Lives se tornam os ‘rolês’ em casa durante a pandemia da Covid-19

Entretenimento passa a ser focado exclusivamente na internet com música, jogos e discussões

Por Luccas Nunes

Foto: Luccas Nunes/Jornal do Campus

Cantar e dançar na sala de casa se tornou parte do cotidiano da auxiliar de serviços gerais de 49 anos, Josenilda Costa Santana, nos últimos meses. Ela conta que vê nas lives, uma forma de se divertir e distrair da enxurrada de notícias negativas sobre a pandemia, e aproveita para cantar e dançar ali mesmo, na sala de sua casa.

A pandemia da Covid-19 causou a proibição de festas, bares, e outras atividades sociais.  Com isso, as lives – transmissões online ao vivo – que Josenilda aproveita em casa se tornaram uma das principais fontes de entretenimento de outros milhares brasileiros. Essa situação levou a uma ressignificação na forma de vivenciar experiências como shows musicais e aniversários.

Procura pelo termo “lives” no Google teve alta repentina. Foto: Google Trends / Reprodução

De acordo com dados do Google Trends, o termo “lives” teve uma alta de 97 pontos no índice de busca entre 29 de março e 19 de abril. Não por coincidência, a alta começou apenas cinco dias após a quarentena ser decretada nas duas cidades mais populosas do país: São Paulo e Rio de Janeiro, com cerca de 18,9 milhões de habitantes somados, de acordo com o IBGE.

Do outro lado da tela está Ana Beatriz Frozoni Ribeiro, mais conhecida como DJ Fifonha. Graduada em Design Gráfico pela Unesp Bauru, hoje ela trabalha como DJ profissional, e é uma das pessoas realizando lives na quarentena. Ela conta que no começo da quarentena achava muito legal fazer as transmissões, mas que atualmente perdeu um pouco do ânimo e que só tem pique para fazer em prol de instituições. “Por isso me arrisquei com as lives doToque como uma MINA’, que tem movimentado bastante. É recompensador demais, eu vejo as minas colocando muita coisa para fora nessa oportunidade que elas têm de serem, de fato, ouvidas”.

A DJ conta que essas lives são uma continuação de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado em junho de 2019, com o tema O espaço da mulher em Baterias Universitárias. Como o projeto existe para além do TCC, nas férias ela decidiu começar essas transmissões no estilo Ted Talks, em que as pessoas debatem sobre algum assunto. “Senti que precisava contribuir de alguma forma. E como eu não estava confortável com as lives de Dj na quarentena, decidi adotar esse modelo de Ted Talks”, explica.

O impacto psicológico da pandemia 

Pablo Castanho, professor do Instituto de Psicologia (IP) da USP, conta que está acompanhando a situação, e que essa ascensão das lives e a apatia das pessoas pode ser explicada pelo fato de a pandemia trazer muita pressão psicológica. Como consequência, essas transmissões atuam como válvula de escape, com o objetivo de suprir o desconforto causado pela falta de contato humano. “É algo que nos permite, de certo modo, esquecer que estamos sozinhos e nessa situação. […] elas atuam como forma de nos entorpecermos e passar o tempo esperando que as coisas melhorem”, explica.

Apesar dos recentes testes de vacinas para Covid-19 terem obtido resultados positivos, essa melhora ainda deve demorar. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), por pelo menos mais dois anos ainda haverá surtos recorrentes da Covid-19.

 Com esse longo período de incerteza sobre a pandemia e a quarentena, será que as lives irão se manter em alta? Como apontam dados do Google Trends, sua popularidade vem caindo. No último acesso antes do fechamento dessa reportagem (2 de julho, às 13h33) o termo marcava 36 pontos no índice de busca online – uma queda de 64 pontos frente ao pico que se deu entre 19 e 25 de abril. Fica, então, o questionamento se veremos um novo boom das lives ou se encontraremos uma nova forma para nos entreter em casa.