Como funciona a relação entre política e esporte, no Brasil?

Depois da polêmica sobre a atitude de Carol Solberg, o Jornal do Campus conversou com um especialista para entender a relação entre esporte e política

 

por Beatriz Azevedo

Foto: Divulgação FIVB (Federação internacional de Vôlei)

 

Carol Solberg, jogadora de vôlei de praia, foi condenada pela 1ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por falar, em uma competição nacional, a frase “fora Bolsonaro”. A atleta foi absolvida e sua multa, que seria em torno de 100 mil reais, foi convertida em advertência. Entretanto, a atitude gerou polêmica nas redes sociais. Por isso, o Jornal do Campus conversou com o professor Rafael Duarte Oliveira Venancio, estudioso da história do esporte, para entender como funciona a relação entre política e esportes, na história brasileira e mundial.

O esporte, como conhecemos, é um fenômeno que começa entre o final do século 19 e começo do século 20. Grandes pensamentos políticos, como o comunismo e o conservadorismo, por exemplo, datam de antes da consolidação do esporte tal como é hoje. Esse fenômeno de consolidação é direcionado por duas culturas: a de glorificação do corpo humano e como consolidador da convivência social. Ambas, foram usadas politicamente não só no Brasil, como no mundo.

No País, uma das primeiras ligações que se formam entre política e esportes acontece em 1922 quando o então presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, proibiu jogadores negros de jogar na seleção brasileira de futebol, na Copa América. “Isso ocorre depois de alguns jornais argentinos publicarem uma caricatura de jogadores brasileiros na forma de macacos, em uma atitude extremamente racista”, diz o professor ao Jornal do Campus. 

Nessa ocasião, o jogador Arthur Friedenreich, grande estrela do futebol na época, ficou de fora do torneio. O estado de São Paulo foi contra a medida e os jogadores do estado não se apresentaram na seleção. 

No final do anos 1920, Washington Luís é eleito para presidente. O político era um grande entusiasta do esporte mas que exercia muita influência sobre o futebol, em especial. O presidente já chegou a interferir em uma final de campeonato brasileiro. No jogo São Paulo versus Distrito Federal (na época o DF  era o Rio de Janeiro e o torneio era disputado entre os estados), havia a cobrança de um pênalti que os paulistas não queriam cobrar. Então o presidente, que assistia ao jogo, decide enviar um representante mandando cobrar o pênalti.

“Vai ser no governo Vargas que o esporte ganha mais ênfase como cultura do corpo, muito parecida com a delimitação de culturas nazi-fascistas, que pregava a ideia de seres humanos perfeitos, pelo critério da eugenia”, explica Rafael.  Há uma dissolução da noção de estados e o governo promove, em estádios de futebol, a queima das bandeiras estaduais e proíbe o uso dessas imagens nos torneios esportivos. 

Durante a ditadura militar (1964-1985), a associação entre política e esporte se torna mais forte pelo momento que o Brasil estava passando. O governo militar, além de tornar a censura aos times e jogadores mais intensa, começa a associar  a imagem do país ao sucesso em campeonatos, principalmente, internacionais. 

Cria-se uma ligação entre as vitórias brasileiras e o lema do governo “Brasil, ame-o ou deixe-o”. “Tinha toda uma ideia de que torcer a favor da seleção brasileira na Copa do mundo de 1970 era torcer a favor da ditadura”, conta o pesquisador. 

O posicionamento político dos atletas

Nas Olimpíadas, por exemplo, a manifestação política dos atletas é proibida. Mas o impedimento é analisado de acordo com a situação. “Em alguns países, prestar continência durante o hino nacional é algo cultural, mas tecnicamente é uma expressão política. Ou seja há uma diretriz, mas ela é, de certa forma, flexível”, explica Marcos. O professor ressalta que como se trata de um campeonato internacional, as nuances de cada país precisam ser levadas em conta.

A mesma situação se dá no caso dos torneios brasileiros: há proibições sobre manifestações políticas, mas cada caso é medido com uma régua diferente, como foi com  Carol Solberg. Muitos atletas já se posicionaram, durante competições, a favor do então candidato a Presidente da República, Jair Bolsonaro. 

Jogadores fazem apologia ao número do então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/ Confederação Brasileira de Futebol

 

Maurício Wallace e Maurício Souza fotografaram formando o número 17 com as mãos — em alusão ao então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro — após ganhar o campeonato Mundial de vôlei masculino sobre a França, em 2018. Os jogadores apareceram com esse gesto em canais oficiais da Confederação Brasileira de Vôlei, que já apagou. No mesmo ano, o jogador Felipe Melo do Palmeiras, apoiou a candidatura de Bolsonaro em rede nacional, após um jogo.