Como as empresas juniores da USP enfrentam a pandemia?

Para superar os desafios do isolamento social, empresas juniores precisaram inovar seu modelo de negócio 

 

por Letícia Flávia

Arte: Pedro Lobo/Rawpixel e Unsplash 

 

Empresas juniores (EJs) são empresas sem fins lucrativos formadas por estudantes do ensino superior ou técnico, com o objetivo de promover aprendizado e vivência empresarial para seus membros. Apesar dos alunos participantes não receberem salário, essas empresas também foram afetadas pelo isolamento social e pela suspensão das aulas presenciais na USP. 

Se por um lado quedas no engajamento, suspensão de serviços presenciais, desmotivação e dificuldade de cumprir metas estão entre as principais dificuldades enfrentadas, por outro, várias EJs conseguiram superar os desafios ao inovar seu modelo de negócio. Nessa matéria, conversamos com algumas delas a fim de entender como foram afetadas pela pandemia e como estão dando a volta por cima.

 

EEFUSP Jr 

A empresa júnior da Escola de Educação Física e Esporte (Eefe) tinha como principais projetos os cursos, congressos e eventos recreacionais, como as colônias de férias, principal fonte de faturamento da empresa.

Colônia de férias realizada em janeiro deste ano. Tradicionalmente, o evento ocorre duas vezes ao ano, em janeiro e em julho, no campus Butantã. Foto: EEFUSP Consultoria

 

Devido ao isolamento social e à suspensão de atividades presenciais, a EEFUSP Jr incrementou sua carta de serviços para se adaptar ao momento e continuar funcionando. Desde junho, eles também realizam avaliação física, ginástica laboral e gerenciamento de redes sociais para personal trainers, serviço com a maior demanda nessa nova circunstância.  

“A pandemia e a suspensão inicial das atividades nos serviu como um momento de olhar para dentro de nossa EJ e otimizar suas áreas”, explica Luiz Fernando Fernandes, presidente da EEFUSP Jr. “Estruturamos o time de vendas, mudamos a identidade visual da empresa, criamos um plano de capacitação e também novos serviços”. 

Outra adaptação refere-se aos campeonatos. Todo ano, a EEFUSP Jr realizava a Copa Eefe de Natação. No entanto, devido às limitações de 2020, a empresa criou um campeonato de e-sports (jogos de videogame). A primeira edição ocorreu em julho e contou com 60 participantes. 

Sirius Biotecnologia Jr

Integrantes da EJ no início do ano. Foto: Sirius Biotecnologia Jr

 

Fundada em 2017 e formada por estudantes dos cursos de ciências biomédicas e ciências biológicas do campus de Ribeirão Preto, a empresa júnior tinha como principal serviço a realização dos Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) para laboratórios da Universidade. Com a suspensão de atividades presenciais e, por consequência, dos laboratórios da USP, a empresa enfrentou uma desafio repentino.

Para  suprir suas necessidades de sobrevivência, a Sirius começou a vender máscaras personalizadas de prevenção ao coronavírus. De acordo com Gabriel Martins, presidente da EJ, foi possível levantar um bom caixa com isso.

Nesse contexto, passaram também a realizar consultorias em biossegurança, avaliando riscos bioquímicos, ergonômicos e de contágio da covid-19 em estabelecimentos comerciais, emitindo certificado de segurança após devida fiscalização.   

Integrantes da Sirius Biotecnologia Jr na entrega do Mapa de Riscos elaborado para cliente.  Foto: Sirius Biotecnologia Jr

 

Apesar de conseguirem inovar seu modelo de negócios, os projetos presenciais contavam com um valor superior em relação aos atuais, levando a empresa a ter que diminuir em 40% sua meta de faturamento, atualmente já batidas. “A realidade que enfrentamos esse ano é totalmente diferente da realidade que esperávamos enfrentar. Por outro lado, com os novos serviços conseguimos impactar a sociedade mais diretamente, o que nos deixa felizes”, comenta Gabriel.    

Além dos serviços,  a EJ alterou também a maneira de se comunicar, implementando novas plataformas que facilitam a comunicação na empresa, como o Slack e a opção Melhores Amigos do Instagram.  

Síntese Jr

Membros da Síntese no início deste ano. Foto: Síntese Jr

 

Já para a empresa júnior de Sistemas de Informação da Each, Síntese Jr, o contexto da pandemia impulsionou o serviço de criação de sites, carro chefe da EJ. Segundo sua presidente, Yumi Morimoto, muitas empresas migraram para o on-line, aumentando a demanda do serviço. 

No entanto, a rotina dos membros teve que ser adaptada. “Antes, sentávamos um do lado do outro e fazíamos projetos juntos”, explica Yumi. “Hoje, compartilhamos a tela do computador em videochamada, e cada um vê de sua casa”. A câmera ligada nas reuniões virtuais também é um desafio para aqueles que possuem internet instável. “É muito mais difícil conectar as pessoas no on-line”. 

Print da tela da reunião virtual entre membros da Síntese Jr / Google Meet. Foto: Síntese Jr

 

Para estimular a interação entre a empresa, a Síntese adotou um dos jogos do momento: Among Us. Diariamente, os membros jogam num horário determinado. “Se tornou uma prática muito natural”, comenta Yumi.

Poli Jr

Um dos principais desafios da EJ da Poli – Capital é manter a integração no ambiente virtual entre seus 115 membros. Afinal, a empresa possui diversas cerimônias importantes para a cultura da empresa. 

Segundo Willian Ferreira, estudante da Poli e presidente da Poli Jr, o ingresso trainees era uma recepção calorosa: pedia-se pizza e todos os membros se juntavam na sede. A cada semestre, também havia a imersão da empresa: todos os membros viajavam para uma chácara, intercalando momentos de planejamento com momentos de integração.

Membros da Poli Jr no Encontro Nacional de Empresas Juniores, em Gramado, 2019. Foto: Poli Jr

 

Diante da suspensão da rotina presencial para alunos da graduação da USP, a EJ buscou outras formas de integração. Chegaram a aderir na rotina jogos on-line, como Stop, que funcionou por um curto período de tempo. As ações mais efetivas, segundo Willian, foram videochamadas mais leves entre a empresa, em que haviam troca de experiências e vivências. “Tentamos fazer coisas mais curtas, legais e interativas”, explica o presidente. 

Outra mudança foi o perfil de clientes e projetos durante esse ano. Embora não tenham sido prejudicados pelo isolamento social em relação às metas, atualmente, a Poli Jr passou de projetos grandes e caros, a fazer menores. Estes, no entanto, costumam promover maior impacto para o cliente. 

Conheça o perfil das empresas juniores citadas na matéria: