Os Inumeráveis da USP (Edição 519)

 

por Matheus Nascimento

Arte: Matheus Nascimento / JC com fotos do Unsplash

As vidas são compostas por uma peculiaridade muito especial. Suas durações manifestam uma verdadeira realidade: a de que sempre se aprende com alguém, mesmo que a sua partida seja antecipada.

Estamos feridos pelo tempo e por um misto de sentimentos vagos que nos causam dúvidas, mesmo muitos de nós estando cuidadosos e mais cativantes na grande empreitada pela Vitória da Vida. Podemos dividir com nossos eternos amigos e companheiros uspianos que partiram a dádiva consoladora. E ela nos confirma que SIM, nós conseguimos!

Em homenagem póstuma aos falecidos que fizeram de alguma forma parte da USP nos últimos meses, o acolhimento desta editoria aos seus feitos é integral e dedicado totalmente a eles: as nossas folhas secas que aplainaram no esverdeado campo da esperança.


Gaspar Soares Netto

Esse experiente e exemplar profissional, foi professor assistente na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) por mais de uma década (1972-89). Gaspar faleceu em 03 de junho de 2021, e mesmo não frequentando as salas da ECA devido a aposentadoria, ele deixará com saudade inúmeros alunos do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão.


João Sayad

Professor na Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP) desde os anos 60, Sayad faleceu em 05 de setembro de 2021. Ele que também foi ministro de Estado no governo Sarney tinha câncer e foi internado uma semana antes de sua morte para cuidados clínicos decorrentes do tratamento no Hospital Sírio-Libanês.

Era doutorado em economia pela Universidade Yale, situada no estado americano de Connecticut. Também no exterior foi presidente executivo e do Conselho de Administração do Banco Inter American Express (1989-2001), e, vice-presidente de Administração e Finanças do Banco Interamericano de Desenvolvimento em Washington (2004-2006).

No Brasil, fez parte da equipe que criou e lançou o Plano Cruzado, que tinha como objetivo combater a hiperinflação brasileira na década de 1980. Na política do estado de São Paulo, já ocupou os cargos de secretário estadual da Fazenda, secretário municipal de Finanças da cidade de São Paulo e secretário estadual de Cultura. Em entidades brasileiras foi secretário Executivo da Associação Nacional dos Centros de Pós Graduação em Economia (1979-1981), presidente da TV Cultura, e, na USP, foi diretor de Cursos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (1962-1979). Esse grande economista partiu deixando muitos amigos na carreira política e acadêmica.


José Moacyr Vianna Coutinho

Especializado em Mineralogia e Petrologia, porém, com diversas contribuições para as Geociências, Coutinho foi formado e professor do curso de História Natural na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (FFLCH-USP). Dono de uma inestimável obra acadêmica, ele colecionou inúmeros admiradores entre seus amigos e colegas.

Era considerado um homem de personalidade notável, entusiasta e espontâneo, que sabia conviver muito bem junto aos seus. Alguns de seus grandes amigos discípulos publicaram a biografia “José Moacyr Vianna Coutinho, Geologia e Causos”, pela Editora USP, em 2012, para homenagear o carismático professor. Até 1978, o professor esteve acompanhando e dividindo diversos momentos de alunos, funcionários e pesquisadores que passaram pela USP.

Coutinho, junto com os professores Jorge Kazuo Yamamoto, Fernando Flávio Marques de Almeida e alguns outros colaboradores participou de uma equipe que confeccionou o Mapa Geológico do estado de São Paulo, na escala 1:500:000 (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo S.A., 1981).

Recebeu diversas homenagens, entre as quais se destacam os títulos de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico pela Presidência da República (1995); de professor Emérito pela Universidade de São Paulo (2002); e a denominação de um novo mineral – A Continhoíta (2006). Coutinho deixou um grande legado com seus estudos e contribuições para a sociedade através do universo acadêmico. O dia 25 de junho de 2021, data de sua partida, será eternizado para gerações e horizontes cada vez mais distantes.


Maria Terezinha Degli Esposti

Terezinha, como era conhecida por todos, foi funcionária do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) entre os anos de 1977 a 2019. Começou no Departamento de Anatomia, depois trabalhou na Secretaria de Pós-Graduação, e também prestou serviços por duas vezes no Departamento de Farmacologia. Por último, trabalhou por muitos anos no Serviço de Protocolo, no prédio denominado ICB 3 do Campus, quando, em 2019, finalmente realizou um sonho que era de trabalhar na Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) – local onde acumulou boas lembranças de seu querido pai, que foi um violinista.


Renata Pallottini

Nascida em 1931, foi professora do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) e, desde 2012, Professora Emérita do mesmo instituto. Renata foi dramaturga, ensaísta, tradutora, poetisa, roteirista e escritora. Também foi graduada em Direito na USP em 1953 e logo em seguida partiu para novos estudos em Paris, na França. Após sua volta, cursou dramaturgia e crítica na preciosa Escola de Arte Dramática da USP.

A trajetória profissional de Renata começou nos anos 60. No teatro em 1965, com o roteiro da peça O Crime da Cabra, dirigido por Carlos Murtinho, numa produção da Companhia Nydia Licia, foi com sua equipe vencedora dos prêmios Molière e Governador do Estado de Melhor Texto. 

Ao longo de sua carreira colecionou diversas premiações e traduções importantes para as artes. Suas aulas eram lecionadas na ECA e na Escola de Artes Dramáticas, no Brasil; e, na Escuela Internacional de Cine y Television de San Antonio de los Baños, em Cuba. Renata também adorava produzir para televisão. As produções mais conhecidas pelo público são Malu Mulher e Vila Sésamo. Com todo devido respeito queremos te parafrasear: morre o espetáculo, mas não morre o texto — entrevista ao Sesc TV, Série Super Libres, em 09 de julho.


Ronaldo Bologna

Foi um grande maestro e percussionista brasileiro com mais de 30 anos de vivência na música. Faleceu em 02 de julho de 2021 aos 84 anos, deixando um legado gigantesco na área. Em vida, construiu sua família com Maria Eliza Bologna, também apaixonada pela música, com quem teve dois filhos: Beatriz e Ricardo. Iniciou sua trajetória musical quando era apenas uma criança, aprendendo piano com a mãe. Ainda na juventude partiu para o aperfeiçoamento musical na trompa. Aos 24 anos fundou o Collegium Musicum de São Paulo, mantendo apresentações sob sua própria direção a partir do ano seguinte.

Sua vida acadêmica começou fora do país, na Alemanha. Contudo, após estudos com grandes musicistas de sua época, retornou ao Brasil em torno do início da década de 1970. Na ECA-USP, foi professor do Departamento de Música por mais de 15 anos. Dentre as maiores honrarias concedidas a Ronaldo estão os dois títulos de Melhor Regente pela Associação Paulista de Críticos de Arte.

Memoráveis lembranças estarão no interior de seus amigos e familiares através do grande legado deixado através de suas regências em diversas orquestras internacionais, na Osusp, na Filarmônica do estado de São Paulo e na Orquestra de Câmara. Seu filho o descreve como muito receptivo e incentivador natural da música na família.


Rosana Bullara

A jornalista de 63 anos faleceu no dia 10 de março de 2021. Ela era servidora da USP e mantinha seus trabalhos na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP). Foi uma encorajada militante nas lutas sindicais e em outras causas democráticas desde o final dos anos 1970. Também foi fotógrafa e diretora do Sintusp (Sindicato do trabalhadores da USP). Rosana era diagnosticada com Poliomielite, no entanto, a enfermidade nunca a abalou na luta por movimentos sociais frequentes no debate público e se ergueu contra a repressão policial durante a ditadura.

Durante a pandemia continuou lutando incansavelmente na Asusp (Associação dos Servidores da USP), gerando diversas mobilizações em prol do cumprimento de medidas sanitárias contra o coronavírus, na defesa dos desprovidos de moradia e do Hospital Universitário.


Sérgio Mamberti

O ator nascido em Santos, no estado de São Paulo, e formado na Escola de Artes Dramáticas da USP (ECA-USP) em 1961 faleceu no dia 03 de setembro de 2021, após ser hospitalizado 15 dias antes com pneumonia. Mamberti morreu aos 82 anos e colecionou diferentes trabalhos em diversos canais na televisão brasileira, sem contar as inúmeras apresentações no teatro e aparições no cinema nacional. Ele decidiu entrar para a política na década de 80 quando foi um dos primeiros militantes e fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). Na década seguinte viveu o personagem Dr. Victor no programa infanto-juvenil Castelo Rá-Tim-Bum (TV Cultura).

Atuou com outros grandes nomes da dramaturgia nacional, entre eles, Beatriz Segall, Regina Duarte, Paulo José e Antonio Fagundes. Nesse ano, havia lançado um livro de memórias chamado Sérgio Mamberti: Senhor do meu tempo. Nele, Sérgio lembra a dolorosa perda da primeira esposa Vivian Mahr, com quem teve três filhos.

Esse grande artista, político e intelectual brasileiro fará uma grande falta. Será impossível que crianças de todas as gerações não tenham boas recordações do feiticeiro dono de castelo mais mal humorado do mundo. Não se estresse querido tio Victor, ainda virão muitos Raios e Trovões!

Está faltando alguém?
Caso tenha conhecimento de alguma pessoa a ser homenageada, que fazia parte da comunidade uspiana e veio a falecer por conta do novo coronavírus ou outras decorrências, entre em contato com o JC.