Como as bibliotecas da USP atuaram durante a pandemia?

Atendimento presencial adaptados às normas sanitárias, digitalização de material e recursos audiovisuais foram algumas das abordagens adotadas por bibliotecas da USP 

por Gabrielle Abreu 

Arte: Gabrielle Abreu / Foto: Biblioteca da Faculdade da FEA-USP por Marcos Santos

 

Quem é estudante da USP precisou pelo menos uma vez, durante a graduação, ir até a biblioteca mais próxima para pegar um exemplar, usar a internet ou as salas de estudos. Já faz algum tempo que esses cenários não são vividos. O contato que os estudantes têm hoje com livros, é através dos acervos digitais, e até esses ligeiramente desconhecidos por uma parcela do público discente.

Apesar da pandemia, as bibliotecas da USP não pararam, adotando diferentes modelos de gestão para atender os alunos durante o período. Como compartilha Mônica Arruda, chefe técnica da Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), as chefias de bibliotecas da USP, logo nos primeiros meses, se organizaram para a criação de um documento com protocolos de retorno ao trabalho, mas que ainda não foi colocado em prática, visto que a pandemia não melhorou desde a sua elaboração. Diante disso, as bibliotecas se adaptaram da melhor forma que encontraram. 

Atendimento presencial adaptado

Na Biblioteca da FAU, a partir de agosto de 2020, os pedidos de retirada de livros eram todos agendados por e-mail, com intervalo de atendimento de 30 minutos, evitando assim qualquer tipo de aglomeração e espera desnecessária. As retiradas ocorriam uma vez por semana, e os funcionários iam à biblioteca atender em um sistema de rodízio. Os funcionários também digitalizaram capítulos de livros, teses e periódicos que eram então enviados por e-mail para o solicitante.

Mas até essas idas de funcionários uma vez por semana, tendo contato direto com o estudante, não era o melhor dos cenários, e para isso, a Biblioteca da FAU adotou uma caixa de devolução de livros 24 horas na portaria da faculdade, servindo como um reforço para evitar qualquer tipo de interação, como explica Mônica Arruda: “Embora o sistema de empréstimo fosse prorrogando a devolução dos livros, muita gente precisava devolvê-los porque ia viajar de volta para o seu estado ou porque era intercambista que estava voltando para o seu país e não queria ficar com os livros. Então, a gente achou melhor adotar esse serviço, que já era prestado por algumas bibliotecas da USP.”

Caixa de devolução de livros limita contato direto com funcionários da USP. Foto: Arquivo pessoal / Mônica de Arruda Nascimento

 

Já na Biblioteca da Faculdade de Medicina, o direcionamento por parte dos dirigentes locais foi de não parar o atendimento diário, embora com escala reduzida. Através de plantões de duas horas, evitando os horários de pico e a necessidade de alimentação dos funcionários fora de casa, a biblioteca atendeu a pedidos de empréstimos e devolução de obras previamente agendados. Funcionários de grupos de risco permaneceram afastados e quem participou do plantão contou com EPIs fornecidos pela Unidade como máscaras, luvas, face shields e álcool gel. 

O espaço também foi adaptado com instalação de barreiras de proteção acrílica no balcão de atendimento, dispenser de álcool gel, cartazes, adesivagem, restrições de áreas de circulação, além de câmera para controle do uso de máscara e medição de temperatura na entrada. Mas ainda assim, a maior parte dos atendimentos foi feito por e-mail, como explica Eidi Raquel Abdalla, chefe técnica da Divisão de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Medicina: “Os pedidos de cópias digitais são serviços comuns nas bibliotecas, a demanda maior de nosso acervo já está no formato digital, pois a área da saúde requer, quase sempre, a informação mais atualizada.”

Com restrição de acesso ao público, todo o espaço da Biblioteca da FMUSP foi readequado e sinalizado. Foto: Acervo da Biblioteca da FMUSP

 

Adaptação parecida também foi adotada pela Biblioteca do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG). No começo da pandemia, uma escala de atendimento foi montada às quartas-feiras, durante o período da manhã ou da tarde conforme as solicitações dos usuários, com interrupção de atendimentos nas fases críticas da pandemia. 

Digitalização de materiais

Para algumas bibliotecas, foi mais difícil de manter atendimento presencial, como no caso da Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes (ECA) que conta com funcionários de grupos de risco que teriam que utilizar transporte público para locomoção, além da pandemia ter coincidido com o período de reforma do espaço, que começou em dezembro de 2019 e terminou em janeiro de 2021. 

Uma saída para atender aos pedidos foi levar os equipamentos de digitalização para casa, diz Marina Macambyra, bibliotecária de referência da Biblioteca da ECA. “De vez em quando um funcionário ia até a biblioteca e se tinha alguma demanda registrada, por exemplo, de alguém pedindo um capítulo de livro ou alguma coisa que fosse viável de digitalizar, a gente trazia pra casa e digitalizava.” 

Digitalização dos materiais foram feitas através de equipamentos emprestados da Biblioteca da ECA. Foto: Eduardo Vaz da Silva / Biblioteca da ECA

 

A Biblioteca da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) também contou com digitalizações para atendimento de demandas, com equipe presencial reduzida para manutenção da biblioteca e digitalização do acervo. Segundo Marcia Regina Migliorato Saad, chefe técnica da Divisão de Biblioteca da Esalq, até abril deste ano foram digitalizadas 8.080 páginas, dentre pedidos de usuários e digitalização de conteúdos para disciplinas de graduação, entregues aos professores para compartilhamento com os alunos via Google Drive. 

A Biblioteca da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade Atuária (FEA) da USP, como indicou Hálida Fernandes, chefe técnica da biblioteca, também disponibiliza seus conteúdos para os professores, que por sua vez, compartilham com os alunos via Moodle. A biblioteca também não tem feito atendimento presencial durante a pandemia. 

Preservação digital

A Biblioteca da Esalq se dedicou, durante a pandemia, ao Projeto de Digitalização Retrospectiva de Teses e Dissertações de 1966 até 2000, período não coberto pela Biblioteca Digital da USP. A iniciativa contou com a mobilização de toda a biblioteca em parceria com a USP São Carlos. 

A preparação do material exige várias etapas que vai desde a digitalização, aprimoramento do material através de softwares de imagem e também a edição dos metadados, mas como compartilha Márcia Saad, o trabalho é mais do que necessário: “A gente não podia ter metade do acervo digitalizado e o outra metade não. Todas as grandes bibliotecas já fizeram isso. É uma questão que a gente chama de preservação digital.”

Oficinas e treinamentos

As bibliotecas da USP também oferecem diversos treinamentos e oficinas que não pararam mesmo no formato on-line. Os conteúdos trazem explicações de como utilizar os recursos on-line disponíveis, pesquisar dentro de bases de dados da USP e dicas de formatação ABNT.  A Biblioteca da Esalq, por exemplo, adaptou as orientações, com a gravação de cinco vídeoaulas disponíveis no Youtube. 

Marina Macambyra compartilha que os treinamentos oferecidos pela Biblioteca da ECA desde 2014 em formato presencial também foram adaptados para o formato digital com sucesso. “Eu acho que o treinamento remoto, para algumas pessoas, é até melhor. É mais fácil da pessoa entender o que a gente está mostrando. Foi uma experiência legal e vamos manter [o formato].” 

Além disso, a Biblioteca da ECA também tem se empenhado em divulgar as oficinas com orientações de uso das ferramentas Wikipédia e Wikidata, como parte do “movimento wiki”, comunidade de colaboradores da plataforma. Durante a pandemia, a Biblioteca tem trabalhado na criação de perfis dos professores da ECA na plataforma, ajudando na visibilidade da produção científica da universidade.