As queimadas estão no seu prato?

 

Por Karina Tarasiuk

Foto: Guilherme P. P. Bolzan

Eu vivi quase toda a minha vida no Mato Grosso do Sul, um estado praticamente feudal sustentado pela elite agrária. Um estado com bem mais gado do que gente. Um estado com grande produção de soja, soja que alimenta todo o Brasil, mas não as pessoas, os gados, que depois serão mortos para servir de alimento. Por ter nascido em uma família (ovolacto)vegetariana, eu nunca entendi essa lógica, e tinha vergonha de saber que nasci na “terra do gado”.

O Cerrado está sendo desmatado, embora pouco discutido, e o Pantanal está em chamas, e só agora eu percebi como amo o meu estado o céu, o ar, a fauna e a flora. Moro numa cidade onde fica o Cerrado e ainda não tive a oportunidade de conhecer o Pantanal. Agora, eu me pergunto se quando a pandemia acabar esse bioma ainda estará vivo para que eu possa conhecê-lo. As chamas geradas por ação humana são rápidas.

Algumas semanas atrás, quando as queimadas estavam em fase mais crítica, não só no Pantanal mas na Amazônia também, vi nas redes sociais várias pessoas se mobilizando, tristes pela morte de animais selvagens e pela destruição de um bioma brasileiro. Eu também fiquei triste, claro. Sempre fiquei triste pela morte de animais gerada pela ação humana.

Mas o que me indignou foi ver tantas pessoas tristes sem fazer nada para mudar. Sem saber a real origem desse incêndio. Na edição anterior do JC eu fiz uma matéria explicando as causas e consequências da catástrofe. Os dois pesquisadores com quem eu conversei não tiveram dúvidas: as queimadas foram sim geradas por ação humana, principalmente vinculada ao agronegócio.

Então como você pode ajudar? O que eu mais vi na internet foi fazer doações a ONGs que estão trabalhando ativamente no combate ao incêndio e no resgate de animais. Isso é muito importante de ser feito, pois alguns animais precisam de ajuda imediata. Mas existe uma outra forma de ajuda mais direta do que doações.

Se as queimadas foram geradas pelo agronegócio e essa atividade produz carne para o consumo humano, então a carne que está no seu prato, caso você a consuma, está, provavelmente, vinculada a essas queimadas. E não só às queimadas, como também o desmatamento de diversos biomas brasileiros. Se você quer ajudar, e a longo prazo, então pare de incentivar o agronegócio.

Eu não estou falando para adotar uma dieta vegana do dia para a noite. Você nem precisa, de fato, ser vegana em algum momento da sua vida (embora isso ajudasse bastante o planeta). Só peço para repensar o consumo da carne e reduzi-la. Uma sugestão é participar da Segunda Sem Carne, uma campanha mundial que incentiva cortar carne e derivados de animais uma vez por semana (não precisa ser necessariamente na segunda) para reduzir os impactos ambientais desse comércio.

Ou então, se você tem o hábito de almoçar e jantar refeições com carne, substitua a carne do jantar por algum alimento vegetal, como uma leguminosa (lentilha, ervilha, grão-de-bico, soja) ou até mesmo por arroz e feijão, um prato nutricionalmente completo. É só aumentar a quantidade.

A cultura da carne, além de gerar uma elite agrária altamente lucrativa, tem enormes impactos ambientais a longo prazo, por ser responsável por desmatamento, queimadas, liberação de CO₂, entre outras coisas.

Eu imagino que deve ser difícil mudar um hábito alimentar e de vida, foi para mim quando eu cortei os derivados de animais. Mas se você se sensibiliza pelas queimadas, pelos animais silvestres que estão morrendo, pela destruição de um bioma, olhe para o seu prato. Reflita sobre a origem do que você come e procure, sempre que possível, cortar a carne e os demais derivados.

Foto: Guilherme P. P. Bolzan