Tri indigesto!

Como andam as pesquisas de três temas importantes na USP

Por Crisley Santana e Lígia de Castro

Montagem: Lígia de Castro

A USP pode parecer isolada do resto da cidade pelo seu ambiente tão diferente, e tão verde. Mas não está, definitivamente, isolada das discussões que perpassam o mundo. Se você é estudante da universidade, provavelmente discutiu com alguém sobre feminismo, questões de gênero e a temida direita política. Talvez tenha defendido a liberação da maconha e reconhecido sua importância medicinal. 

Mas todo esse debate, que é muito frutífero, não se restringe apenas às falas em assembléias e corredores: ele está nas pesquisas acadêmicas de variados formatos.

Nessa pauta, tentamos reunir dados sobre o que a USP tem pesquisado, ao longo dos últimos 10 anos, sobre gênero, cannabis e a direita. Também tentamos entender o que vinha acontecendo no mundo enquanto as pesquisas sobre cada um desses assuntos aumentavam ou diminuíam. O banco de pesquisas “Teses USP” foi usado como parâmetro e recorte para a construção dessa discussão.

MACONHA

Linha do Tempo:

2014: Anvisa toma medidas para regulamentação de importação de produtos à base de cannabis. Substância deixa de ser considerada “proibida” e passa para o status de “controlada” pelo Ministério Público. Este passa a registrar medicamentos que a tem em sua concepção.

2015: Janeiro O canabidiol, substância extraída da cannabis, deixa de ser proibido para uso em tratamentos e pesquisas científicas (o plantio continua proibido). Passa a ser também uma substância controlada. Agosto STF começa a discutir se é crime portar drogas para uso próprio.

2016: Conselho Institucional de MPF decide que importar pequenas quantidades de semente de maconha não deve gerar denúncia da Procuradoria. Novembro/dezembro Três famílias, do RJ e de SP, obtém habeas corpus preventivos para plantar maconha em casa por razões médicas. Enquanto isso, pesquisas em universidades como Unifesp, UFRJ  e USP estudam os extratos da maconha, apesar da dificuldade de conseguir a matéria-prima ilegal no país.

2017: É prevista a abertura de um Centro de Canabidiol na USP de Ribeirão Preto. Também nesse ano, é feito o primeiro registro de medicamento à base de Cannabis no Brasil, o Mevatyl.

2019: Junho Anvisa discute se deve ou não liberar o cultivo de cannabis para fins medicinais, por empresas específicas autorizadas a fazer o plantio (desde que esse seja regulamentado).  Outubro Anvisa adia a decisão por causa de divergências sobre o tema entre lideranças da Agência (uma delas indicada por Jair Bolsonaro).

DIREITA POLÍTICA

Nos últimos anos, a direita política encontrou brechas para infiltrar-se e manter-se no poder. No Brasil, esse movimento ganhou força, especialmente a partir de 2013, com protestos que colocaram em questão o sistema político vigente. A partir de então, forte polarização, panelaços e até exaltação a torturadores, como ocorreu em 2016 quando o então deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) homenageou Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel da ditadura, reconhecido como torturador pela Justiça. No resto do mundo, a direita também ganhava força, em movimentos como o Brexit no Reino Unido e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, ambos em 2016. Mas será que a Universidade estava atenta a tal mudança? Por meio das pesquisas encontradas no banco Teses USP, é possível notar a baixa quantidade de instituições que possuem alguma pesquisa registrada sobre o tema nos últimos dez anos. Pesquisando por palavras como “direita”; “conservador” ou  “conservadorismo”, “liberalismo” ou “neoliberalismo”, o JC registrou apenas dez unidades e um programa interdisciplinar de pós-graduação com pesquisas relacionadas ao tema direita política. 

GÊNERO

Questões relacionadas a gênero, como a reivindicação de direitos das mulheres e população LGBTQI+, tornam-se temas cada vez mais discutidos. Nas redes sociais, por exemplo, não é incomum encontrar textos e demais produções voltados às pautas. Acontecimentos como a legalização do aborto na Espanha em 2010, e o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil, em 2011, demonstram que em várias partes do mundo há reivindicações por mudanças sociais relacionadas ao conceito de gênero. Nas pesquisas da USP, a relevância que o tema possui demonstra ter sido levado em conta, haja vista a quantidade de trabalhos registrados pelo Teses USP nos últimos dez anos sobre o tema. Somadas as buscas pelas palavras “gênero” e “feminismo” o resultado é de 303 pesquisas. Buscando pelo termo “LGBT” apenas oito produções foram registradas, mostrando que, apesar dos avanços, há mais passos a serem dados.

Gráficos: Beatriz Cristina