A “catracalização” da pandemia no IME

Em meio à pandemia, diretoria da unidade acredita no controle de entrada para prevenir e cuidar de possíveis casos

Por Pedro Ezequiel

Proposta, porém, já é velha conhecida das reuniões da diretoria. Marcos Santos / USP Imagens

Há 15 anos quem abriu a página de redação da Fuvest deu um salto ao ver a palavra “descatracalização”. A proposta era refletir sobre os excessos de controle na vida das pessoas. Pois o dispositivo voltou a ser tema, mas de uma forma mais pragmática: a diretoria do Instituto de Matemática e Estatística da USP vai adotar o dispositivo em um de seus blocos. Pelo menos, temporariamente.

Em reunião extraordinária do Conselho Técnico Administrativo do Instituto, no dia 7 de julho, foi decidido a implantação de catracas no bloco B. O conselho — formado pelo diretor, vice e pelos chefes dos departamentos de Matemática, Matemática Aplicada, Estatística, Ciência da Computação, servidor técnico administrativo e representante de graduação, além dos assistentes técnicos administrativo, acadêmico e financeiro — decidiu por sete votos a um pela restição da entrada no IME.

Segundo Ivan Lima, representante de graduação, o diretor do IME, professor Junior Barrera, desenhou um plano de aulas semipresenciais no próximo ano, sendo necessário o controle de acesso às dependências da unidade uspiana. A portaria do bloco B receberá catracas para limitar o número de pessoas que só vão frequentar o local com autorização — somente alunos que terão atividades no dia. O objetivo é contatar de forma rápida as pessoas se alguém for infectado com a Covid-19.

Uma equipe criaria um calendário e coordenaria as atividades que vão ser feitas presencialmente. Além das catracas, haveria um controle de temperatura das pessoas após rodarem pelo dispositivo — mas a decisão sobre ter ou não os termômetros ainda segue em discussão.

Quanto vale?

De acordo com Ivan Lima, presente na reunião, o preço total das catracas é de R$ 27.713,85, com cada dispositivo contabilizado em R$ 8.068,78. O modelo seria o de torniquete, mais popular. Na ata da reunião do Conselho Técnico Administrativo, no dia 4 de junho, a proposta foi levantada pelo diretor do IME e foi instaurada uma pesquisa de preço de catracas, inicialmente planejadas também para o bloco A.

Também foi informado a compra, por parte da Reitoria, de sabonete líquido e álcool em gel. O instituto receberá a instalação de dispensers de álcool em gel pela unidade e de sabonete líquido nos banheiros.

Funcionários também receberão máscaras e as guaritas vão ter estruturas acrílicas.

A reportagem do JC entrou em contato com a assitência técnica administrativa, com a assessoria do instituto e com a diretoria. Foi questionado se haveria outras medidas além dessas para prevenir e melhor orientar o IME na volta às aulas nos tempos de pandemia e como seria o processo de implantação das catracas. Não obtivemos um retorno até o fechamento desta edição.

Proposta velha, contexto novo

No dia 12 de setembro de 2019, a diretoria do IME apresentou a ideia de colocar catracas em blocos da unidade depois de um episódio de furto de duas câmeras, um notebook e um desktop da instituição — como foi relatado pela equipe do JC. No relatório feito pela assistência administrativa, entre outras medidas, aparecia o tópico de “instalação de controles de acesso aos blocos”.

Em um primeiro momento, o conselho deu parecer favorável à implantação. Depois, a pauta foi retirada para que fosse apresentada na próxima reunião do conselho, em 3 de outubro. O encontro não contou com a presença do diretor Barrera, mas a pauta da catraca foi presente mais uma vez. O chefe do departamento de Ciência da Computação questionou se havia dados mostrando diminuição no número de furtos com a instalação de catracas.

A resposta foi negativa, mas a assistente administrativa afirmou que “em reuniões com assistentes da FEA, ECA, Poli, Física, IAG, IRI, Ciências Farmacêuticas e Educação Física, teve a confirmação que, com catracas, o número diminuiu nas unidades” — mesmo a ECA, por exemplo, não tendo um controle feito por catracas, mas senhas ou pedido de autorização para acessar secretarias e salas. A assistente também teria a confirmação por parte da chefia da guarda universitária, que aconselhou a instalação. O tema saiu da pauta e somente a instalação de grades em janelas no térreo do bloco B foi discutido e aprovado.

No site do IME, há um documento falando sobre as medidas já adotadas sobre controle de acesso às dependências do local. Alunos, funcionários e professores devem apresentar a carteirinha estudantil da USP na portaria. Outras pessoas têm que mostrar alguma documentação com foto.