Circulares USP: Como está a rotina de cobradores e motoristas durante a pandemia

Funcionários contam como está o trabalho no transporte da USP em meio ao isolamento social

Por Gabrielle Torquato

Uma das linhas do “circular” foi paralisada entre maio e junho, a 8032, devido à falta de passageiros – Foto: Gabrielle Torquato/Jornal do Campus

Era 13 de março de 2020, quando pela última vez, antes do isolamento social, entrei no 8012-10, um dos circulares da USP. Era noite e eu voltava para casa depois da aula. O ônibus estava cheio, como usualmente ficava naquele horário. Alguns alunos conversavam alto, enquanto outros aproveitavam para colocar a série em dia. Tudo como rotineiramente acontecia.

Naquela mesma noite, no entanto, toda a comunidade USP recebeu um e-mail enviado pelo gabinete do Reitor Vahan Agopyan avisando sobre a paralisação das aulas devido ao agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil. Os rotineiros passageiros do 8012-10, assim como de outros circulares, permaneceram em casa na semana seguinte, assim como na outra e assim por diante. 

Esta é a história conhecida por parte dos professores e alunos, mas em paralelo a essa narrativa também existe a versão dos funcionários, mais precisamente dos motoristas e cobradores dos circulares, que mantiveram sua rotina desde o primeiro dia de isolamento social.

Quatro meses depois, retornei à USP e peguei o 8032-10 no terminal próximo ao metrô Butantã. No ônibus estava eu, o motorista e a cobradora Sirlei Nascimento dos Santos, que trabalha para a Viação Gato Preto já há 5 anos. Percorri todo trajeto do circular, e durante este tempo, apenas cinco pessoas entraram e saíram do veículo.

Segundo a Prefeitura do Campus (Pusp-C), no período de 25 de maio até 10 de junho deste ano, a linha 8032-10  ficou paralisada. Para um dos fiscais dos circulares, que não quis ser identificado, a razão seria pela falta de passageiros, uma vez que esta linha foi criada apenas para dar suporte às outras (8012 e 8022). O motivo da volta não foi esclarecido pela Pusp-C nem pela SPtrans. 

Nas primeiras semanas, a frota operou apenas com 30% da capacidade, mas depois subiu para 70%. A Pusp-C explica a mudança como sendo uma medida que acompanhou a operação da cidade de São Paulo. Em conjunto, cerca de 65% dos funcionários foram afastados do cargo. Desde então, os salários passaram a ser pagos 30% pela viação e 70% pelo governo. 

Mesmo que essa alternativa forneça mais segurança, se avaliarmos a situação pela narrativa da pandemia, Sirlei conta ser um alívio não ter sido afastada: “A gente corre risco desde quando saí de casa, mas eu sou mãe solteira, cuido dos meus filhos sozinha. Com o afastamento, mesmo que continuasse recebendo o salário eu perderia os benefícios e isso dificultaria muito pra mim”.

Sirlei continua no trabalho de cobradora. Outros colegas foram afastados – Foto: Gabrielle Torquato/Jornal do Campus

Mesmo para os que ficaram, a situação não é a ideal. A Viação Gato Preto forneceu apenas duas máscaras de proteção facial, o que segundo os entrevistados não é suficiente para trabalhar com segurança durante toda a jornada de trabalho. Segundo as recomendações do Ministério da Saúde, é necessário que elas sejam trocadas sempre que ficarem suadas ou úmidas. Dessa forma, os cobradores e motoristas acabaram tendo que investir na compra de máscaras por conta própria. 

De acordo com Sirlei, os colaboradores afastados foram escolhidos seguindo alguns critérios: “Eles selecionaram pessoas que já eram aposentados ou que já tinham alguma renda, funcionários que faltavam muito, que tinham restrições de horário ou que por algum motivo sempre traziam atestados médicos”. 

Questionada, a Gato Preto não informou com precisão quantos funcionários foram afastados, mas esclareceu que a seleção foi feita com base nos colaboradores que eram grupo de risco, como por exemplo: maiores de 60 anos, aposentados e com doenças pré-existentes — como Asma, Pressão alta, Diabetes. Além disso, a empresa também antecipou alguns meses de férias