BichUSP de e-sports é ferramenta para acolhimento de calouros

Com quadras fechadas, atléticas apostam nos e-sports para integração de ingressantes e veteranos

 

por Amanda Mazzei e Luana Benedito

League of Legends, Valorant, Clash Royale, Brawl Stars e Xadrez são modalidades do BichUSP deste ano. Foto: Amanda Mazzei/JC


O principal evento esportivo de recepção aos calouros está de volta depois de um hiato em 2020. Neste segundo ano de pandemia, o BichUSP vai ser online, com competições de
e-sports: as calouras e calouros de 2021, e também de 2020, vão poder representar suas faculdades no Valorant, Clash Royale, League of Legends, Brawl Stars e Xadrez. 

O torneio exclusivo para novos ingressantes, que começou no dia 2 de maio e vai até 6 de junho, é organizado pela Liga Atlética Acadêmica da Universidade de São Paulo (Laausp), que congrega as associações atléticas acadêmicas de todas as unidades da universidade. Tanto os calouros quanto os veteranos de 2020 podem participar desta edição, isso porque no ano passado, por causa do coronavírus, o torneio foi interrompido após o primeiro fim de semana de jogos.

O Bichusp é “a recepção do esporte de cada faculdade e também a recepção do esporte da USP como um todo, o primeiro contato do calouro com o esporte universitário”, diz uma das organizadoras, Iana Maciel, de 22 anos. Ela é diretora geral de modalidades da ECAtlética e colaboradora de comunicação e do esportivo da Laausp. “O Bichusp não é para competir, é para se divertir. A gente tá ali torcendo bem fanático, mas também vamos cantar todos os hinos se a pessoa perder. Tentamos criar um espaço que mostre que é legal sim jogar pela sua faculdade, pela faculdade que você acabou de entrar. Seja o futsal, como seria no presencial, seja o League of Legends, aqui no virtual”.

As transmissões dos jogos são pela Twitch do BichUSP e também de cada atlética. 

“A gente quer dar esse calorzinho para os bixos e mostrar que eles estão sim na USP”

Mais do que só um momento de diversão, o BichUSP de e-Sports é também uma ferramenta importante adotada pelas associações atléticas da USP para a socialização e integração à comunidade universitária dos ingressantes que estão vivendo seus primeiros anos do ensino superior por meio das telas.

Ana Laura, de 29 anos, cursa Medicina Veterinária, sua segunda graduação, na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. Caloura do ano de 2020, ela relata a decepção de ver a pandemia interromper suas experiências no campus, mas diz que participar do BichUSP a ajudou a estabelecer conexões com pessoas que foi impedida de conhecer melhor pessoalmente.

“Com certeza há muita frustração de ter que ficar em casa e esperar o pior passar até poder voltar ao mundo presencial da faculdade”, diz ela, mas “participar desse evento permitiu que eu me enturmasse com mais pessoas e interagisse com meus calouros e meus veteranos, ainda mais porque quando treinamos em equipe é necessário ter muito diálogo e até bolar estratégia contra os adversários.”

Competidora das modalidades Brawl Stars e Clash Royale, ela já era familiarizada com os games, mas conta que o BichUSP foi um momento de reconexão com eles. “Fazia mais de dois anos que não abria os jogos direito e também nunca joguei para competir seriamente”, explica. Ainda assim, ficou muito satisfeita com seu desempenho. “Foi bem legal voltar a jogar e treinar (…), não só pelas amizades, mas também para relembrar que eu gostava de jogar e até que consigo jogar bem ainda.”

Já Henrique Matsumoto, de 22 anos, calouro do curso de Educação Física e Saúde da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, diz que mostrou interesse no evento justamente por causa das interações sociais que ele poderia proporcionar.

Participante da modalidade Clash Royale, ele afirma que “sempre quis ter mais vivências de jogos universitários e, no nosso cenário pandêmico, isso foi de forma remota”. Embora ressalte que preferiria interações presenciais, ele conta que está aproveitando o BichUSP para se enturmar e também aproveitar o lado competitivo do evento.

“Achei muito bacana as competições, deu para rolar uma integração legal, e, como sou competitivo, fui com sangue nos olhos e tive um desempenho bom”, diz ele. “Espero que em breve as atividades voltem ao normal e assim possamos curtir a Universidade por completo.”

E as relações interpessoais oferecidas por um evento como esse não são importantes apenas para quem entrou recentemente na USP. Os veteranos envolvidos na organização e torcida da competição também encontram no BichUSP uma oportunidade de conhecer melhor os calouros de seus institutos e pessoas de outras unidades da Universidade.

Arthur Massola, de 23 anos, faz Bacharelado em Matemática Aplicada e Computacional no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP e é integrante da Associação Atlética Acadêmica da Matemática (AAAMAT). Responsável pelos e-sports de seu instituto, ele ajudou a organizar as modalidades Clash Royale e Brawl Stars do BichUSP e vê o evento como um momento para construir e fortalecer laços sociais.

“Está sendo uma ótima oportunidade para conhecer quem são os representantes das outras atléticas, quem organiza os e-sports e ter esse contato com a Laausp”, relata. Falando sobre a importância do evento sob seu ponto de vista, ele cita a necessidade de acolher os ingressantes e fazê-los se sentirem bem-vindos, assim como a oportunidade de ver os jogos online com outros olhos.

“Não só é um momento em que você pode competir e ter essa sensação ótima que é olhar para o jogo de uma forma mais séria e ver como você pode melhorar, abordar o jogo como um esporte mesmo, mas também se relacionar com seus amigos, ter essa oportunidade de criar conexões”, explica.  “[Nós da AAAMAT] achamos que isso era fundamental, então desde o começo da semana de recepção estamos recebendo bixes no nosso Discord, trazendo gente para as modalidades, fazendo times para os jogos.”

A veterana Iana Maciel ecoa: “a gente quer ao máximo dar esse calorzinho para os bixos e mostrar que eles estão na USP e que eles fazem parte de alguma coisa. Deve ser muito desanimador entrar na faculdade em um ano de pandemia, não ter seu ano para ‘bixetar’. Então acho que é muito importante o BichUSP, tanto para os veteranos se lembrarem de que a gente tem que fazer um esforço para ser receptivo e mostrar que a USP tem muita coisa bacana, quanto também para os bixos se sentirem recepcionados, pertencentes.” Ela ainda destaca o papel do esporte universitário. “É algo muito importante, tanto para a socialização nos anos acadêmicos, quanto para a saúde do corpo e da mente.” 

Para garantir que qualquer pessoa interessada possa ter acesso a essas experiências, as associações atléticas responsáveis pelo BichUSP tomaram algumas providências, como a adoção de modalidades que permitem o uso de telefones celulares.

“O Clash Royale e o Brawl Stars são modalidades mobile. Ou seja, a gente joga pelo celular”, explica Arthur Massola. “Achamos importante que haja modalidades assim porque normalmente elas dão oportunidades para mais pessoas participarem, porque não é necessário ter um computador ou console que rode os jogos.”

Cada partida conta com reprodução ao vivo dos jogos pelas atléticas participantes dos jogos, o que busca gerar um ambiente de torcida e também fazer com que qualquer pessoa possa participar do BichUSP, mesmo que apenas como espectadora.

Desafios de um BichUSP virtual

O Bichusp é um dos campeonatos mais tradicionais da USP. “É uma festa quando ele rola no presencial: dura um mês, porque só acontece no fim de semana, então é sábado e domingo inteiro lá no Cepê, maior galera”, conta Iana Maciel. “Antes, no presencial, era todo mundo gritando, as baterias participavam, torcidas organizadas também, num embate bonito nas quadras, que faz falta… Mas é claro que no online a gente está agitando, todo mundo de todas as atléticas está tentando ao máximo tornar isso uma experiência imersiva, se valendo dos comentários na Twitch, dos canais no Discord e de outras plataformas.” 

Giovanna Britto tem 19 anos e é caloura de 2020 do curso de Relações Internacionais. Ela também lamenta a impossibilidade do BichUSP presencial. “Acho que esse processo de competição e integração é um pouco complicado. Apesar de conseguirmos nos integrar bem entre nossos próprios times, a gente perde muito nas relações com outras faculdades. A única experiência nesse sentido com outros institutos é ou no chat durante os jogos, quando as torcidas estão conversando, ou, no máximo, quando duas atléticas jogam juntas no mesmo time, o que chamamos de junção.” 

Ela acredita que seja “muito mais difícil” fazer as pessoas se engajarem de forma online. “Temos uma gama muito limitada de pessoas com quem a gente convive. Quando estamos no presencial a competição acaba sendo uma coisa muito mais divertida para todo mundo.”

Iana Maciel também enxerga um desafio maior em incentivar os atletas a participar de um BichUSP de e-sports. Além do distanciamento e dificuldades de comunicação com os calouros por meio da internet, ela explica que os jogos podem ter regras e mecânicas complexas e pouco intuitivas.

“A gente entende que o público do e-sports e o público do esporte físico/presencial são bem diferentes. Quer dizer, sempre tem gente que chega na USP e já joga vôlei, ou então já é craque no League of Legends… Mas também tem gente que não sabe nada.” Maciel acredita que as pessoas que não tiveram uma relação grande com o esporte durante os anos escolares se sentem mais seguras em participar de modalidades físicas. “No presencial, você tem coragem de entrar na quadra sem experiência no futsal, porque sabe que só tem que chutar a bola e pronto. As pessoas realmente se jogam. Já em uma competição de e-sports, muitos ficam constrangidos em participar sem saber nada do jogo, ainda mais por boa parte das modalidades serem em equipe.” 

Apesar disso, tanto Iana Maciel quanto Arthur Massola acreditam que os e-sports vieram para ficar. “Tenho a expectativa de que a Laausp como instituição veja a importância dos e-sports, e espero que a gente consiga criar um legado, que isso se torne um padrão. Mesmo se tudo der certo e estivermos bem vacinados, num país com governantes que levem mais a sério os problemas, e aconteça um BichUSP presencial novamente, é importante que os e-sports ainda façam parte”, diz ele. 

“Não tem como dar esse passo para trás. Eu ajudei a fazer o BIFE em 2019, com e-sports no presencial, que aconteceram em uma arena com cinco computadores de cada lado, PC gamer, cadeiras confortáveis… E foi muito legal, porque apesar de estarem jogando um jogo online eles estavam um na frente do outro. Espero que dê para fazer isso no ano que vem”, afirma Maciel.  

Sobre a organização do evento, apesar da coordenação geral ser da Laausp, cada atlética tem seu método de prospectar calouros para todos os times e divulgar as atividades do BichUSP de maneira autônoma, para além das ações comunicacionais da Liga. 

Fica a critério das atléticas definir datas para os jogos e transmitir as competições que acontecem durante a semana. A Laausp só transmite partidas regulares marcadas aos fins de semana. As eliminatórias são transmitidas pela Liga em qualquer dia da semana. 

O financiamento do evento é por meio de uma taxa de inscrição paga pelas atléticas à Laausp. “É um valor bem abaixo do que seria em um campeonato normal, porque existem menos gastos no geral, por isso cobramos menos das atléticas.” Iana Maciel explica que neste ano, apesar de economizar pela falta de arbitragem — os jogos online já declaram quem é o vencedor —, a Laausp teve despesas com premiação. “Rola medalha e tudo mais, então recebemos cerca de 20 reais por atlética. E os bixos não têm que pagar nada! As atléticas que se inscrevem em cada modalidade e os bixos só jogam.” 

Resumão

Se você se interessou pelo BichUSP de e-sports, aqui vai um resumão das principais informações que você precisa saber sobre o evento:

O BichUSP de e-sports é organizado pela Laausp (Liga Atlética Acadêmica da USP), que congrega as associações atléticas acadêmicas de todas as unidades da USP.

A edição de 2021 começou no dia 2 de maio e se encerra em 6 de junho, segundo o regulamento oficial. As modalidades adotadas são Brawl Stars, Clash Royale, League of Legends, Valorant e xadrez.

Veja abaixo as datas previstas para cada modalidade:

– Valorant (de 2 a 22 de maio)
– Clash Royale (de 2 a 22 de maio)
– League of Legends (de 20 de maio a 6 de junho)
– Brawl Stars (de 20 de maio a 6 de junho)
– Xadrez (5 e 6 de junho)

Os jogos realizados aos fins de semana podem ser assistidos na Twitch da LAAUSP, enquanto partidas que acontecem em outros dias são transmitidas pelas Atléticas participantes.

Mais informações podem ser encontradas no evento oficial do BicHUSP de e-Sports no Facebook.