Porque damos tanta atenção ao coronavírus?

Doença já é classificada como pandemia e não sai de destaque há semanas

Por Mariana Arrudas

Foto: Mariana Arrudas / Jornal do Campus

Dia 25 de fevereiro foi confirmado o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, doença que contém o coronavírus. Pouco mais de duas semanas depois, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia.

O vírus surgiu na China e não demorou para se espalhar e causar preocupações, já que o número de infectados aumentou exponencialmente e os casos de óbito apenas aumentam em todos os continentes.

Com a chegada do vírus no Brasil as notícias dão foco a casos suspeitos, influência da epidemia no mundo, sintomas, como se prevenir e o que é ou não verdade sobre o Covid-19 (nomenclatura utilizada pela OMS).

Porém algumas epidemias graves que existem aqui no Brasil foram deixadas de lado. Não se fala sobre chicungunha, sarampo ou até mesmo a dengue, que em um passado não muito distante foram classificados como surtos e também atingiram a população.

Claudio Roberto Gonsalez, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, explica que apesar da rápida disseminação, o vírus não é tão perigoso quanto doenças citadas anteriormente “O Covid-19 foi recém-identificado e teve sua disseminação muito rápida pelo mundo. Porém sarampo, dengue e chicungunha causaram e causam muito mais estragos”, justifica.

O segundo semestre de 2019 foi marcado por alta nos casos de sarampo, que segundo a OMS, foi o pior surto global da doença desde 2006, gerando campanhas de vacinação e conscientização pelo país inteiro, mas não estão sendo feitos atualmente.

Vale ressaltar também que o início do ano é marcado por campanhas de conscientização e prevenção contra a dengue, por ser uma época de chuvas fortes, mas isso não está sendo muito visto nas últimas semanas desde que o coronavírus surgiu.

Apesar de o coronavírus ser menos fatal que outras epidemias, a atenção dentro e fora do Brasil está quase completamente voltada para ele, mesmo que em alguns países não tenham sido identificados tantos casos como na China ou Itália.

“O primeiro impacto foi de temor, pois não se sabia que proporções ele poderia tomar. Estamos aprendendo que é um vírus que apresenta uma alta transmissibilidade e uma letalidade relativamente baixa quando comparado a de outras doenças já conhecidas”, explica Claudio Roberto.

Emily Gonçalves, assessora da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, levanta um ponto de vista voltado para a área midiática e comunicacional: “do ponto de vista da Comunicação, posso esclarecer o motivo: sempre que há uma nova doença, ou um cenário de epidemia, é natural que esse assunto ganhe mais destaque na mídia em detrimento dos outros temas.”

Por ser uma doença nova, o coronavírus toma muita atenção de todo o mundo: “É o factual, o lead do momento. E nós, aqui, precisamos trabalhar com as estratégias de todos os temas e ainda fazer a gestão da crise. É desafiador e tivemos que intensificar o ritmo de trabalho” acrescenta Emily.

Claudio relembra que apesar de todo o alarde em cima do vírus, existem muitas doenças para se prestar mais atenção “a população tem a falsa impressão de que o Covid-19 é um “vírus apocalíptico”, que nenhuma outra doença mais acomete as populações. Temos várias doenças epidêmicas com potência de mortalidade ainda maior do que a do Covid-19 e parece que para a população e a mídia nada mais existe. Temos a dengue, sarampo, tuberculose, Aids e tantas outras que esqueceram”.

Não se sabe ainda quanto tempo irá levar para que as atividades voltem ao normal em muitos países, em detrimento do Covid-19. Isso acarretou na queda da bolsa e na alta do dólar em muitos países. No Brasil, por exemplo, um dólar americano equivale a 4,86 reais (valor do dia 12 de março), que é o maior valor nominal da moeda desde o plano real em 2002.

O Ministério da Saúde aconselha como medidas preventivas lavar sempre as mãos com água e sabão, ou álcool em gel 70%, cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar, manter os ambientes limpos e ventilados e se possível evitar aglomerações.

“Deve ser dada atenção e obediência às recomendações da OMS e do Ministério da Saúde em relação a maneira de se evitar o contágio. É fácil, quase sem custos e extremamente eficiente. Na dúvida sempre busque orientação médica” conclui o infectologista.