Orfandades e vitórias

A edição 505 do Jornal do Campus reúne um número significativo de matérias com valor-notícia, que apresentam informações originais, resultado de apuração com faro investigativo. A reportagem de capa sobre o muro inacabado da USP – metade vidro, metade alvenaria – descreve as ações da prefeitura de São Paulo, do Ministério Público que investiga a morte de aves, questões envolvendo patrocinadores de peso entre firmas de engenharia e um famoso plano de saúde. O título chama as responsabilidades: “O órfão. De quem?”; a foto mostra o vidro e o concreto, que permanece atrapalhando a vista.

Dulcilia Buitoni. Crédito: Arquivo Pessoal

Seguem-se temas que pedem posicionamento e mobilização: as falas do escritor angolano Pepetela; funcionários do Instituto de Psicologia que trabalham em local trancado; movimento indígena na USP (com políticas de acesso ainda defasadas); vandalismo sobre trabalho de pintura do Departamento de Artes Plásticas da ECA; alunos medalhistas em olimpíadas de matemática e física que entram na USP sem passar pelo vestibular (mas todos vêm de escolas de excelência, públicas ou particulares); rede colaborativa de ex-alunos da Poli; a organização das mulheres do Crusp; a reforma da Casa do Estudante sendo paga com verba do Centro Acadêmico XI de Agosto… São retratos vivos da USP: problemas, algumas vitórias, mas sempre trazendo dados de consciência e de participação da comunidade. Em resumo, o JC 505 tem muita força.

Há um grupo especial de cinco matérias sobre o esporte universitário; no entanto, nem todas alcançaram o mesmo nível. Noto aperfeiçoamento no trabalho com as imagens, embora ainda persistam fotos pequenas com muitos elementos. Do mesmo modo, não se percebe uma linguagem visual que identifique cada editoria. Na estimulante manhã que passei conversando com os alunos responsáveis pelo jornal, entendi o porquê da falta de uma diagramação mais cuidada: a cada número, arte, editores e repórteres são trocados – sistema que acabei achando adequado para um jornal laboratório, em que todos exercitam as diferentes funções na produção de um jornal. Realmente, esta classe já está praticando jornalismo, com olhos e ouvidos atentos e sensíveis.

Por Dulcilia Buitoni, jornalista, pesquisadora e ex-professora da ECA