Festa Virtual do Livro da USP – valeu a pena?

 

por Mariana Catacci

Foto: Letícia Flávia Guedes

 

A tradicional Festa do Livro da USP acontece anualmente desde 1999 e reúne leitores de diversos perfis e regiões do Brasil em tendas lotadas no campus do Butantã. Este ano, por conta das medidas de isolamento social devidas à pandemia de covid-19, o evento precisou ser adaptado para o modelo virtual e foi realizado do dia 9 a 15 de novembro, em parceria com 179 editoras. O Jornal do Campus conversou com um organizador e uma frequentadora do festival em busca de um balanço geral da edição online.

“Foi uma loucura!”

Bruno Tenan, um dos responsáveis pela organização do evento, conta que o time esperou até os últimos momentos para aceitar o formato virtual definitivamente. A esperança era de que a quarentena, que começou em meados de março, não interferisse no festival em novembro. Foi apenas quando a reitoria suspendeu todos os eventos presenciais no campus para este ano que a organização passou a procurar uma alternativa online.

Tenan diz que foi preciso entrar em contato com todas as editoras que já participavam do evento presencial para confirmar o interesse no novo modelo. Naturalmente, a lista sofreu alterações, com participações inéditas e algumas desistências por impedimentos tecnológicos e logísticos.

Para ele, uma das grandes questões que influenciou a adesão de alguns grupos foi a competitividade: “Nenhuma editora quer competir com as livrarias. A Festa só funciona porque dura alguns dias, seria inviável oferecer descontos tão altos sempre”. Tenan explica que, com o modelo online, a possibilidade de competição com livrarias aumenta, o que pode ter afastado algumas editoras.

Outro desafio para as editoras foi quanto à cobrança de frete. “É um grande problema do livro. Quanto menor a editora, maior o desafio, porque esse serviço de logística muitas vezes é terceirizado e você não tem muito controle sobre as condições de quem planeja. Trabalha-se com correios, transportadoras, o custo acaba sendo grande mesmo”, afirma o organizador.

Sobre a perspectiva de retorno ao formato presencial, Tenan acredita que a Festa caminha para um modelo híbrido entre o físico e o online, mas tudo depende das condições da pandemia. Ele também diz que o virtual já tem se tornado uma alternativa para festas literárias: “Acho que não tem volta, já não tinha antes e esse ano acelerou as coisas na marra”.

“O virtual tem suas comodidades, mas é muito mais impessoal”

Natasha Mourão é cofundadora do Eu não sei logaritmo, blog e página nas redes sociais sobre hábitos de leitura e cultura literária, além de frequentadora assídua da Festa do Livro da USP. Para ela, o modelo virtual representou algumas comodidades, não sendo necessário aguardar nas filas, arcar com os custos do deslocamento – fator que impede muitos leitores de frequentar a feira -, nem mesmo sair do sofá.  

A variedade de opções também foi um ponto considerado positivo, com o aumento de editoras independentes. Ela conta que algumas gigantes fizeram falta, no entanto, como a Companhia das Letras. O catálogo variou bastante: “Algumas disponibilizaram quase tudo com 50% de desconto, já outras, deixaram os títulos mais famosos e procurados de fora. 

Acho que isso aconteceu também porque muitas editoras tinham feito promoções incríveis nos seus sites ao longo da pandemia – por exemplo Editora 34”, relata Natasha.

O preço do frete também foi problemático entre os clientes. A leitora explica que muitas editoras só disponibilizavam frete gratuito em compras acima de um valor muito alto, de modo que o preço do livro se igualava ou até ultrapassava a quantia sem o desconto da Festa. “Compensou a compra se você queria vários livros da mesma editora, caso contrário, infelizmente, não”. Ela ainda aponta que os sites de algumas editoras não estavam preparados para o número de acessos, gerando algumas falhas nos sistemas.

Natasha também gosta da possibilidade de um formato híbrido, com o virtual complementando o presencial, para edições futuras. Quando questionada sobre o veredito final entre as alternativas online e física, ela diz: “Prefiro ir para São Paulo, com certeza. Acredito que, para quem gosta de livros, a experiência de ver um lugar cheio, várias banquinhas, conversar com os livreiros, conhecer coisas novas, é única e não é o mesmo que receber o livro em casa.”