Cultura e exercícios físicos como alívio para a mente

Durante o período de isolamento, praticar exercícios e se aproximar da cultura foram pontos fundamentais para enfrentar a situação

Por Mariana Arrudas

Quadro exposto durante a exibição da CASACOR 2019. Foto: Mariana Arrudas / Jornal do Campus

No final de março deste ano, praticamente o país inteiro se encontrava dentro do isolamento social. A pandemia de coronavírus mudou a vida de todos os brasileiros e, agora, quatro meses depois, continua sendo um assunto em alta e que influencia diretamente em muitos campos de nossas vidas.

Fátima Fontes. Foto: Arquivo Pessoal

A professora Fátima Fontes, formada em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pós-doutoranda em Psicologia Social pela USP, relata que é natural do ser humano ter mudanças na saúde mental durante um período de confinamento: “A saúde mental pertence ao segmento da realidade social e se nós, humanos, somos confinados, o que ocorre no distanciamento social interfere diretamente no psiquismo”.

Assistir a jornais e procurar por notícias se tornou uma tarefa nem um pouco prazerosa: os números de casos e mortes apenas aumentam e o cenário político do país não dá muita esperança de melhoria. Todo esse contexto social acaba abalando a saúde mental de quem está cumprindo o isolamento, e para isso, achar uma forma de se entreter tem sido um ponto fundamental.

“A cultura em suas diferentes manifestações, a religiosidade, as boas práticas físicas, orientais e reflexivas, se convertem, nesse tempo de confinamento e pandemia, em verdadeiros antídotos contra a agressividade e disfuncionalidades”, comenta a professora. 

Sobre o consumo de cultura e entretenimento, Fátima Fontes analisa: “Os brasileiros estão consumindo, para a sanidade psíquica e relacional, mais conteúdos de cultura, como dança, espetáculos musicais, lives incríveis de boa música, peças teatrais e leituras diversas. Sem dúvida alguma nós alargamos os horizontes reflexivos”.

Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) o consumo de internet no país aumentou entre 40% e 50% desde o início da pandemia. A professora, no entanto, lembra: “Claro que nem todos o puderam fazer, por não possuírem os recursos tecnológicos para isso, e no caso do Brasil, essa fatia da população, sem acesso às transmissões de internet e aos eletrônicos, tirando os smartphones, ainda é grande”. 

Lazer e atividade física no enfrentamento à pandemia

A Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (Each-USP), está realizando uma pesquisa, em conjunto com a Ohio State University, contando com a parceria Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a fim de falar sobre o papel da saúde física e mental durante a quarentena.

William Ferraz, formado em Educação Física pela USP e pós-graduando em Atividade Física na Each, está participando da pesquisa e fala que muitos notaram mudanças na saúde física e mental durante a pandemia: “A priori é certeiro de que a quarentena afetou a saúde física e mental das pessoas e o nível de pesquisas sobre esta temática aumentaram no mundo todo”. 

“Num país tão atingido e de uma liderança governamental tão ineficaz quanto o Brasil, é fundamental identificarmos de que forma toda esta situação está sendo concebida pela população da cidade de São Paulo, o polo de contaminação do país e, por isso, o foco de nossa pesquisa” completa William.

William conta que a pesquisa começou há pouco mais de duas semanas e já atingiu mais de mil respostas. Após a conclusão dela, todos os dados levantados serão expostos para a comunidade interna e externa da universidade.

A cultura como escape

Pintura exposta durante a exibição da CASACOR 2019. Foto: Mariana Arrudas / Jornal do Campus

Como uma mensagem final, a professora de Psicologia Fátima Fontes ressalta que mesmo em períodos difíceis nós temos a capacidade de encontrar certa esperança, citando um cientista alemão: “Por isso, [Gustav] Bally, escreve: ‘ser libre significa hacerse libre’. Aí está nossa possibilidade de crescimento pessoal e relacional, em tempos de Covid-19, que tem alto grau de transmissibilidade e, por consequência direta, a necessidade de praticarmos o isolamento social. Podemos nos sentir livres, apesar de estarmos privados de liberdade, na fase de transmissão comunitária da pandemia”.

“Para isso, precisaremos convidar o jogo, o lúdico, os rituais sejam religiosos, ou de outra magnitude, a música, a arte, as atividades ligadas ao corpo”, comenta a psicóloga. Ela ainda acrescenta: “Precisaremos fazer manutenção permanente da esperança, essa virtude que é catalogada como emoção fundamental, e que permite ao homem não ficar à deriva, visto que é uma âncora que o mantém seguro, apesar das tormentas do viver” .

*Para acessar mais notícias sobre a pesquisa realizada pela Each e Unifesp, e acessar uma coluna escrita pela professora Fátima Fontes clique aqui.