Conhecer engrenagens do corpo melhora performance
Por André Netto
O sucesso no Flamengo no futebol nesta última temporada não se deve apenas às boas apresentações dentro das quatro linhas. Fora de campo, o clube vem investindo pesado no aspecto científico do esporte, com equipamentos que permitem melhor prevenção e recuperação de lesões. Inaugurado em 2016, o Centro de Excelência em Performance (CEP) surpreendeu ao conseguir recuperar atletas em um tempo muito menor que a média.
Os especialistas do CEP conseguem, através de exames de sangue, perfil de DNA e avaliações funcionais, apontar as principais deficiências de cada atleta. Mas nada disso seria possível sem o estudo da biomecânica, área que utiliza princípios e métodos da engenharia entender e solucionar problemas das ciências biológicas.
O professor Paulo Roberto Santiago, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, explicou que o surgimento da biomecânica se deu durante o período da Primeira à Segunda Guerra Mundial. “Os militares tinham a preocupação de fazer análise de marcha, de como que o ser humano se movia com mochila, porque quanto melhor fosse a qualidade de locomoção, mais chance essa tropa teria de avançar”, disse.
Paulo também comentou como que começaram a ser feitas as análises biomecânicas no esporte: “A gente sabia que algumas pessoas tinham padrões que eram considerados melhores por ter um desempenho melhor, e aí começaram a serem feitos diversos estudos pegando o exemplo dos atletas de alto nível, fazendo a análise do movimento deles e transpassando para o que seria o esporte do dia-a-dia, dos meros mortais”.
Universitários
Em menor escala, o estudo do movimento humano vem sendo aproveitado até no esporte universitário, principalmente em modalidades individuais como atletismo e natação. Por depender essencialmente do movimento do atleta, o estudo da biomecânica é essencial, pois pequenos ajustes na técnica podem gerar uma performance mais eficiente e, consequentemente, melhores resultados.
Outro aspecto importante para a consolidação da biomecânica no meio esportivo foi o avanço nas técnicas de captação e análise de dados. O professor afirmou que “a computação, o uso da inteligência artificial está permitindo fazer análises em tempo mais próximo do real e entender a dinâmica dos jogos coletivos e não só os padrões dos movimentos dos atletas”.
Casos como o do Flamengo devem se tornar cada vez mais frequentes no Brasil. Outros clubes têm infraestrutura semelhante, mas a implantação de laboratórios de biomecânica sofreu grande resistência, principalmente por conta do custo. “Agora, esses equipamentos são mais acessíveis e os clubes viram a importância de investir nesse tipo de análise”, afirma Paulo.