“A situação dos ônibus lotados vai melhorar a partir do dia 20 de maio”, anuncia prefeita do campus da USP

Em entrevista ao JC, Raquel Rolnik fala sobre os projetos para a Cidade Universitária e problemas como o curto-circuito do dia 8.

por Juliana Alves

“A situação dos ônibus lotados vai melhorar a partir do dia 20 de maio”, anuncia prefeita do campus da USP

Foto: Juliana Alves / JC

Na quarta-feira (11), a prefeita do campus, Raquel Rolnik, que iniciou o mandato neste ano, contou algumas propostas para o campus.

Confira também na entrevista detalhes do curto-circuito que ocorreu no dia 8 de maio na Cidade Universitária.

Raquel, a senhora poderia apresentar-se?

Eu sou urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e sou do grupo de disciplinas de Planejamento Urbano. Além disso, criei, junto com pesquisadores, o LabCidade, laboratório que trabalha com temas urbanistas e também coordeno o projeto de extensão Observatório das Remoções, em São Paulo.

Agora, também estou prefeita do campus, cargo ao qual fui eleita pelo Conselho Gestor do Campus, constituído por representantes de todas as unidades que estão dentro do campus, com representação estudantil e de funcionários.

E qual é a função da prefeitura do campus Butantã?

Nesta cidade universitária, com 100 mil habitantes, a prefeitura cuida da gestão territorial. Cuidamos desde o planejamento, a manutenção das áreas verdes e comuns, os sistemas de mobilidade, coleta de lixo e até a distribuição elétrica.

No domingo, 8 de maio, muitos locais da USP ficaram sem luz. A senhora poderia explicar o que aconteceu? 

O que aconteceu nesse dia foi uma manutenção programada da rede, previamente avisada para todas as unidades, mas eu mesma não recebi aviso. Houve institutos que não repassaram a informação para os estudantes. A comunicação não funciona aqui no campus. Nós temos um contrato de manutenção que frequentemente desliga o sistema para prevenir alguns problemas, como curto-circuitos. Nesse domingo, cada pedaço do campus estava previsto para desligar três horas por vez. Porém na hora de religar uma das áreas deu um curto-circuito e não religou. Acho que faltou uma comunicação, nem eu sabia dessa manutenção programada. Algumas unidades têm geradores de energia, como o Hospital Universitário, estamos estudando outros locais que precisamos colocar esse equipamento. Inclusive há uma discussão com a Pró-Reitoria de Inclusão e Reconhecimento para um plano de contingência com um sistema de energia fotovoltaica, com parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da USP, para o Conjunto Residencial da USP (CRUSP).

A comunicação não funciona aqui no campus

Foto: Giulia Portelinha/JC

Quais são suas propostas para o campus? 

Nós estamos dando continuidade a projetos anteriores, por exemplo, o projeto da ciclovia com 29 quilômetros de extensão que tinha sido recém-implantado. Nossa intenção é introduzir modos não motorizados de circulação. Outra ação que está em continuidade é a melhoria na acessibilidade com intervenções, como a rampa nova da FAU e a reforma dos caminhos de pedestre. Há também o trabalho permanente de iluminação, de troca de lâmpadas queimadas e de ampliação da iluminação.

E quais são os novas projetos?

Em termo de novas intervenções, está em andamento o projeto de corredor verde, no lugar do muro de vidro do campus.

Além disso, estamos estudando uma questão complicada: como transportar os grandes contingentes que chegam pelo metrô e pela CPTM para acessar o campus. Nesse sentido, estamos discutindo melhorias para o desempenho do transporte com a SPTrans. Uma delas vai começar a ser implementada a partir do dia 20 de maio, que é aumentar os berços de saída dos circulares do terminal Butantã. Com a inauguração do terminal da Vila Sônia,  algumas linhas, principalmente da EMTU, vão sair progressivamente do terminal Butantã para a Vila Sônia. Nós reivindicamos o espaço que vai sobrar para que, nas horas de pico, saiam dois ônibus da mesma linha simultaneamente. Ao invés de sair três ônibus por vez, vão sair seis ônibus por vez. Outra para este mês de maio são as informações sobre quais circulares passam em cada ponto de ônibus, com horários e destinos de cada um. Estamos planejando também implementar sistemas de sinalização para saber quanto tempo falta para o ônibus chegar com QR Code. Estamos tentando também a possibilidade de retirar as catracas dos circulares para aumentar a velocidade do embarque, na porta da frente e na de trás. Mas não foi possível, porque o sindicato dos condutores vetou com receio de demissão de cobrador.

Outra ação é melhorar as condições de trabalho e a dignidade dos funcionários terceirizados com a eliminação de estruturas improvisadas de refeitório e banheiro e procurando trazer esses trabalhadores para estruturas de apoio muito mais confortáveis. Já eliminamos dois contêineres da raia com a equipe de vigilância. E a equipe de áreas verdes também precisa de apoio com prédio da USP com banheiros e refeitórios, e não um barraco improvisado.

No campo do lixo já estamos com a ação em andamento da implementação de uma cooperativa de reciclagem do lixo na comunidade São Remo, através da instalação, por parte da USP, de um galpão de reciclagem que será construído em um terreno que já está demarcado. A ideia é que parte do lixo reciclado vai para essa cooperativa.

Ao invés de sair três ônibus por vez, vão sair seis ônibus por vez

Como a comunidade universitária tem acesso a essas propostas?

Estamos discutindo essa questão sobre a comunicação. Estamos pensando neste momento, de forma experimental, construir um perfil nas redes sociais da prefeitura e colocar todas essas informações para estarmos mais presentes.

Quais são os objetivos durante o seu mandato?

O primeiro é a ideia de pensar o campus sustentável, do ponto de vista ambiental. Com manejo e reaproveitamento de lixo e tentar aproximar do lixo zero. Em relação à energia, estamos estudando a possibilidade de implementar uma transição energética para a descarbonização. Além disso, quero ampliar os espaços de convivência. Meu objetivo é fazer do campus um laboratório do que as cidades podem ser.

Meu objetivo é fazer do campus um laboratório do que as cidades podem ser

Raquel Rolnik é professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Foi diretora de planejamento da Secretaria Municipal de Planejamento de São Paulo (1989-92), secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades (2003-07) e relatora especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada (2008-14). É autora, entre outros, de A cidade e a lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo (Studio Nobel, 1997) e Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças (Boitempo, 2016).