Calouros de 2020 contam as experiências com o EAD e as expectativas que criaram no começo do ano

 

por Beatriz Azevedo

Arte: Beatriz Azevedo. Fotos: Pixabay e Arquivo USP

 

No dia 17 de março de 2020 a USP decretou a suspensão das atividades presenciais devido à pandemia do novo coronavírus. Com poucas informações e a imprevisibilidade da situação, muitos alunos acreditaram que as aulas voltariam a acontecer presencialmente em pouco tempo. No dia 16 de junho, a USP anunciou que o segundo semestre também seria a distância e a especulação é de que os primeiros seis meses de 2021 aconteçam da mesma forma. Anualmente, a USP recebe milhares de novos estudantes cheios de expectativas sobre a vivência universitária. Os calouros de 2020 ficarão marcados pela frustração e o sentimento de perda de uma experiência tão esperada.

Descobrir-se como um novo aluno da USP ao ver seu nome na lista de aprovados é uma experiência única, que gera uma série de ânsias positivas sobre o que vem pela frente. “Eu tinha colocado muita expectativa no meu primeiro ano na USP, pensava  que ia ser o melhor ano da minha vida em que eu ia me mudar de cidade e fazer a faculdade dos meus sonhos”, diz Alyni Marani Oliveira, caloura do curso Engenharia Ambiental na Escola de Engenharia de Lorena (EEL).  

Os campus da USP recebem alunos do país inteiro que esperam renovar a vida ao chegar na cidade em que se formarão. “Eu sou de Belo Horizonte e estudar em São Paulo sempre foi um grande sonho e, quando eu passei na Fuvest,  tive um dos dias mais felizes da minha vida”, conta João Pedro Firpe, do curso de Publicidade e Propaganda na Escola de Comunicação e Artes, em São Paulo (ECA). 

Luis Henrique Morais Telles, aluno de Engenharia Química na EEL, conta uma experiência parecida, ele é de Fernandópolis, cidade no interior de São Paulo. “As expectativas sobre meu primeiro ano eram as melhores possíveis, primeiro porque eu saí da casa dos meus pais e sabia que ia amadurecer muito e segundo que foi o ano que eu comecei a fazer a faculdade dos meus sonhos”, relata. 

Entrar na USP não é fácil, o vestibular é complexo e exige muito tempo de dedicação e estudo, muitas vezes, os candidatos precisam passar muito tempo estudando, sacrificando horários de lazer. “Ano passado eu estava no terceiro ano, estudava integralmente e quando chegava em casa eu estudava mais para passar no vestibular. Foi um ano pesado, eu tive que abrir mão de várias coisas, como sair no final de semana. Eu pensava que, se desse tudo certo, eu estaria na USP no ano seguinte e poderia aproveitar”, narra Beatriz Lopomo Pereira, aluna de Jornalismo na ECA. 

As experiências de ensino a distância na USP

“Eu me sinto perdido, eu acho que foi algo bem ruim que aconteceu com o nosso ano de calouro”, Carlos Eduardo Marcelino Júnior, Publicidade e Propaganda na ECA. Ele complementa dizendo que os veteranos foram essenciais para uma experiência menos pior, “é óbvio que teríamos conhecido mais gente, mas eles se esforçaram ao máximo para tentar suprir essa ausência, de qualquer forma vai ser um ano insequecível”. 

O aprendizado sofreu uma série de prejuízos pelo contato restrito com os professores e a falta de preparo da Universidade, por ter tradição presencial, para lidar com a situação. “Esse tempo longe da Universidade tem sido bem difícil, acabou sendo um pouco desmotivador porque eu não tenho esse acesso direto aos professores. Essa forma EAD atrapalha, não aprendemos cem por cento”, adiciona Alyni Marani, citada acima. 

“Sinto que estou perdendo grande parte do conteúdo, tanto pelo cansaço quanto pelo esgotamento mental. Eu sinto que poderia aprender muito mais se fosse presencial”, complementa Luis Henrique Morais Telles, citado acima. “Com esse tempo longe, o ensino remoto acabou dificultado porque nós acabamos não tendo o convívio com os alunos da turma ou com o próprio professor e o meu foco acaba se desviando muito mais fácil, o que é um ponto negativo”, diz João Pedro de Almeida Lopes, Engenharia de Materiais na EEL. 

O peso psicológico da situação é gigantesco, muitos dos entrevistados descreveram a frustração e o sentimento de impotência diante da situação. “Esse tempo todo longe da faculdade foi muito difícil, tanto por ficar em casa quanto por não ter contato com ninguém, eu me senti muito frustrada com tudo. Eu fiz cursinho por três anos para estar na USP e estava esperando demais esse ano”, afirma Juliana Reis Nogueira de Lima, Publicidade e Propaganda ECA. 

“Sentimento de impotência angustiante de que não há nada que eu possa fazer para mudar, eu odeio quando as coisas fogem ao meu controle”, reforça João Pedro Firpe. “No começo da pandemia estava tudo mais difícil, eu tive muita dificuldade de aceitar o que estava acontecendo, eu ia perder o ano de caloura. Eu estava fazendo terapia, o que me ajudou bastante a aceitar. Foi bem difícil porque eu tinha colocado muitas expectativas e, de um dia pro outro, foi tudo para o ar”, fala Beatriz Lopomo  

Apesar dos déficits, há quem tenha aproveitado o ano. “ 2020 foi um ano em que eu evoluí bastante. Não foi um ano totalmente perdido, claro que teve acontecimentos muito difíceis, principalmente algumas matérias que seriam mais fáceis de entender presencialmente, mas não foi perdido”, afirma  Lucas Cremostim, Engenharia Bioquímica EEL. 

Esperança para a volta presencial

Todo mundo está aguardando o momento em que finalmente, será possível voltar a viver a vida em grandes aglomerações sem medo. “Quando as aulas voltarem eu quero muito aproveitar o campus, porque eu acho que temos muita sorte em estudar em um campus como o do Butantã”, conta Beatriz Lopomo Pereira. 

“O que pretendo fazer quando voltar para a faculdade é justamente tentar recuperar tudo que eu perdi em todos os sentidos que você pode imaginar, todas as vivências que a Universidade pode me proporcionar”, Juliana Reis Nogueira de Lima.

“Quando tudo voltar, eu vou fazer o que eu fiz no primeiro mês, que foi o único que teve aulas presenciais, eu vou viver intensamente a faculdade 110%, me dedicar em tudo, nos esportes, entidades, nas matérias”, promete Carlos Eduardo Marcelino Júnior.