Bandeirões devem voltar ao futebol paulista, segundo Ouvidor das Polícias de SP

Reunião entre polícias e representantes de torcidas organizadas abre caminho para volta do acessório e discute paz nos estádios

por Bruno Miliozi

Fotos: Rebeca Alencar/JC

Festa, bateria, faixas, instrumentos e, claro, os bandeirões de mastro. Elementos que permanecem no imaginário de quem pensa em torcida nos grandes eventos do futebol, mas que, no Estado de São Paulo, é algo que ficou restrito aos jogos universitários. 

Com muitos problemas de violência no passado recente, principalmente entre as torcidas organizadas, esses ingredientes da festa do esporte acabaram pagando o preço, sendo proibidos no estado desde o ano de 1996. 

No entanto, após reunião entre a Ouvidoria das Polícias de São Paulo e representantes de torcidas organizadas dos principais clubes da capital e do interior, o caminho parece se abrir para um retorno das bandeiras de mastro no futebol paulista. 

O Ouvidor  das Polícias de São Paulo, Dr. Elizeu Soares Lopes, contou que sentiu nos convidados da reunião um interesse em dar um passo à frente, transpor o passado de conflitos e dar uma chance à paz nos estádios, nesse retorno que está acontecendo alinhado à vacinação da população contra Covid-19. 

“Eles me disseram o seguinte: ‘nós fazemos festa, nós sabemos fazer festa, e quando fazemos festa nos estádios nós somos contemplados por todo mundo, todo mundo gosta, a imprensa, a televisão. Então nosso pensamento é que ao invés de nós brigarmos, vamos fazer festa nos estádios’. Pra fazer festa, como a gente vê mundo afora, eles querem a volta das bandeiras”, contou o Ouvidor. 

Dr. Elizeu também disse que esse aceno ao retorno das bandeiras é reflexo de um sentimento que “uniu todos os participantes do encontro em torno de um objetivo: dar uma chance à paz”.

Fotos: Rebeca Alencar/JC

Os torcedores vêm retornando aos estádios em competições oficiais nas últimas rodadas, ainda com porcentagem restrita de ocupação e protocolos de segurança. As bandeiras, no entanto, ainda não voltaram às arquibancadas, já que ainda será estabelecida uma legislação adequada que evite a repetição dos problemas passados. 

“Certamente (o retorno) terá a concordância de todos. Mas agora é preciso construir isso, a logística, de como guardar, porque a ideia é que as bandeiras fiquem nos estádios. Então é preciso que tenha também o aval, evidentemente, dos clubes. Os mastros devem ser catalogados e as pessoas que vão segurá-los terão uma ficha, um RG cadastrado”, explicou. 

O motivo por trás da proibição das bandeiras está, claro, na violência entre as torcidas do esporte, especialmente em clássicos entre os principais clubes. No entanto, alguns fatores pesaram para a reconsideração. Um deles é que, em São Paulo, hoje em dia os clássicos são disputados em torcida única, apenas com presença de público para o time mandante. O que já diminui consideravelmente os casos de confronto direto nos estádios e em seus arredores. 

Outro fator, para o Dr. Elizeu, está diretamente relacionado ao período da pandemia e ao tempo em que os torcedores ficaram distantes de seus clubes: “As pessoas ficaram muito tempo sem apreciar o esporte, o futebol. Muita gente em casa, e acho que esses torcedores, as diretorias das torcidas, tiveram um momento de reflexão sobre suas atitudes. É algo bom, algo que devemos incentivar, ver como uma construção positiva e uma oportunidade de repensar”. 

Prova disso é que, na reunião, foi promovido encontro entre representantes das principais organizadas da cidade. Líderes de Gaviões da Fiel, torcida do Corinthians, e Mancha Verde, do Palmeiras, voltaram a se encontrar e conversar após 10 anos de problemas e total afastamento. 

É claro que a volta das torcidas, sob todos protocolos de saúde e segurança, é algo a se celebrar. Os eventos esportivos não são completos sem a festa. E é desse sentimento que surge a vontade de, nesse retorno, deixarmos a festa ainda mais bonita. 

“A beleza do futebol está evidentemente na arte, no talento dos jogadores. Mas também compõe esse mosaico a torcida. O ato de torcer, a alegria das arquibancadas, é fundamental para o espetáculo de futebol, e é por isso que nós devemos apostar”, define o Ouvidor.