Cinusp traz de volta luzes, câmera, ação e o cinema presencial

Sala de cinema da USP foi aprimorada e  procura retomar laços com estudantes e preservar o espaço e a história da sétima arte de forma gratuita

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por Thiago Gelli

Fotos: Beatriz Lopomo/JC

Sem o burburinho do público, o ranger de assentos e o mágico portal para a sétima arte, uma sala de cinema é descaracterizada. Por pouco mais de dois anos, essa foi a condição imposta às dependências do Cinusp Paulo Emílio, complexo de duas salas de cinema de acesso gratuito, localizadas no coração da Cidade Universitária e na região da Vila Buarque (a segunda reabre em breve). 

Em atuação desde 1993, o cinema é um ponto único não apenas no território universitário, como também na própria Cidade de São Paulo. Com sua curadoria — que não discrimina entre filmes de arte, arrasa-quarteirões, cineastas do trash e gêneros diversos —, ele serve como referência a aficionados da sétima arte que queiram prestigiar seus longas favoritos. Também serve como porta de entrada para muitos, assim como proporciona a experiência do cinema para estudantes que nunca antes a desfrutaram de maneira acessível.

Seu retorno, na última segunda-feira (18), demonstrou tal equilíbrio. O cronograma não pecou por falta de variedade: às nove horas da manhã, uma sessão especial de “Harakiri”, sombrio clássico do cinema japonês sobre mortalidade e honra; às quatro horas da tarde, o infantil “A fantástica fábrica de chocolates” de Tim Burton; e às sete horas da noite, “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. 

Todas as sessões foram situadas na nova sala do Cinusp, localizada no prédio do Anfiteatro Camargo Guarnieri. A novidade conta com mais 30 lugares, uma tela de 8 metros quadrados (o dobro do tamanho da antiga), projeção em 4K; assentos acolchoados de madeira e novos protocolos de segurança: o uso de máscara é obrigatório, assim como a medição de temperatura e o passaporte de vacinação. 

Tal cardápio de experiências na sala de cinema busca retomar a relação da instituição com a comunidade uspiana. A mostra inaugural de 2022 é “Para gostar de cinema: espetacular”, um punhado de filmes para todos os gostos e todos os diferentes níveis de familiaridade com a história deste meio artístico.

Para o diretor do Cinusp, Eduardo Victorio Morettin, “a expectativa é a melhor possível. Sou daqueles que acham que o espaço da sala de cinema deve ser preservado”.

Nos últimos dois anos, todas as exibições promovidas pelo Cinusp foram online, com atenção especial ao cinema independente e nacional, mas, apesar de contemplar todo o país, o formato não sobreviverá 2022. A volta das salas faz parte da descentralização do meio online, e busca estimular o público livre da onisciência da internet, além de expandir as possibilidades de licenciamento para exibição. 

“As mídias sociais continuarão ativas, mas o nosso foco será justamente a programação presencial e a restituição dos vínculos com a nossa comunidade”, afirmou Eduardo.

Vivências cinematográficas

O contato com obras expostas em uma tela de cinema não é uma experiência passiva. Nesse fenômeno comunicacional e artístico, o espaço do cinema se torna um ambiente vivo, no qual cada ação, reação e precedente compõe inúmeras histórias. 

Durante seus 29 anos de existência, o Cinusp foi cenário para encontros no escurinho, para o contato com filmes queridos, para irritação com comportamentos alheios e muito mais. Nesse quesito, ele felizmente não se diferencia de outras salas pelo país e mundo.

“Vi ‘Encouraçado Potemkim’, no final dos anos 1970,quando o filme não teve seu visto de censura renovado, em uma sala comercial, e foi uma experiência muito importante. Espero que isso ocorra em alguma medida com os ingressantes e com aqueles que ficaram dois anos afastados da universidade e seus equipamentos culturais. Que esse encontro seja sempre renovador e emocionante”, encerrou o diretor.