Atenção às viroses de outono

Pode ser hora de dar um passo para trás quanto à flexibilização das medidas de proteção da covid-19

por Guilherme Gama

Arte: Beatriz Lopomo/JC

Com a queda das temperaturas e aumento das chuvas, o outono chega amarelando as folhas das árvores e elevando os casos de viroses na população. Essa estação do ano, entre o verão e o inverno, tradicionalmente é conhecida pela elevação na circulação de vírus respiratórios, aqueles que causam sintomas gripais, e — desta vez — ocorre junto ao período de flexibilização das medidas protetivas da pandemia de covid-19. O JC conversou com o médico infectologista do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Álvaro da Costa, para entender o que são as viroses de outono e como se proteger. 

Nesta época do ano, as mudanças climáticas são acentuadas, o que traz efeitos diretos no nosso comportamento. As temperaturas mais baixas e maior frequência de chuvas levam a maiores aglomerações em espaços fechados, com pouco fluxo de ar — ambiente que favorece a circulação de vírus que se transportam por gotículas respiratórias e, assim, infectam nosso organismo. 

Neste ano, em especial, isso ocorre com maior intensidade em comparação aos dois anos anteriores, devido ao fim do isolamento social e da obrigatoriedade de uso de máscaras de proteção em locais fechados (com exceção de transportes coletivos e serviços de saúde). Ou seja, pela primeira vez desde 2020, as pessoas estão sem máscaras em salas, escritórios e no trabalho, com janelas e portas fechadas, e se encontram com um grande grupo de vírus tanto de transmissão respiratória quanto entérica. 

As oscilações de temperatura, somadas aos efeitos da poluição do ar, também estão associadas à ocorrência de doenças respiratórias, como rinite, bronquite e  pneumonia, e agravamento de alergias. Segundo dados divulgados pela Folha de S. Paulo, São Paulo teve um aumento dos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em crianças. O resultado foi a lotação de hospitais do município: 84% das enfermarias pediátricas e 86% dos leitos de UTI estão ocupados.

No outono, também é comum os maiores vírus entéricos, cuja transmissão é fecal-oral. Os mais comuns entre esses vírus de RNA são Norovírus, Sapovírus e Astrovírus, conhecidos por gerar viroses gastrointestinais. 

Diante de sinais de quadro respiratório, como tosse, coriza, febre, espirro e de sintomas de quadro gastrointestinal, como dor abdominal e diarreia, é necessário procurar um serviço de saúde e reduzir o contato social, para impedir a transmissão do vírus. Por se confundir com os sintomas gripais causados pelo coronavírus, uma opção é correr a testagem para o Sars-cov 2 em farmácias e Unidades Básicas de Saúde (UBS), o que não dá aval para deixar o isolamento em caso de resultado negativo. 

O médico ainda destaca que as viroses podem ocorrer outras manifestações como dores musculares, nas articulações e manifestações neurológicas na pele.

Como se proteger dos vírus

De acordo com o especialista, a forma de se proteger nesta temporada de viroses é mudando de comportamento — e retomando as práticas que foram aprendidas com a pandemia da covid-19. O uso de máscaras de proteção (preferencialmente as do tipo PFF2 e KN95) se torna ainda mais importante em ambientes fechados e coletivos, como salas de aula, transporte público e espaços de vivência. Destaca-se a recomendação de evitar aglomerações. 

Para impedir a contaminação dos vírus entéricos, são recomendadas a higienização das mãos, superfícies e alimentos. Também é importante redobrar a atenção ao consumo de comidas e bebidas de origem duvidosa. “É hora de pegar o seu álcool em gel da pandemia, que veio para ficar, e atualizar a carteira de vacinação”, completa Costa. 

A cidade de São Paulo já deu início a campanha de vacinação contra a covid-19, gripe, sarampo e poliomielite, que segue avançando conforme grupo e faixa etária. O imunizante contra o vírus influenza, causador da gripe, está disponível na capital para grávidas e puérperas, além de idosos maiores de 60 anos de idade, trabalhadores da saúde e crianças acima de seis meses e menores de cinco anos. Para acompanhar o andamento da vacinação, acesse o site da prefeitura da cidade de São Paulo ou clique neste link.