Magazine Luiza e a importância de processos seletivos inclusivos

 

por Mariana Catacci

Foto: Zackary Drucker/The Gender Spectrum Collection

 

O Magazine Luiza anunciou seu processo seletivo para um programa de trainee exclusivamente para pessoas negras no dia 18 de setembro. A iniciativa gerou polêmica nas redes sociais, dividiu opiniões e chegou até o Ministério Público do Trabalho (MPT) por meio de denúncias de violação trabalhista. O órgão rejeitou as acusações contra a empresa e classificou o programa como “louvável exemplo de ação afirmativa destinada a garantir, em igualdade material e real de oportunidades, o ingresso de negros e negras no mercado de trabalho”. 

Segundo o pesquisador em Ciências da Comunicação pela ECA-USP Ricardo Sales, a discussão sobre diversidade e inclusão no ambiente corporativo não é nova, tendo surgido já na década de 1970, devido à pressão social da contracultura na década anterior. No entanto, Sales, sócio-fundador da Consultoria Mais Diversidade, afirma que ainda vivemos em uma sociedade profundamente desigual, onde os preconceitos ainda são manifestados em ambientes de trabalho.

Além do apoio dos internautas que lutam pela representatividade nas redes, o aumento da diversidade dentro das empresas traz muitos benefícios. “Cada vez mais, o meio corporativo toma uma consciência de que diversidade e inclusão são assuntos importantes para um negócio, porque vão trazer inovação, criatividade, entre outros indicadores que eles costumam valorizar”, afirma o pesquisador. Para ele, quanto mais diverso é o ambiente corporativo, maior é a capacidade da organização de ler a sociedade e, assim, de antecipação de demandas, comunicação e de identificação de oportunidades. A confortabilidade dos funcionários também desempenha um papel importante no funcionamento da empresa, aumentando o engajamento e a sensação de pertencimento da equipe.

Por outro lado, Sales pontua que não é suficiente que a empresa utilize o discurso da diversidade sem coerência e consistência: “A marca precisa comunicar para fora aquilo que é uma realidade ou já é uma intenção desenhada dentro da empresa. As ações de comunicação não podem ser apenas pontuais ou em datas específicas, sob o risco de parecerem oportunistas. É fundamental que isso seja parte, de fato, do funcionamento da empresa e que a marca proponha debates qualificados a respeito desses temas”. O pesquisador também diz que a publicidade e a comunicação, que por muito tempo reforçaram estereótipos, podem ser ferramentas poderosas para a ação social.

No entanto, diversidade não é só sobre funcionários com tatuagens, cabelos coloridos e o fim do código de vestimenta. Sales define: “Processos seletivos afirmativos são iniciativas que tem o objetivo de corrigir injustiças históricas, são necessariamente transitórias. Elas contam com pleno amparo legal e são absolutamente fundamentais para que a gente possa avançar. É importante que as organizações entendam que precisam oferecer respostas e encaminhamentos a alguns dos principais problemas da nossa sociedade, como no caso do Magazine Luiza, ao racismo estrutural”. O pesquisador ainda defende que a busca pela diversidade seja ativa e intencional, e que iniciativas como essa, voltada ao recrutamento de talentos negros não são apenas bem-vindas como deveriam ser replicadas.