Fuvest 2021: “Pretendemos lançar mão de todas as medidas de prevenção à pandemia”

A Professora Belmira Bueno, diretora executiva da Fuvest, conversou com o JC sobre as adaptações para viabilizar um dos maiores processos seletivos do país com segurança em meio à covid-19

 

por Isabel Teles

Sala de provas durante a Fuvest 2019. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

 

Aulas à distância e falta de interação com os colegas são algumas das preocupações mais frequentes dos estudantes — grupo particularmente afetado pelo isolamento provocado pela pandemia da covid-19.

Estas questões parecem simples se comparadas ao desafio de se preparar e prestar o vestibular para ingressar no ensino superior em 2021. Além da pressão pelo bom desempenho nas provas, há insegurança quanto às condições do exame em si, no contexto em que o isolamento ainda é recomendado pelas autoridades.

Diante deste desafio, algumas instituições adotaram alternativas on-line, outras reformularam o modelo de provas e um terceiro grupo ajustou as datas do exame. É o caso da Fuvest, principal porta de entrada para a USP — que costuma receber mais de 100 mil inscritos por edição — e terá a primeira fase em 10 de janeiro e a segunda em 21 e 22 de fevereiro, ambas presenciais.

A professora Belmira Bueno, diretora executiva da Fuvest, conversou com o JC sobre as adaptações para realizar o exame com segurança e garantir o ingresso dos estudantes na USP em 2021.

A Fuvest é a porta de entrada para a USP, que está com as atividades presenciais suspensas até 2021 por causa da pandemia da covid-19. Houve alteração no calendário do vestibular — por exemplo, a primeira fase, que costuma acontecer no início de novembro, foi transferida para janeiro de 2021. Mesmo com o adiamento, qual é o impacto de manter o processo seletivo de maneira presencial no contexto da pandemia e à luz dos procedimentos de segurança?

São vários aspectos que entram em jogo nesse processo e o ponto principal é afirmar que nós estamos fazendo todos os esforços possíveis para que o ingresso de novos alunos no ano de 2021 não fique comprometido e que se dê desde o primeiro semestre. 

A estratégia que adotamos é bastante projetiva, ela se baseia na experiência que nós estamos adquirindo no decorrer da pandemia, o que esse processo nos informa. Então, fazemos uma projeção do que é possível realizar.

A nossa experiência acumulada é com provas presenciais, Nesse momento, nós não dispomos de um sistema seguro de provas on-line que pudéssemos aplicar assim tão repentinamente.

Para aplicar as provas presencialmente, nós pretendemos lançar mão de todas as medidas de precaução e prevenção da pandemia. Para isso, estamos com uma assessoria médica que está criando protocolos para garantir que todos os detalhes sejam providenciados e uniformizados em todos os locais de provas.

Estamos mandando esse protocolo para os diretores e responsáveis pelas instituições e nós já dispomos de um grupo de coordenadores de cada escola (ou grupo de escolas, a depender da região). Eles estão com o protocolo de itens verificando como se encontram as condições de cada uma.

São essas providências e essa logística que nos orientam e nos permitem ousar em uma prova presencial dessa envergadura, que é a Fuvest. É uma população muito grande de estudantes que estão se inscrevendo, e que portanto anunciam que vão de fato fazer as provas.

Outras universidades estaduais de São Paulo, como a Unesp e a Unicamp anunciaram mudanças no vestibular, principalmente reduzindo o número de questões para minimizar o tempo de prova. No Manual do Candidato da Fuvest 2021 não há alterações nesse sentido. Você poderia comentar a decisão de manter o modelo de prova sem alterações?

Nós preferimos não introduzir mudanças, a menos que elas se mostrassem imprescindíveis, como foi o caso das provas de habilidades específicas.

Nas provas gerais, principalmente a primeira fase, que é igual para todos, preferimos manter o padrão dos últimos anos porque haviam já sido introduzidas algumas alterações recentemente.

Isso porque entendemos que os candidatos já estão familiarizados com esse modelo. Para introduzirmos alterações no número de questões, viriam em jogo as disciplinas que entram, o cálculo das notas e das médias.

Isso poderia, por exemplo, diminuir apenas uma hora de permanência na prova. Como estamos tomando outras medidas de precaução e defesa contra a transmissão do coronavírus, entendemos que essa hora não vai ser tão comprometedora, principalmente porque uma das medidas que são essenciais e estão sendo providenciadas é o distanciamento social.

A ocupação dos locais de prova será grandemente alterada este ano por causa do distanciamento social e será em média de 50% em relação ao que cada sala comportaria em uma situação de não-pandemia. 

Nesse sentido, nós entendemos que a permanência dos alunos por quatro ou cinco horas não altera as medidas de precaução e os cuidados contra essa transmissão.  Essa foi a razão pela qual nós mantivemos esse procedimento e o mesmo padrão de provas.

A professora Belmira Bueno, diretora executiva da Fuvest. Foto: Divulgação

Em uma matéria publicada na Folha de S. Paulo, a Fuvest afirmou que uma das razões para o adiamento do vestibular, além das questões sanitárias, foi para que os candidatos tivessem mais tempo para se preparar para o exame. Considerando que a realidade do Brasil é muito diversa, principalmente com relação às escolas públicas e privadas, há alguma expectativa para o desempenho dos candidatos esse ano, se ele pode ser abaixo ou acima da média?

Sabemos que há uma enorme diferença — mais acentuada do que em anos anteriores — entre públicas e privadas, não resta a menor dúvida. Imaginávamos, quando alteramos a data da primeira e da segunda fase, que as aulas presenciais tivessem retomado nas escolas públicas em agosto ou setembro, e isso não aconteceu. Então são dados e informações que escapam da nossa previsão.  

De qualquer forma, uma expectativa positiva que a gente pode ter nessa comparação entre alunos oriundos de instituições públicas e privadas é que, no ingresso de 2021, a cota social da USP vai atingir 50% de reserva de vagas para os alunos oriundos de escolas públicas e que fizeram o ensino médio integralmente nessas instituições.

O que vai acontecer é uma concorrência entre grupos distintos: aluno de escola pública concorre com seus pares de escolas públicas e o mesmo se aplica aos alunos de escolas privadas. Se isso não resolve por completo o problema da desigualdade social, ao menos estabelece uma medida de maior equidade entre os alunos.

A questão [da disparidade] do desempenho é inevitável porque a seleção é muito grande, considerando o número de inscritos e o número de vagas que a USP disponibiliza. Talvez depois do exame seja possível fazer análises sobre o desempenho com relação aos exames anteriores.

A Fuvest está se preparando de alguma forma especial para lidar com essas diferenças, por meio das questões?

As provas são elaboradas por bancas que são soberanas, que têm autonomia, conhecimento sobre a pandemia e sobre as escolas. Certamente as bancas estão levando isso em conta.

O Manual do Candidato da Fuvest 2021 informa que algumas medidas serão adotadas conforme o protocolo estabelecido pelo Governo do Estado de São Paulo. Há algum diálogo mais próximo com o governo nesse sentido de estabelecer critérios específicos para a aplicação do vestibular, considerando que a realização das provas movimenta dezenas de milhares de estudantes?

O que compete à Fuvest é elaborar e aplicar as provas. O protocolo de proteção à covid-19 que nós estabelecemos está integralmente alinhado com o Plano São Paulo. Mas nós não fizemos isso com as autoridades ou com o governo, nós estamos fazendo com o plano.

Eu considero que a USP também está tomando as mesmas providências em relação ao retorno das suas atividades.

Estamos empenhados em proteger a saúde de todos, tomar as medidas que são possíveis e estão previstas, para que com isso possamos garantir o ingresso de mais de 8 mil candidatos na USP pela Fuvest. 

Nosso empenho é para garantir esse número de novos ingressantes de tal forma que eles não percam o ano letivo. Esse processo e nosso trabalho são de cunho social e educacional e não podem ficar comprometidos e prejudicados.

Como a Fuvest, durante a organização e aplicação das provas, pensa em monitorar e manter o rigor dos candidatos durante as provas?  Vemos na mídia e nas ruas, casos de pessoas que resistem ao uso da máscara e que fazem isso de forma incorreta. Haverá alguma forma de punição ou advertência para os candidatos que se comportarem assim?

A obrigatoriedade do uso de máscaras não está sendo estabelecida pela Fuvest, estamos endossando uma obrigatoriedade que vem do Governo.

Estamos recomendando isso já no manual, vamos reiterar isso  na comunicação com os candidatos depois do encerramento das inscrições, de maneira geral e individual, na área do candidato.

Além disso, os fiscais e coordenadores estão sendo treinados e orientados sobre como se comportar e agir nessas situações. A máscara é obrigatória, ela só vai ser retirada no momento do reconhecimento facial e no momento em que o aluno for se alimentar. Se fora dessas situações houver transgressões, os fiscais e os coordenadores estão orientados a conversar com o candidato. Às vezes é uma mera distração, não uma rebeldia.

O esforço é para garantir que o candidato realize sua prova em boas condições e que os demais colegas da sala não sejam perturbados. A postura ao longo dos anos — não é algo que está surgindo apenas agora com a pandemia — é a de não perturbar a execução da prova, e fazer o máximo para que haja tranquilidade.

Nossa tentativa é conversar, lembrar. Punir não, porque não somos nós que estamos estabelecendo essa regra. É um compromisso mútuo social, quem não quer usar a máscara está prejudicando não apenas a si mesmo, mas também aqueles que estão próximos.

Esperamos que os alunos que queiram se dirigir ao ensino superior tenham suficiente consciência para compreender a finalidade dessa providência.