Pássaros Não São Reais e vira-latas também não

Parece maluquice… e é

 

por Maria Clara Abaurre

Arte: Maria Clara Abaurre / Imagens: Pixabay, Ramiro Furquim/@outroangulofoto, Peter McIndoe

 

Há um mês, nos Estados Unidos, um grupo de jovens protestou em frente à sede do Twitter para pedir que a empresa mude seu logotipo. Adeptos de uma teoria da conspiração, eles são parte do grupo Birds Aren’t Real (Pássaros Não São Reais) e defendem exatamente isso.

Alimentada pela Geração Z, a teoria defendida é de que o governo dos Estados Unidos teria matado todos os pássaros e substituído-os por réplicas instaladas em drones para espionar a população. Com milhares de seguidores no Instagram e no TikTok, havia quem desconfiasse da seriedade do movimento, mas foi só este mês que seu criador, Peter McIndoe, de 23 anos, revelou sobre o que realmente se tratava.

Em entrevista ao New York Times, o jovem contou que, ao contrário de outros movimentos, ele e seus seguidores sabem que os pássaros realmente existem e que sua teoria conspiratória foi inventada – com um esforço criativo que chegou a ligar a morte de John F. Kennedy à operação que teria dizimado as aves entre 1957 e 1971. Eles vivem uma brincadeira, mas com um propósito maior: combater e ridicularizar a desinformação.

Mas, será que isso funciona mesmo?

Criado em 2017, logo após Donald Trump ser eleito presidente dos Estados Unidos, o movimento surgiu como uma piada, mas acabou se tornando uma forma de experimento de desinformação. A rede de ativistas, conhecida como Bird Brigade (Brigada dos Pássaros), se considera uma força política. Muitos se unem a contramanifestantes e verdadeiros teóricos da conspiração em protestos para reduzir tensões e deslegitimar causas, como aconteceu no Texas em manifestações de apoio à aprovação de uma lei de aborto mais restritiva.

Se por lá eles criam movimentos que usam pássaros para lutar contra os conspiracionistas e seu ex-presidente negacionista, o que inventaríamos por aqui? Os vira-latas caramelo são na verdade robôs que roubam nossos dados e os vendem para grandes corporações? Será que isso faria com que as pessoas abrissem os olhos para absurdos que são espalhados como verdade aqui no Brasil também?

Visto de certa forma como um meio de alfabetização midiática, a ideia do movimento é buscar uma maneira de rir da loucura, em vez de se deixar ser dominado por ela. Pesquisadores defendem que quaisquer danos causados pela teoria foram mínimos e o criador do movimento também se preocupa com essas questões.

Por aqui, com um presidente que conta com campanhas em redes sociais para vencer a enquete de “Personalidade do Ano” da revista Times, enquanto o país acumula mais de 600 mil mortes por Covid-19 e sofre com inflação, crise política e ameaça de apagão, não é possível saber se esse é o caminho certo. Fato é que as pessoas, aqui ou lá, precisam desenvolver as habilidades necessárias para lidar com as informações disponíveis no mundo digital.

De toda forma, o movimentos dos pássaros-drones nos ensina que a missão, de deixar os vira-latas em paz e de buscar novas maneiras de combater a desinformação, deve ser de todos e não apenas dos profissionais e pesquisadores da comunicação. Nós, alunos de jornalismo e responsáveis pelo JC, seguimos com o compromisso de informar nosso público com qualidade e relevância.

Nesta última edição do ano, passaremos por temas como viagens ao espaço, o preço dos alimentos, questões ambientais e a discussão acerca da Lei de Cotas. Isso sem deixar de levar em conta como essas questões impactam a comunidade uspiana.