Sejamos público da universidade pública

Por Carolina Fioratti

Até o ano de 2015, o Enem não seria pauta deste editorial, afinal, apenas quem pagasse 145 reais ー 16% do salário mínimo da época ー teria o direito de realizar a Fuvest, e assim, talvez, ingressar na melhor universidade da América Latina. 

Charge da edição: Beatriz Cristina Garcia

O elitismo gritava pelos corredores arborizados do campus. Uma parcela de estudantes provenientes do sistema público de ensino não imaginava que um lugar como esse ー com ônibus gratuito, comida por dois reais e um centro esportivo para todos ー pudesse ser real. Não para eles, não para mim. 

Nesta edição, pudemos entrevistar um aluno que fez parte da primeira turma de ingressantes via Sisu e que agora se prepara para sua formatura. Mas, questiona-se: foi tão fácil assim? O número de alunos cotistas realmente cresceu e já se aproxima dos sonhados 50%, mas sabemos quantos desses permanecem em seus respectivos cursos?

O elitismo não gritava pelos corredores, ele grita. Morar a mais de duas horas de distância da faculdade, ter que trabalhar para ajudar a família, pegar inúmeras DP’s no primeiro semestre em razão da defasagem escolar que carrega. Esses são alguns dos problemas que acompanham o nome na lista.

Sacrifícios são feitos para entrar desde o momento em que o estudante precisa procurar um cursinho. Sim, precisa, pois a escola pública não te prepara para a Fuvest, nem para o Enem, talvez nem para a faculdade. A culpa não é do professor, já que em uma aula de 40 minutos e com mais de 30 alunos dentro da sala, as vezes nem a chamada consegue ser completa.

Não nos referimos ao ensino médio técnico e federal, que apesar de também contar com problemas, não se equipara a algumas realidades. Mesmo assim, apesar das adversidades, alguns entram e se mantém.

Depois que passamos por aquele portão, somos parte da universidade pública. Uma vez que conhecemos o que é nosso, lutaremos pelos nossos espaços. Não foi fácil entrar e não será fácil sair, mas cabe aos estudantes reivindicar mudanças e exigir políticas de permanência. 

Da minha antiga escola, talvez uma média de cinco alunos estudem hoje na USP. Uma grande quantidade nem ingressou na faculdade, alguns nem sabem como chegar aqui. Que isso mude, que sejamos maioria, que conheçamos o que foi feito para nós e que tenhamos condições de ser público da universidade pública.