USP recua no retorno compulsório de funcionários às atividades presenciais, mas Sintusp mantém estado de greve

Em novo documento, Reitoria volta atrás na obrigatoriedade sem alterar outros pontos do plano

 

por Isabel Teles

Arte: Camila Paim/ Fotomontagem com USP Imagens

 

Quando o governador de São Paulo João Doria e o prefeito da capital Bruno Covas divulgaram, em 9 de outubro, que a cidade avançaria para a fase verde do plano São Paulo de combate ao coronavírus, houve comemorações. Isso porque a progressão indicava que a situação da pandemia estava controlada e que a população poderia voltar a frequentar lugares como cinemas, museus e parques. 

Pouco mais de um mês depois, no último dia 16, o governo adiou a progressão para a fase verde de retomada de atividades em outras regiões do estado, devido ao aumento no número de internações por covid-19.

No mesmo dia, os servidores técnico-administrativos da USP completaram uma semana de greve sanitária contra o retorno das atividades presenciais em cinco dos oito campi da Universidade, incluindo a capital, conforme previsto na atualização do Plano USP, divulgado pela Reitoria em 27 de outubro. 

Em 17 de novembro, a Reitoria publicou um novo documento, voltando atrás na compulsoriedade do retorno das atividades presenciais de servidores técnicos e administrativos. A versão anterior do Plano estabelecia o retorno de 20% dos servidores de cada unidade ou órgão por dia em regime de revezamento a partir de 6 de novembro.

Em assembleia, os servidores presentes se manifestaram contrários ao Plano do dia 27 de outubro e votaram a favor da greve sanitária, que segundo o Sindicato dos Trabalhadores da USP, o Sintusp, não visava à paralisação das atividades, mas a manutenção delas de forma remota, a fim de evitar o risco de exposição ao vírus e preservar a saúde dos funcionários.

“Não estamos nos negando a trabalhar e realizar as atividades. A proposta é de que as pessoas não venham presencialmente, mas façam as suas tarefas remotamente”, explicou Reinaldo Souza, diretor do Sintusp, sobre a proposta. Ele completou que as atividades essenciais, como de segurança e hospitais, que já ocorriam de forma presencial nos últimos meses, foram mantidas sem alterações. 

Com o fim da compulsoriedade do retorno, o Sintusp suspendeu a greve, na última quarta, dia 24, mas decidiu manter o estado de greve, como uma indicação de que os funcionários podem voltar à greve sanitária, no caso de um retorno que o sindicato considere arriscado e precipitado.

Entre as justificativas do Sintusp para a greve está o fato de que com as aulas presenciais no campus suspensas até 2021, a necessidade de realizar trabalho técnico administrativo de forma presencial é reduzida e que ela tem sido desempenhada de maneira satisfatória ao longo dos últimos meses. 

Marina Macambyra,  servidora da biblioteca da ECA, que foi à USP trabalhar presencialmente após a convocação do Plano, concorda. “Nós nos organizamos para trabalhar remotamente. Essa volta um dia por semana vai desorganizar nossas rotinas de trabalho, além de nos colocar em risco.” Na ocasião, ela afirma ter realizado atividades essencialmente presenciais por cerca de meia hora, além de ter se sentido desconfortável com o contato com outras pessoas.

Para o Sintusp, o Plano de retomada ainda apresenta falhas, como não levar em consideração as especificidades de cada unidade, o que gera situações como a ida de servidores até a Universidade para realizar atividades online, como a participação em reuniões virtuais, caso relatado em diferentes ocasiões. Isso acontece porque, segundo a direção do sindicato, não houve diálogo entre a Reitoria e os servidores para a elaboração do Plano, algo que vem sendo cobrado, mas sem retorno.

Outra questão colocada pelo Sintusp é a definição de “condições clínicas de risco” feitas pela USP. Segundo o documento, não devem retornar ao trabalho presencial os servidores que apresentam condições de saúde graves ou descompensadas, gestantes de alto risco, puérperas e lactantes. 

Já aqueles com mais de 60 anos, considerados como grupo de risco pela Organização Mundial da Saúde,  têm o retorno às atividades presenciais facultativo, mas não são considerados como se apresentassem condição de risco. Os demais servidores, incluindo os que apresentam doenças como diabetes e hipertensão controladas, deverão retornar ao trabalho presencial compulsoriamente. 

Segundo o Sintusp, o entendimento foi alterado desde o início da pandemia, quando os funcionários que eram parte do grupo de risco em sentido amplo foram afastados com base em uma autodeclaração – agora é necessário apresentar atestado médico. Além disso, aqueles com filhos menores de 10 anos também foram dispensados em março, devido ao fechamento das escolas, mas essa situação não é abordada no Plano de retomada. 

Procurada, a Reitoria não comentou a greve e afirmou que fará revisões periódicas do Plano com base na progressão das regiões no Plano São Paulo.