Europa volta a ser epicentro da pandemia de covid-19

Estagnação do índice de vacinados contribuiu para explosão do número de casos

 

por Pedro Ferreira

Foto de um profissional da saúde usando uniforme verde água virado de lado e olhando para baixo.

Foto: Tanasiri/RawPixel

 

No dia 4 de novembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu uma nota em que afirma que os países da Europa e Ásia Central estão enfrentando o ressurgimento da covid-19. Ao final do mês de outubro, as regiões tiveram um aumento de 55% no número de casos e já eram responsáveis por 59% das novas infecções e 48% das mortes ao redor do mundo. Os números se aproximam de níveis recordes e foram impulsionados pela maior transmissibilidade da variante Delta e a estagnação no esquema vacinal.

Os países do Leste europeu estão entre os mais afetados. Eslovênia, Croácia, Geórgia, Áustria e Eslováquia apresentam mais de mil casos por milhão de habitantes, segundo dados da Universidade de Oxford. Já a Alemanha registrou um recorde de mais de 50 mil novos casos em 24h, com uma média móvel de 31 mil infecções. No Reino Unido, a média é de 33 mil, enquanto a Rússia apresentou uma média de 40 mil novos casos por dia.

O agravamento da pandemia nas regiões mobilizou pressões de cientistas para a retomada de medidas sanitárias de contenção do vírus. A Alemanha passou a impor restrições mais rígidas para os não vacinados, incluindo a proibição de frequentar espaços públicos fechados em parte do país. Na Áustria, houve a adoção de um lockdown para cidadãos que não se vacinaram, medida adotada parcialmente pela Holanda, que determinou o fechamento mais cedo de estabelecimentos e a proibição de eventos esportivos com público.

Com a chegada do inverno e o menor crescimento do índice de pessoas que se vacinaram, o Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC) prevê que haja um aumento nos números de casos, hospitalizações e mortes durante o mês de novembro.

O que explica o aumento de casos?

Com países em torno de 60% da população totalmente vacinada, a Europa enfrenta uma estagnação no esquema vacinal. O negacionismo latente do movimento antivacina teve impacto na adesão da população às vacinas, aliado à falta de adoção de medidas de restrição para não vacinados, como o passaporte vacinal. Há ainda o menor índice de imunização da população jovem, que tem grande influência na transmissão do vírus. “[Os jovens] são os que mais circulam na sociedade e se expõem ao risco de encontro com o vírus, porque vão a festas e aglomerações”, afirma o Dr. Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e professor da Faculdade de São Pública da Universidade de São Paulo.

Vecina afirma que outro ponto a ser considerado é a queda da produção de anticorpos depois de 6 meses de vacinação, devido ao baixo tempo de imunização proporcionado pelas vacinas atuais. Isso, aliado à circulação da variante Delta, que possui maior taxa de transmissibilidade, faz com que pessoas já vacinadas há algum tempo estejam mais vulneráveis à doença, caso não haja a aplicação de doses de reforço.

A chegada do tempo frio no hemisfério norte também tende a contribuir para o aumento do número de casos, visto que a população passa a frequentar lugares mais fechados e sem ventilação em busca de aquecimento.

Qual o alerta para o Brasil?

Para Vecina, a população brasileira tem aderido bem às vacinas, o que teve impacto significativo na diminuição de infecções e mortes por covid-19. Porém as iniciativas de relaxamento das medidas restritivas e as festividades que envolvem aglomerações, como o Ano Novo e o Carnaval, podem ocasionar uma nova explosão de casos no país. A preocupação maior é com o surgimento de variantes que possam ser mais contagiosas ou até mesmo capazes de contornar a proteção advinda das vacinas. “A pandemia só acabará quando não tivermos mais casos que permitam a ocorrência de novas variantes”, afirma Vecina.