentir vivo. 

Enquanto isso, em algum lugar longe dali as flores rodopiam de alegria em seus trajes coloridos. Suas cores e perfumes saltam e explodem aos olhos dos contempladores, esbanjando a euforia da vida incapaz de ser presa em palavras ou objetos. O tempo machucará suas pétalas, mas sabem que ao cair de uma, outra nascerá. 

E a vida nunca acabará enquanto houver os distraídos do mundo que param para admirar a efêmera dança de uma flor. Elas cederam o próprio júbilo para os apaixonados prestigiarem a eternidade do momento finito. O amor é magia, muito maior que um buquê, menos ainda de flores de plástico.