Onde está a notícia?

Por Diogo Magri

Foto: Acervo pessoal

 

“Na maioria das vezes, um jornalista entrega a melhor matéria que ele conseguiu fazer no tempo que foi dado a ele”. Essa frase, dita por João Paulo Charleaux, foi a que mais me marcou no semestre em que o hoje repórter especial do Nexo foi ombudsman da minha turma no Jornal do Campus. Na época, a ideia era passar a ideia de que nós, jovens estudantes de jornalismo, estávamos entrando numa profissão cuja pressão e a pressa andam de mãos dadas com a qualidade. Portanto, críticas, edições e arrependimentos em relação ao que foi publicado deviam ser levados como um aprendizado corriqueiro na atividade, e não um ataque direto ao texto que foi escrito com tanto esforço e carinho. Não há espaço para afeto do autor com a sua matéria numa profissão onde você precisa entregar logo esse texto e partir para o próximo, nos ensinava Charleaux.

Há outra lição na lógica do “operário da notícia” que tem a ver com simplicidade. Uma boa matéria, publicada com pressa ou não, condensa as informações de forma simples, direta e o quanto antes. Título, foto e lide são essenciais para isso. A ordem é não deixar o leitor perder tempo antes de saber do que se trata o texto. Mesmo num periódico mensal, as chances dele abandonar o jornal são grandes se não encontrar o que quer o mais rápido possível.

A edição 522 do JC, a última desse semestre, trouxe alguns conflitos nesse ponto. Matérias como “Coletivo autista auxilia na permanência de estudantes neurodivergentes dentro da USP” e “Únicos registros escritos por indígenas em tupi (…) são traduzidos pela primeira vez” são referências como notícias relevantes, bem escritas, completas e diretas. O título já informa.

Não é o que acontece com “O outro lado da influência dos NFTs”, “As chances e riscos do Carnaval” e “Bilionários turistando pelo espaço. O que esperar?”. Também são textos bem escritos e completos, mas seriam muito mais interessantes (e atrairiam mais leitores) se o título já dissesse qual é o outro lado da influência dos NFTs, quais os riscos do Carnaval e o que esperar do turismo de bilionários no espaço. A pergunta que intitula esta coluna é não só uma brincadeira com a crítica, mas também uma interrogação a se fazer antes de escrever a notícia.

Fugindo da lógica tradicional do jornal, ficaram interessantes as fotorreportagens sobre o catamarã nos rios da Amazônia e o crime da Braskem em Maceió. Imersivas e com boas fotos —o jornalismo literário, se bem dosado como foi o caso, é sempre uma boa opção. Mas senti falta de conectar os assuntos com a USP. Aliás, no geral: foi uma edição com muitas pautas nacionais e poucas universitárias. Não teve nada de esportes, por exemplo. Entendo, no entanto, que o período atual de férias traga uma dificuldade a mais para a equipe na busca por pautas nos campi.

Como foi a última edição da turma, não poderia ficar preso a ela. Ao longo das colunas que escrevi sobre as dezenas de matérias que li no semestre, falei da necessidade de encontrar boas histórias na USP, de relacioná-las com o que acontece no país e de contextualizá-las com dados e diferentes pontos de vista. Foi notável a melhoria, através da prática, em todos esses aspectos dos primeiros aos últimos textos.

Não é a tarefa mais simples escrever sobre um jornal universitário do qual não sei muitos detalhes sobre a rotina, a apuração, a dinâmica entre professor, secretário de redação, editores e repórteres. Ainda mais em tempos de ensino à distância. Mas agradeço a oportunidade de poder relembrar os percalços do principal jornal laboratório de uma das principais faculdades de jornalismo do país. O que eu senti, aqui de longe, foi uma turma dedicada a ir atrás dos melhores e mais relevantes assuntos. É uma missão cumprida no Jornal do Campus, e que não pode parar por aqui.

 

Diogo Magri é formado em jornalismo pela ECA-USP e foi repórter do jornal EL PAÍS em São Paulo entre 2017 e 2021.