Atléticas recorrem a treinos virtuais durante a quarentena

Por Mayumi Yamasaki

Gabriela Moura de Freitas, estudante da Poli e atleta do time feminino de futsal. Foto: Arquivo Pessoal

Desde o dia 17 de março, as aulas presenciais estão suspensas na Universidade de São Paulo para evitar a propagação do novo coronavírus. Junto a essa decisão, as atléticas da USP cancelaram os treinos presenciais de todas as modalidades. Para manter os atletas ativos, a saída tem sido a realização de exercícios físicos dentro de casa com acompanhamento dos técnicos por videochamada.

“Os times começaram a ter treinos virtuais a partir do que foi combinado entre atletas e comissão técnica. Alguns estão acontecendo desde abril e outros iniciaram mais tarde”, esclarece Isabela Cavalcanti – presidente da atlética da Fofito. De acordo com ela, as adesões variam bastante por causa da nova rotina dos estudantes durante o isolamento social: “Tem treinos que não estão acontecendo porque os alunos estão com tarefas a mais para cumprir”.

Exceto alguns campeonatos que envolvem eSports, todas as competições de esporte universitário foram adiadas. Por essa razão, o foco dos treinos mudou. “O objetivo é tentar manter os alunos ativos e motivar os atletas. O nosso maior receio é que o pessoal desista de treinar por causa do desânimo que a pandemia nos trouxe”, comenta Isabela. Como vice-presidente da atlética da Poli, Victória Antunes acrescenta que os treinos virtuais reforçam a união dos times. 

Bacharel em Esporte pela EEFE USP, Julia Sant’Anna fala que tem proposto para o time de vôlei feminino da atlética da Medicina treinos táticos e físicos com movimentos próximos aos usados na modalidade, além de oferecer exercícios preventivos de lesão. O mesmo é feito com a equipe de vôlei feminino da Fofito, de acordo com a presidente da entidade, Isabela: “Tentamos adaptar como podemos para não perder o convívio e continuarmos fazendo atividade física, mas sempre bate aquela saudade da quadra”.

Victória Antunes, que faz parte do atletismo da Poli, comenta que acha difícil saber se está executando os movimentos corretamente ao longo dos treinos virtuais. “Como eu faço velocidade, preciso correr nos treinos. Não consigo fazer isso em casa e não estou saindo na rua para correr. Mudou bastante o ritmos dos treinos porque estamos trabalhando mais força”, acrescenta.  

Com a suspensão dos treinos presenciais, a treinadora Julia Sant’Anna explica que pode ocorrer perda de massa muscular, resistência e até técnica mesmo que se faça exercícios físicos dentro de casa. “O importante é manter a atividade da maneira que for e sempre com acompanhamento. Assim, qualquer volta será menos dolorida e com melhores ganhos”, enfatiza a especialista.

A presidente da atlética da Fofito conta que cada time ficou responsável por decidir como seria feito o pagamento dos técnicos no decorrer da quarentena: “Alguns continuam pagando integralmente e outros combinaram de diminuir os salários uma vez que não há a necessidade de pagar o deslocamento”. Isabela justifica que a redução da remuneração dos treinadores vem como um reflexo da arrecadação baixa da entidade, uma vez que é mais difícil fazer festas ou vender produtos virtualmente. 

Além da baixa arrecadação, as atléticas ainda enfrentam dificuldades para manter as pessoas envolvidas com a entidade. Como solução, esquemas de pontuações para os treinos estão sendo criados com a intenção de que espírito competitivo motive os atletas. “Também estruturamos algumas lives com atletas profissionais que foram da seleção, como Fofão, Márcia Tafarel e Hugo Hoyama”, adiciona Victória sobre os esforços da atlética da Poli.

Até o momento, Isabela Cavalcanti acha complicado saber quantos atletas a Fofito perdeu: “Muitos que não estão treinando com o time ainda estão tentando se manter ativos de acordo com o horário que têm disponíveis”. Na opinião da presidente, só vai ser possível saber se algumas pessoas deixaram de participar da equipe quando os treinos presenciais voltarem.

“Manter os calouros nessa situação é extremamente difícil porque eles mal tiveram a experiência de treinarem com os times para terem a sensação de pertencimento”, destaca a representante da atlética da Fofito. Como atleta universitária, Victória destaca a importância que a entrada dos bixos tem para as entidades: “A Poli e acho que todas as atléticas vivem dessa reciclagem”. 

Vinícius Castanho, que ingressou na Poli este ano, esclarece porque decidiu continuar treinando handebol com a atlética após a suspensão das aulas presenciais: “Esporte é algo que sempre gostei de fazer e o pessoal do time me recebeu muito bem. Foi um incentivo”. Para o atleta, treinar é uma forma de aliviar o estresse dentro de casa. “Você passa o dia inteiro na frente do computador. Chega uma hora que precisa de uma pausa. Aí fazer isso com um exercício físico é sempre uma boa porque extravasa”, completa.

A técnica de vôlei Julia prevê como será o retorno dos treinos presenciais: “Não sabemos muito quando vai acontecer, mas com toda a certeza o ritmo não será o mesmo de antes”. Segundo ela, a volta deve começar com o básico. “Acho interessante trabalhar coordenação, propriocepção, contato simples com bola, e depois ir evoluindo. Chegar no nível que paramos vai exigir calma e paciência, mas é super possível!”, finaliza.