Bilionários ‘turistando’ pelo espaço. O que esperar?

 

 

por Matheus Nascimento

Arte: Ana Paula Alves/JC

 

Em 2021 um novo passo foi dado pela humanidade. O turismo espacial entrou em ação em algumas companhias globais. Essa modalidade caminhava lentamente há muitos anos e foi pouco lembrada como uma forma inovadora de proporcionar aos civis o sentimento da descoberta do planeta azul ao vivo e a cores.

A Nasa sempre foi uma agência que desenvolve projetos para as áreas espacial e também aeronáutica nos Estados Unidos. As missões elaboradas por grandes pesquisadores e cientistas podem demorar anos para demonstrarem resultados dentro dos campos da exploração espacial e desenvolvimento de tecnologias.

Atualmente a agência norte-americana vive um momento de abertura para os negócios e para novas soluções, repleta de parceiras que ultrapassam as barreiras do investimento do Estado. Muito mais do que esse aporte econômico necessário, o propósito da organização em manter projetos que tragam recursos para o estudo científico do homem sobre os corpos celestes é evidente. Envio de satélites, telescópios, sondas, astronautas e as mais robustas descobertas tecnológicas estão presentes na dinâmica de trabalho dos membros envolvidos.

Investidores do setor privado e seus bilhetes astronômicos

As empresas SpaceX, do bilionário Elon Musk e personalidade do ano eleita pela Times no ano passado; Virgin Galactic, do empresário britânico multi setor Richard Branson e Blue Origin, do fundador da Amazon Jeff Bezos, tiveram um longo caminho para entrar nessa nova modalidade que une de forma inédita empresários e pesquisadores. Ela oferece um serviço turístico mais atraente e diferenciado. Porém, não é somente o desembolso de quantias bilionárias de dólares. Há um contexto diplomático por trás das negociações e das compras desses bilhetes que foram pagos com verdadeiras fortunas.

“Isso é um bom sinal [os investimentos]. É saudável ver que a tecnologia avançou o suficiente para ficar na mão de pessoas do setor privado. Ainda sim, vejo esse caminho que foi trilhado e o que virá com bons olhos”, disse Annibal Hetem, professor doutor do Curso de Engenharia Aeroespacial da Ufabc (Universidade Federal do ABC), graduado no  Instituto de Física (IF-USP) e mestre em Astronomia no Instituto de Astronomia e Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP).

Nesse trecho da entrevista concedida ao JC, Hetem faz uma distinção entre a exploração e o turismo do espaço:

 

Na edição de 2020 do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, o próprio presidente Jair Bolsonaro e todas as autoridades que estiveram no evento se depararam com um problema conhecido entre investidores estrangeiros e negociadores no Brasil: o despreparo do país para receber novas formas de estimulação da inovação nos diversos setores da economia.

Parece ser uma comparação simples, mas pensar numa nação com a visão empresarial é importante, principalmente porque as empresas modelam-se de acordo com seus objetivos econômicos. Essa é uma boa maneira de entender qual o papel desses novos investimentos nas mentes criativas e nas tecnologias que estão tentando buscar as ligações entre a humanidade e o universo. Enxergar a diversão da viagem como elemento que une civis ao meio científico pelo espaço é sensacional.

Uma empresa isolada em certo setor terá que ter novos produtos, satisfação dos clientes e lucro para sobreviver. No mercado aeroespacial percebe-se que as portas estão se abrindo de uma área militar científica para uma visão mais comercial. E é aí que a inovação terá que surgir forte. “Ela precisará surgir não necessariamente para as tecnologias físicas que enviarão os próximos turistas, mas sim para um contexto maior, que envolve uma expansão muito promissora”, comenta o professor.

Tripulações, viajantes e cientistas terão que simplificar processos e tecnologias

Países como a China e a Índia apresentam um contínuo desenvolvimento na exploração. Os chineses há alguns anos são os terceiros no mundo. Eles e todos os envolvidos na corrida espacial serão os grandes responsáveis por baixar esse alto nível de exigências que uma viagem aeroespacial exige. Atualmente, a prática de uma boa tripulação é tão importante que normalmente é ela que dita o nível de capacitação das equipes de astronautas em suas missões.

Por enquanto, a missão espacial Artemis III — que pretende levar novos astronautas e a primeira mulher à Lua até 2025 — é apontada como a próxima grande viagem tripulada da Nasa. No campo da exploração turística do espaço, a competitividade se dará mesmo na construção de novas soluções que confirmem a segurança das espaçonaves que enviarão outros humanos civis ou militares nos próximos anos.

Marcos Rincon Voelzke, professor doutor da pós-graduação (Mestrado e Doutorado) em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul, graduado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e mestre em Astronomia no IAG-USP, expôs em entrevista ao JC que há outras formas de comparar essa movimentação do comércio de viagens suborbitais. Esse paralelo poderia ser feito, por exemplo, com a evolução das tecnologias presentes nas Grandes Navegações, num primeiro momento histórico, e posteriormente na comercialização da Aviação como um novo modal de transporte, facilitando o encurtamento do tempo nos trajetos distantes.

O empresário fundador da Tesla e SpaceX sonha um dia presenciar a exploração humana do planeta vermelho. Foto: Pixabay

 

“A empresa de Elon Musk [que diferentemente dos concorrentes não viajou] firmou com a Nasa um contrato bilionário e de décadas. E as outras [empresas] estão em busca de uma fatia desse mercado também, seja com a agência norte-americana ou com as situadas em outros países“, lembrou Hetem.

As questões que irão envolver a colonização espacial em Marte, ou em algum planeta habitável, com certeza trarão novos benefícios tecnológicos para a humanidade. “A primeira câmara eletrônica que realmente funcionou foi o telescópio Hubble, ou seja, toda a evolução dessa tecnologia apresentada ao mundo desde a captura dessas fotos digitais são netos e bisnetos dele. Quem sabe assim, as viagens turísticas podem lembrar de forma mais enfática a responsabilidade social da ciência desenvolvida pelo próprio ser humano em benefício da civilização”, finaliza Hetem.