Gestos, palavras e resistência, o povo negro quer viver!

 

por Gabriel Guerra e Vinícius Lucena

Jovens em São Paulo protestam contra o racismo estrutural no país. Foto: Gabriel Guerra/JC

 

O Brasil vivenciou, na última semana (13), manifestações em 22 cidades de todo o país e duas cidades internacionais, Nova Iorque e Londres. A manifestação foi convocada pela Coalizão Negra Por Direitos, conjunto de organizações, entidades, grupos e coletivos do movimento negro no Brasil.

O dia 13 de maio é a data em que a Lei Áurea foi assinada, em 1888, lei que sanciona a abolição da escravidão no Brasil. A assinatura do documento no século 19 é resultado da pressão de movimentos sociais que lutavam pelo abolicionismo. Além disso, vale ressaltar que após a abolição, os escravizados não contaram com mecanismos de introdução social e vida digna, por isso até hoje os movimentos negros lutam e resistem ao racismo estrutural da sociedade brasileira. 

Nessa data simbólica, a Coalizão Negra convocou o ato “Nem bala, nem fome e nem Covid, o povo negro quer viver!” contra o genocídio da população negra. Na chamada do evento tinham recomendações para prevenção contra o coronavírus. 

Chacina do Jacarezinho

O bairro do Jacarezinho, zona norte do RJ (Rio de Janeiro), presenciou a maior chacina da história da cidade, que resultou na morte de 28 pessoas. A ação policial é um reflexo do racismo estrutural no país, já que as operações são em regiões periféricas, onde a maioria populacional é negra, e costumam ser violentas.

Por isso, frases como “parem de nos matar” e  “vidas negras importam” simbolizam o grito, que ecoa diariamente, pelo fim do genocídio negro. 

Foto: Gabriel Guerra/JC
Foto: Vinícius Lucena/JC
Foto: Vinícius Lucena/JC
Foto: Gabriel Guerra/JC
Foto: Gabriel Guerra/JC
Foto: Vinícius Lucena/JC

A estratégia genocida do governo

Uma análise jurídica feita pelo Cepedisa (Centro de Pesquisa de Direito Sanitário), da Faculdade de Saúde Pública da USP, em conjunto com a Conectas Direitos Humanos avaliou que as 3.049 normas editadas pelo governo durante a pandemia em 2020 revelaram a existência de uma estratégia institucional de propagação do coronavírus, promovida pelo governo federal sob a liderança do presidente Jair Bolsonaro. Além disso, o estudo aponta a necessidade da discussão sobre crimes de responsabilidade do presidente contra a saúde pública e contra a humanidade. 

Mais uma vez, a população negra é impactada de forma direta, pois pessoas negras são maioria em serviços essenciais, logo com mais exposição ao vírus. Os serviços de saúde pública é o mais utilizado pela população negra, 67% dos brasileiros que dependem exclusivamente do SUS são negros. 

Foto: Gabriel Guerra/JC
Foto: Vinícius Lucena/JC
Foto: Gabriel Guerra/JC

A luta continua

A conivência do governo federal é parte fundamental deste projeto genocida que afeta em dobro a população negra e leva à percepção de que a negligência do presidente pode ser mais letal do que o próprio vírus. Contudo, diante da posição responsável de defender medidas de restrição da circulação, setores que fazem oposição ao presidente foram impossibilitados de ir às ruas com regularidade durante a pandemia. Entretanto, os negacionistas nunca deixaram de ocupá-las. 

Por isso, organizações da sociedade civil e movimentos sociais (partidarizados ou não) decidiram que é hora de voltar – com todos os cuidados necessários – às manifestações de rua. Um estudo, publicado no ano passado pelo Bureau Nacional de Pesquisa Econômica dos EUA, demonstrou que nas cidades dos Estados Unidos onde foram realizados protestos do movimento Black Lives Matter, não se verificou um aumento relevante de casos de Covid-19.

Tal dado comprova que podemos voltar às ruas, desde que respeitadas as medidas de proteção, como o uso permanente de máscaras, álcool em gel, dentre outras. Se o que falta para mudar a situação política no país é a “voz das ruas”, a população deu o recado nas manifestações do dia 13: a luta continua e não temos medo de ocupar as ruas para derrotar a política genocida do governo Bolsonaro. 

Foto: Gabriel Guerra/JC
Foto: Vinícius Lucena/JC
Foto: Gabriel Guerra/JC
Foto: Vinícius Lucena/JC
Foto: Gabriel Guerra/JC