O falante Oziel, recepcionista da Poli

Recepcionista do prédio Biênio da Poli esbanja simpatia, bom papo e amizades por toda Escola Politécnica

Por Caio Santana

Oziel mostra sua carteirinha da USP, onde presta serviços desde 1996. Foto: João Gabriel Batista/ Jornal do Campus

Seu expediente começa pela manhã. Tem seu horário de almoço e retorna para a Poli até por volta das 16h. Quando eu conversei com Seu Oziel, não imaginava a porção de histórias que iria ouvir.

“Sou muito alegre. Eu me considero uma pessoa agradável, que gosta de ajudar as pessoas” conta Oziel Albuquerque, de 58 anos. Funcionário da Poli-USP desde 1996, aposentado, ele é natural de Recife-PE. Serviu à Marinha em plena Ditadura e era um dos responsáveis por “caçar comunistas”.

“Mas eu sempre tive uma parte mais para o social, nunca aceitei aquela violência.” Oziel teve forte participação no sindicato – quando perguntei na Poli onde poderia encontrar “seu Oziel”, um dos seguranças respondeu: “O Oziel do sindicato? Lá na Biênio”. Apesar disso, ele revela que está afastado do sindicato há pelo menos dois anos. “Porque só vale o que eles dizem.”

Perseguição

Por ter servido anos nas Forças Armadas, após ser dispensado Oziel prestava concursos públicos, mas nunca era admitido. Mudou-se para o Rio, onde casou e acabou encontrando um amigo da Marinha, que disse que ele parecia subversivo.

“Eu era comunista”, diz ele, e em seguida ri. Naquela época, por volta de 1986, ele morava em São João do Meriti, na baixada fluminense, e sempre encontrava com um cara da Marinha, se perguntando o que ele deveria estar fazendo ali.

Prevendo possíveis perseguições, decidiu mudar com a família para São Paulo. Tinha uma filha, Jaqueline, e na capital paulista teve seu segundo filho, Jeferson Albuquerque.

Grandes amizades

Mesmo aposentado, Oziel continuou trabalhando. Um dos motivo dele ter continuado foi a grande vontade de ver Vahan Agopyan como reitor, ignorando um PDV (Plano de Demissão Voluntária).

“Vahan é daqui (Poli) e eu considero ele mais como um amigo, não é nem como um professor. O homem está fazendo uma boa gestão”, avalia Albuquerque.

Durante minha longa conversa com ele, apareceram alguns alunos na recepção. Todos em busca de um café. “Tem dias que os alunos não têm dinheiro para comer e aquilo me dá uma dor no coração, uma tristeza.”

Gustavo passava por ali e confirmou que seu Oziel ajuda muito os estudantes. “Você sabe, as coisas aqui na Poli são muito caras, né? Aqui as pessoas têm mais condições. Sempre estamos perto dele aqui e quando estamos sem um real no bolso, seu Oziel sempre dá um jeito. Ele ajuda bastante a gente.”

Em determinado momento Oziel me contou de alunos que montaram o próprio negócio, retornam à Poli e ainda falam com ele. “A Poli Júnior é muito forte aqui”, me disse após eu perguntar sobre a empresa júnior.

Uma frustração e uma virtude

O outro motivo de Oziel ter decidido continuar trabalhando foi o fato de que, quando ele se aposentou, seu salário era bem baixo. “Como continuei, meu salário aumentou na folha de pagamento.”

Mas uma saída mais natural para esse aumento, ainda que antes de sua aposentadoria, era seguir um por plano de carreira. Porém, nunca ofereceram plano de carreira para ele. Apesar disso, não descansa de ações solidárias: “Todo final do ano que posso eu compro cestas básicas para as funcionárias da limpeza com o próprio dinheiro. Me sinto bem ajudando as pessoas”.