Com parceria do Butantan, vacina chinesa de coronavírus avança em testes com humanos

Por Yasmin Caetano

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Fase 3 chama a atenção porque testes da vacina saem do ambiente controlado para valer no “mundo real”. Foto: Pixabay

A busca pela vacina para o novo coronavírus avança a passos rápidos e o Brasil é uma peça desse xadrez. O Instituto Butantan inicia no dia 20 de julho a Fase 3 dos ensaios clínicos da CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech. Os testes contarão com 9 mil voluntários brasileiros, todos profissionais da saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia, e a operação envolverá 12 centros de pesquisa espalhados em seis estados.

Ligado à Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, o Instituto Butantan é o parceiro brasileiro da Sinovac. Em junho, o acordo foi anunciado com entusiasmo pelo governador paulista João Doria (PSDB), que espera uma vacina disponível no SUS em junho de 2021 pelos prazos mais otimistas.

Com o avanço da pesquisa nos laboratórios da Sinovac na China e a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, o Butantan entra para coordenar a terceira fase de testes em humanos. No dia 9 de julho, pesquisa recebeu o último sinal verde necessário com o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). 

Antes de chegar ao Brasil, a vacina em desenvolvimento passou pelas etapas pré-clínicas, feitas em animais, e pelas duas fases iniciais clínicas, realizadas em humanos. Os primeiros testes clínicos são controlados, com poucas pessoas, para checar a segurança do produto.

Já os testes que começam neste mês colocam à prova a eficácia da CoronaVac por sua imunogenicidade, ou seja, a capacidade de gerar uma resposta imunológica no corpo. Além disso, segue o monitoramento da segurança da vacina e seus efeitos colaterais.

Em coletiva no Palácio dos Bandeirantes, Doria oficializou o início da vacinação preventiva no dia 20. “Pela coordenação do Instituto Butantan, no próximo dia 13 iniciaremos a seleção de 9 mil voluntários do setor médico”, que incluirá profissionais de enfermagem e medicina. 

Entenda em imagens os passos para desenvolver uma vacina 

A farmacêutica e o laboratório firmaram um acordo de transferência tecnológica caso a vacina seja aprovada. Na prática, isso permitirá a produção em escala industrial – no Brasil – para fornecimento do produto ao Sistema Único de Saúde (SUS). Doria afirma que o Instituto Butantan poderá produzir 100 milhões de unidades da vacina, que serão distribuídas por todo o país.

À rádio CBN no dia 8 de julho, o diretor do Butantan, Dimas Tadeus Covas, afirmou que “se os resultados aparecerem ainda esse ano, nós podemos registrar a vacina em regime de urgência” para fornecimento no ano que vem. Para ele, a vacina representa uma “nova esperança”.

O Brasil é o lugar ideal para a terceira etapa dos ensaios clínicos. Essa fase pede um ambiente em que o vírus esteja em circulação comunitária para obtenção de resultados mais rápidos. Os voluntários recebem a vacina ou placebo de forma aleatória e seguem suas vidas. Meses depois, cientistas cruzam resultados: o grupo de placebo ficou mais doente que o grupo teoricamente imunizado? Perguntas como essa revelarão a eficácia na vida real, em ambientes fora do laboratório.

O país carrega o peso de ser um dos epicentros da pandemia de Covid-19, o que torna mais provável que voluntários tenham contato com o coronavírus. Os profissionais da saúde na ativa estão ainda mais expostos, o que permite acelerar resultados.

Modelo clássico

Entre as várias maneiras de se produzir uma vacina, a Sinovac optou pelo tradicional e conduz estudos com vírus inativado – modelo das vacinas da gripe e de hepatites A e B. Nesse método, cientistas isolam e inativam a cepa viral, que dá identidade ao vírus, através de processos físicos e químicos de laboratório.

Na prática, a vacina cria uma falsa infecção, inofensiva ao corpo, mas forte o suficiente para gerar o reconhecimento das células de defesa com o patógeno. Assim, anticorpos protetores são produzidos pelo corpo. Imunizado, o sistema do indivíduo vacinado já saberá combater o patógeno – vírus ou bactéria – ao entrar em contato com a doença no dia a dia.

O avanço rápido das etapas pré-clínicas ganhou um impulso com o conhecimento prévio do Sars-CoV, coronavírus que causou a epiemia da síndrome respiratória aguda grave (Sars) na China entre 2002 e 2003. Laboratórios iniciaram estudos em busca de vacina na época, mas nunca chegaram a um produto final, já que a epidemia foi controlada por medidas de contenção no período.