O Cepeusp por quem o conhece muito bem

Com o Cepê fechado durante a pandemia, as memórias se tornaram o único meio de revisitar esse espaço tão especial.

 

por Marina Caiado


Mila comemorando o primeiro lugar do ICBIÓ no atletismo. Alguns minutos depois, todos descobriram que a contagem estava errada, e o ICBIÓ na verdade tinha ficado em segundo lugar. Foto: arquivo pessoal/Mila Pamplona

 

Ao longo de sete anos na USP, Mila Pamplona, atualmente mestranda do Instituto de Biociências, coleciona inúmeras memórias do Cepê, que é tão importante para a Universidade. A paixão pelo esporte, a integração entre institutos e as alegrias e tristezas que davam vida a esse espaço estão condensados neste relato pessoal que traz experiências comuns a vários outros alunos, uma amostra de tantas outras histórias que tiveram o mesmo cenário.

“Eu entrei na Biologia em 2014, me formei em 2018 no bacharelado e logo emendei com o mestrado, e sempre frequentei o Cepê desde o meu primeiro ano, porque eu tentei entrar em vários times da atlética. Dependendo do semestre, eu cheguei a ir para o Cepê cinco dias na semana, e durante os finais de semana, por causa dos jogos. Em 2016 eu fui presidente da Atlética do ICBIÓ e frequentei bastante também, porque além dos treinos sempre tinha reunião da Laausp ou alguma coisa pra gente participar. E em 2017 eu praticamente morei no Cepê, porque fui tesoureira da Laausp e, da gestão, eu era praticamente a única pessoa que tinha uma rotina com horários flexíveis, que conseguia ficar mais tempo no Cepê, e eu sempre encaixava meus horários pra estar lá no tempo livre.

Eu passei muito tempo no Cepê, eu brinco que eu passei mais tempo lá do que na sala de aula da Biologia, e talvez tenha sido mesmo. Eu ia pra lá quase todo dia, e quando eu não tinha jogo, o que era raro, ou o que acontecia quando eu estava lesionada, por exemplo, eu ainda ia para o CEPE quase todo final de semana, para assistir aos jogos, acompanhar tudo com os meus amigos. Por exemplo, quando tinha Bichusp, eu ia assistir todos os jogos possíveis, mesmo sem jogar, porque eu amo muito aquilo. Chegar lá e ver toda aquela energia da Universidade se renovando, e por meio do esporte, todo mundo estar integrado, é muito bonito. E não importa se você é bom no esporte, o importante é fazer parte de uma comunidade e viver essa comunidade e os valores dela.

Eu joguei vôlei e handebol durante uma boa parte da minha graduação, e mais pro final eu comecei a jogar futsal, e esses eram os três esportes que eu treinava regularmente, toda semana. Também cheguei a treinar atletismo por um tempo, e eu ia treinar fora do horário, às vezes, e perto das competições eu ia na hora do almoço. Quando eu ia passar o tempo, no fim de semana, eu assistia aos jogos do esporte universitário que estavam acontecendo, e às vezes eu levava a minha sobrinha pequena. Ela tinha uns dois anos quando eu entrei na faculdade e ela ama o Cepê, ela brincava no parquinho e a gente também assistia aos jogos juntas. Como tinha o restaurante, podíamos almoçar ali mesmo, então eu passava o dia lá, era um momento de relaxar.

O esporte universitário é tudo para mim. Eu amo muito o esporte, desde criança. Entre os 12 e os 15 anos de idade eu estudei em uma escola que estimulava bastante o esporte. E em uma parte do ensino médio eu parei de vivenciar isso, porque eu mudei de escola e eu parei de jogar, totalmente. Na faculdade eu voltei a praticar esportes, então foi muito marcante para mim voltar a ter essa vivência. Eu lembro que no meu primeiro ano, eu estava tão feliz de voltar a jogar vôlei, que eu ficava guardando quadra pro meu time treinar, e eu me lembro de matar aula para ir guardar quadra. Tinha uma matéria específica que eu assistia a aula teórica inteira e a segunda parte era fazer uma lista, então ao invés de fazer na aula, eu assinava meu nome na chamada, pegava a lista de exercícios e ia para o CEPE. Eu sentava na quadra, com muita antecedência para o treino, e ficava lá fazendo a lista para garantir que o time ia ter quadra para treinar. E eu fiz muito isso. 

Uma coisa muito louca era isso da integração, de encontrar as pessoas. No início, eu encontrava mais pessoas do meu time e da minha atlética, mas como eu fui tendo a vivência de gestão da Laausp, eu comecei a conhecer gente de tudo quanto é lugar, de tudo quanto é atlética. Então nessa brincadeira de ir guardar quadra, por exemplo, sempre tinha algum amigo, alguém que eu encontrava para conversar. Inclusive, eu tinha amigas que eram da minha sala e do meu time, e a gente até marcava de fazer a reunião para fazer um trabalho ou marcava de estudar na quadra enquanto guardava, com bastante frequência.

Mas além de memórias muito boas, óbvio que tenho também memórias ruins. Eu já passei muito estresse no Cepê, por causa da organização dos campeonatos. Como Laausp a gente já viveu um milhão de problemas, então se tem um lugar que eu  já ri, já fui feliz, e já chorei também, foi o Cepeusp. Uma das coisas mais difíceis para mim que aconteceu no Cepê, foi uma das minhas lesões. No meu primeiro ano o meu time de vôlei ganhou os Jogos da Liga, e eu era reserva. No meu segundo ano, a gente foi jogar a Copa dos Campeões e eu era titular. A gente estava jogando contra a Poli, que foi o time que venceu a gente na final da Copa USP, então tínhamos bastante rivalidade. Eu estava jogando muito bem, acho que foi um dos meus melhores jogos de vôlei da vida, e a gente ganhou o primeiro set e o segundo estava bem disputado. Então eu torci o joelho comemorando um ponto, uma das lesões mais ridículas da história da USP. Eu fiz um ponto, um ataque do fundo da quadra, e foi uma bola muito bonita e que me deixou muito animada, porque não é o tipo de lance que eu fazia com frequência, e todo mundo comemorou e eu pulei muito. Quando eu parei de comemorar, fui dar um passo pra trás e meu joelho rodou. Eu saí de lá direto para o HU, e o meu time ganhou sem mim. Quando acabou, minhas colegas foram levar a minha medalha de ouro no hospital, eu estava com uma tala gigantesca, chorando, com muita dor, e muito triste de não ter visto e de não ter terminado o jogo, mas foi muito fofo. Foi uma experiência muito ruim mas, ao mesmo tempo, muito marcante.

O Cepê é uma casa pra mim. Ele está ali nos momentos difíceis, e quando a graduação mais pesa, ele é uma válvula de escape, trazendo alívio. Acho que durante a pandemia o que eu mais sinto falta é de ir ao Cepê, eu imagino que daqui a muito tempo eu vou ter muito carinho por ele ainda. Para mim, é um lugar quase mágico, e acho que é o único lugar da USP em que realmente existe um espaço aberto para conviver com gente de todos os institutos, o que é muito importante para a integração dos estudantes. Foi no Cepê que eu realmente me senti na Universidade, vi que não existe só a minha bolha, do meu curso, do meu instituto, mas milhões de outras coisas. Eu tive muitas experiências na USP por causa do contato com pessoas de lugares diferentes por meio do esporte universitário, e no geral essas situações sempre aconteciam lá. O Cepê é um lugar muito importante, e eu acho que quanto mais os alunos conquistarem esses espaços, mais eles têm a ganhar. “

O Cepeusp na pandemia


Foto: Marcos Santos/USP Imagens

 

O Cepeusp foi fechado logo no início da pandemia, em março de 2020. No início de setembro, todo Estado de São Paulo entrou na fase amarela, e o Cepê foi reaberto, com o uso de suas áreas restringido a pista de caminhada e corrida, apenas. Também foram aplicadas medidas de segurança como medição de temperatura, uso de máscaras e distanciamento social. Em janeiro de 2021, o espaço foi fechado novamente, e assim permanece até hoje, seguindo orientações da Reitoria, que acompanha a situação da pandemia  junto ao comitê de contingência do Governo do Estado de São Paulo.

Segundo Emílio Miranda, diretor geral do Cepeusp, apesar de não haver previsão para uma reabertura, a manutenção e as melhorias do espaço continuam sendo feitas: “O Cepeusp está se preparando para o retorno. Tanto é que não paramos com as nossas obras, com a manutenção e com a limpeza. Estamos reformando três quadras de tênis e as quadras sete e oito, e quando retornarem vocês vão ver que os gramados continuam cuidados, assim como os demais espaços. O Cepê está aqui, estamos firmes e fortes, esperando retornar em breve”.