Na USP, implantar o ensino remoto foi trabalho das unidades

A jornada de quatro unidades (Poli, Each, FEA e FFLCH) pelo primeiro semestre de 2020

 

por Rafael Sampaio

Arte: Mariana Catacci

 

Dezessete de março, a reunião presencial aconteceu no primeiro dia da suspensão das aulas presenciais. Na sala do Conselho Universitário, no campus da capital paulista, reuniram-se diretores de muitas unidades da USP. Diante das incertezas; da desordem que a pandemia provocava: o momento pedia uma voz de liderança. Em sua fala introdutória, o reitor da USP, Vahan Agopyan, não decepcionou a intranquila audiência: “Vivemos um cenário delicado, mas a USP não vai parar”. Em um tom grave, ele continua. “Convoco a todos para mantê-la viva e dinâmica”.

De fato, a USP não parou. A contribuição da Reitoria para o feito, entretanto, poderia ter sido maior. A universidade manteve-se viva no primeiro semestre; antes, pelo esforço de alunos, docentes e servidores técnico-administrativos. Longe de ter sido uma vida saudável. Pelo contrário, houve caos, desinformação e insensibilidade. Não se nega a gravidade da situação – a pandemia foi abrupta, inédita, com implicações sociais amplas – mas quando não definiu diretrizes gerais mínimas ao mesmo tempo em que encorajava a imediata introdução do ensino remoto, a Reitoria deixou de contribuir para que a vida da USP no primeiro semestre fosse menos dolorosa e mais saudável.

A dessemelhança das unidades justifica o cuidado para o estabelecimento de regras uniformes. Há temas, porém, que poderiam ter sido regulamentados para aplicação geral. A flexibilização do controle da frequência dos alunos é um deles. A simples recomendação da flexibilidade foi insuficiente, porque vários professores cobraram presença nas aulas on-line. Na Poli, em pesquisa feita pelo Diretório Acadêmico, quase 75% dos alunos consultados não puderam acompanhar pelo menos uma aula on-line em razão de problemas com o sinal de internet e/ou com o ambiente de estudo. No lugar da presença nos encontros síncronos (on-line), a frequência poderia ser aferida pela realização de exercícios, pelo acesso ao e-Disciplinas ou pela visualização das aulas gravadas.

A elogiável distribuição dos mais de 2.200 kits de internet (chips e modens com 20 GB de dados) iniciou-se em meados de abril, quase um mês depois da suspensão das aulas presenciais, e foi finalizada em maio. Antes de garantir, em primeiro lugar, que todos os estudantes tivessem acesso à internet, a Reitoria não apenas permitiu mas incentivou a introdução imediata do ensino remoto. Pausar o semestre, concedendo um mínimo de tempo para que alunos e professores se preparassem, poderia ter facilitado a transição para as aulas virtuais e reduzido as perdas de aprendizagem. A FEA optou por esse caminho, definiu o início do ensino remoto para abril; nesse meio tempo, decisões foram tomadas e treinamentos realizados. Os resultados foram positivos.

Na história da pandemia, há várias histórias. Na história da USP durante a pandemia; também, há várias histórias. Cada professor, cada aluno e cada funcionário tem a sua. O Jornal do Campus pretende contar algumas delas. As histórias de quatro unidades: Poli, Each, FEA e FFLCH. Não da unidade vista como espaço físico, um simples edifício; e sim das pessoas dentro de cada uma, pois foi pela soma das forças delas que a USP continuou viva.

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