TSE registra o menor número de jovens com título de eleitor

Pandemia, pessimismo e afastamento da escola são apontados como motivos para o desinteresse dos jovens pela política

por Natane Cavalcante e Vitor Cavalari

Foto: InCase/Flickr

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou, em fevereiro deste ano, o menor número de jovens de 16 e 17 anos que tiraram o título de eleitor desde que esses dados começaram a ser acompanhados. Segundo o levantamento mais recente, 834.986 jovens tiraram o documento até o momento. Nas eleições de 2018, mais de 1,4 milhão de adolescentes nessa faixa etária estavam aptos para votar no mesmo mês.

O Brasil tem mais de seis milhões de pessoas com idades entre 16 e 17 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de adolescentes que solicitaram o título de eleitor em 2022, representa até agora, apenas 13,6% do total de habilitados para tirar o documento. No mesmo período em 2018, o percentual era de 23,3% da população.

A posse do documento é obrigatória a partir de 18 anos, mas jovens a partir de 16 anos já podem votar caso desejem. A diminuição dos adolescentes que tiraram o título ao longo das últimas eleições levanta a preocupação de que jovens estejam cada vez menos interessados em política.

Para estimular os jovens, o TSE lançou a campanha  “Rolê das Eleições” nas redes sociais. Artistas como Anitta, Juliette, Zeca Pagodinho, Mark Ruffalo, Whindersson Nunes e Luíza Sonza participaram da campanha em seus perfis pessoais.

Artistas se mobilizam nas redes sociais para estimular os jovens a tirarem o título de eleitor. Imagem: Reprodução/Twitter 

O órgão detalhou que, durante a Semana do Jovem Eleitor, realizada de 14 a 18 de março, foram emitidos 96.425 mil novos títulos para jovens nessa faixa etária. O que comprova a força das redes sociais e do apoio de celebridades nesta causa. Ainda assim, os números se mantêm baixos. 

Para Pedro Feltrin Batista, diretor de Ensino Médio da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e militante do coletivo Juntos, campanhas assim aproximam a juventude da discussão política e mostram que o TSE entende que o futuro do país está nas mãos dos jovens. No entanto, Feltrin aponta que campanhas isoladas são ineficazes: “É inocente pensar que propagandas resolvem por si o desinteresse dos jovens em tirar o título. Engajar a juventude brasileira no exercício da cidadania do voto deve ser constante e não apenas em período eleitoral”, afirmou em entrevista ao Jornal do Campus.

Mesmo com essas campanhas, muitos jovens não têm estrutura para tirarem o título ou não encontram motivação para fazer isso. O diretor da UBES ainda comenta que esse incentivo para votar precisa ser cultivado dentro da escola, em cada período da vida do estudante. Ainda é necessário mencionar como as desigualdades sofridas no país atrapalham o engajamento desses adolescentes. Recentemente, a ação de uma jovem viralizou no Instagram.

Reprodução/Instagram

O papel da formação escolar no exercício da cidadania

O crescente desinteresse da juventude brasileira está associado à descrença e à falta de representatividade no sistema político. Também pode ser relacionado ao sentimento de que a política não interfere diretamente na vida dos jovens ou de que votar não faz diferença. Feltrin destaca que essas são as consequências de um país que não incentiva os jovens a pensarem sobre cidadania e sua relação com o desenvolvimento de um país melhor. 

Com a flexibilização das regras sanitárias, o movimento estudantil trabalha ativamente nas escolas, falando sobre voto, eleição e ressaltando a importância do título de eleitor. Para o diretor da UBES, é de extrema importância retomar as atividades do movimento porque aproxima a pauta política do cotidiano dos jovens. 

A escola é o primeiro ambiente em que os jovens participam de discussões coletivas. Feltrin declara que, “a escola é um ambiente de desenvolvimento da cidadania, falar de política também é matéria de sala de aula e um ato de conscientização”. 

O título de eleitor é fundamental para que o cidadão participe do processo eleitoral, seja como eleitor ou como candidato. Contudo, o diretor da UBES ressalta que apenas tirar o título não resolverá todos os problemas “não basta instruir os jovens somente a tirar o título porque a sua participação política não deve terminar com o voto. É essencial reafirmar o direito que o jovem tem de votar e decidir sobre o seu e o futuro do país”, conclui. 

Arte: Bruna Bandeira/Instagram: @imagineedesenhe

É possível solicitar o título de eleitor até 4 de maio. O documento pode ser obtido nos cartórios eleitorais e também na internet, no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para saber mais acesse: TítuloNet.